O Maior Símbolo do Sincretismo Religioso Brasileiro
Assim meu antigo chefe me definia e eu me divertia. É que na minha mesa tinha um Santo Expedito e também uma imagem da Tara, uma buda feminina. Sempre brinco que de manhã rezo para toda a Liga da Justiça: aos santos que sempre acreditei, para Deus, Jesus, Buda, Tara, quem estiver com a linha desocupada, poderá me atender. Outro dia coloquei no MSN: obrigada Deus, Buda, Krishna, Alá ou qualquer que seja o seu nome. Mamma é incapaz de compreender isto: mas já entendi que não ímporta o nome, o que vale é a fé, os caminhos são ligeiramente diferentes, as técnicas também, mas todos queremos chegar ao mesmo lugar, somente com diferentes definições: estar em paz conosco e com o resto do mundo, feliz. Nisto os budistas têm razão: todos queremos ser felizes e nos livrar do sofrimento. E digo que somos universais nos objetivos espirituais com conhecimento de causa: estudei em escola Adventista, embora nunca fui evangélica - até onde sei foi a particular mais em conta que os pais aqui do bairro encontraram mesmo, conheci a igreja deles, a dos batistas, fui no casamento de dois primos crentes de carteirinha, um deles até tenta nos converter periodicamente (e pensar que este topou ser meu padrinho na católica, mas o que é low profile não, vai entender), estudei mais de ano em centro espírita kardecista, li muito e conversei mais ainda com amigas judias e desde 2004 frequento centro budista. Posso dizer que conheço quase que de tudo um pouco - devo confessar que estou muito a fim de conhecer o Santo Daime que um amigo frequenta e vive me chamando, além de outro local, onde também tomam o tal chá ayhusca onde outra colega vai. Também não posso ver música ou dança de umbanda e candomblé em TV e cinema, me sinto tão tocada, fico arrepiada, quero chorar, sem ter a menor idéia da causa. Digamos que sou uma alma aberta às religiões que impõem menos "não podes". Mas nunca consegui me sentir bem em missa, tinha até gastura, brinco que em outra vida fui queimada na Inquisição. Só que sempre curti igreja vazia e casamento - apesar de todas as burrocracias e custos da católica, sempre achei bonito, emocionante e apesar de tudo, sentia uma benção de Deus lá no meio da coisa toda. Juro que quado comecei os preparativos foi por causa disso tudo, mas o vai e vém de papeladas e o só vai de $, me peguei questionando se queria mesmo aquilo ou se estava fazendo pois todos esperavam que a coisa toda saísse como manda o figurino. Se Deus conseguiria estar presente em meio a tantas exigências e cobranças. Escolhi a capela menos disputada de São Caetano, o vestido na cor que fugia ao clichê branco e era prata, o modelo que não era bolo de noiva, mas justo, as músicas nada lugar comum - ou você vai todo mês a um casório em que a noiva entra com Joe Satriani, o noivo com Fred Mercury e ambos saem com Van Halen? Mas quando a família insistiu em chamar amigos e parentes que só vi 25 anos antes em meu batizado, percebi que era mais a minha cara casar de flor no cabelo, descalça e na praia, mas já estava tão envolvida e encantada pelas minhas únicas tarde e noite de perua, permitidas pela mulher menos vaidosa do mundo - yo, que desencanei e curti. Juro. O dia D é sensacional: a gente fica linda de morrer, só recebe elogio, ganha presente, puxam nosso saco, posa para foto, bebe, dança, come, revê amigos e parentes que gosta, conhece gente que parece super legal provavelmente por já ter álcool acima do permitido nas veias, anda em carro de bacana que provavelmente nunca vai comprar - nada de limusine, que o meu era o Classe A da tia ou qualquer modelo muito parecido com este, pois quase não decoro nome do tipo do automóvel. Pouco tempo depois eu queria uma coisa menos formal e padrão no centro espírita, mas daí o antigo fófis não topou - que casar duas vezes com alguém que nunca sonhou com isso já é pedir demais para um tímido típico! É que no centro em que freqüentava, cada bênção era de um jeito personalizado, DE GRAÇA e sem pompa. Fiquei super curiosa para ver o que os falariam, pois parece que o plano espiritual sempre envia mensagens diferenciadas. Mas enfim, ainda caso de flor na cabeça na beira do mar, dum jeito ecumênico como minha amiga que foi embora para Austrália, só para combinar com meu estilo hippie roots indian cult zen, como me classificou uma colega do trabalho. Mas logo após o oba oba da festança - que sou arroz de festa assumida -cada uma vai para sua casa que saudade faz bem a todo relacionamento, claro, se encontrando de vez em sempre, num modelo de relacionamento melhor impossível.
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