Desabafos de uma jornalista, aspirante a atriz, shiatsuterapeuta e professora de yoga...

terça-feira, março 14, 2006

“Se quiser fazer Deus rir, conte a Ele seus planos”

Não sei que área da minha vida faz mais jus a essa frase do filme Amores Perros, se é a profissional ou amorosa. Só sei que quando penso que sei todas as respostas, a vida vem e muda todas as perguntas. Desculpe, mas dessa vez não pude fugir ao clichê. Aliás, existe vida no jornalismo pra além do lugar-comum?

Acredito que se temos real compreensão da impermanência, simplificada por Lulu Santos em seu clássico “tudo muda o tempo todo no mundo”, não casamos. Pausa para rir. Sempre existe implícita ou explicitamente a ilusão de que tudo continuará como antes, pois a paixão nos deixa com os óculos muito embaçados. Isso não quer dizer que a mudança não seja boa. É um ótimo exercício de paciência, tolerância, desarmar o orgulho e praticar a negociação! E melhorar em qualquer desses itens, vamos e venhamos, faz bem a qualquer prática religiosa ou ética. Nos torna pessoas melhores. Imagine se todos continuássemos recebendo todas as coisas prontas da mamãe até a terceira idade! Seríamos insuportáveis e não conseguiríamos nos tolerar!

E todas aquelas certezas absolutas formadas durante a aborrescência (que graças a Deus, assim como TPM e plantão, terminam), que só te servem para apontar, ainda que em sonho, o dedo no nariz daqueles que amamos, vomitando soluções prontas para situações que nunca vivemos? Essas servem para mostrar a dinâmica da vida: como é maravilhoso mudar de idéia, ligar para aqueles que amamos, contar que sabíamos o que eles não sonhavam e pedir desculpas pois a experiência fez com que não julgássemos mais, nem pensássemos da mesma forma encarcerada em padrões e culpas ancestrais.

Mas o mais surpreendente mesmo é jurar que agiremos de uma determinada forma numa situação e quando passamos por ela, fazemos o oposto. Isso só comprova minha teoria de que estar no poder é como casar: o discurso é um e a prática outra. Minha amiga globalizada sem fronteiras nem raízes como as que me aprisionam a essa terra tupiniquim tem razão: nada causa mais horror que a generalização. Sinal de maturidade, assim espero.

No profissional, a definição certa é tragicomédia: quando tudo indica é hora de sossegar, novidades nos viram do avesso, de ponta-cabeça e obrigam a começar de novo, rever os conceitos, mudar de idéia, redirecionar a rota, alterar os planos, trocar os sonhos, fazer upgrade nas expectativas. De repente, o que parecia tão atraente já não tem mais atrativo algum, ao contrário, causa arrepios e vontade de sair correndo. Que sonho foi esse que se revelou tão diametralmente o oposto do esperado?

Nunca desistimos dos nossos sonhos. Mas, grazie a Dio, mudamos! E eles acompanham nossas novas formas de ver a vida, encarar as pessoas, projetar o futuro, batalhar pelo nosso espaço e correr atrás do que realmente vale a pena. Veríssimo tem razão: “não confunda sua carreira com a sua vida”. E anos depois de vislumbrar um futuro workaholic para mim, me pego respondendo numa pesquisa de perfil de leitor duma famosa editora que questiona quais meus sonhos: “crescer espiritualmente”. A grande meta agora é tornar minha felicidade independente dos fatores externos. E rumo ao caminho do meio, agora e sempre!