Desabafos de uma jornalista, aspirante a atriz, shiatsuterapeuta e professora de yoga...

quinta-feira, maio 25, 2006

R$ 1.99

Era um meio de semana cinzento, desses em o stress insano do trabalho provoca uma epidemia de profissionais cutucando suas gastrites anonimamente, até a hora de por o pé na rua e chorar as pitangas – pros amigos ou pro vento mesmo, tanto faz. Um convite para uma peça surge como uma luz no fim do túnel. Como era dia de botar os bichos pra fora na aula de pilates na bola, a empreitada é encarada com má vontade, mais ainda pelo trânsito encontrado naquele fluxo “quarta-feira é dia de jogo imperdível”.

Quão grata foi a surpresa de chegar no Teatro Folha d Shopping Higienópolis e assistir o baiano Ricardo Castro no monólogo R$ 1.99, que dosa muito bem momentos de risada e descontração com reflexão e sutil estocada nos previsíveis e insistentes problemas brasileiros. E pensar que ele fez tudo sozinho: escreveu, produziu, iluminou, ensaiou... Tudo com a intenção de fazer poucas apresentações a preços módicos e ir embora para Barcelona, cansado que estava de abrir a geladeira e só encontrar “vento”.

Mas artista brasileiro é tão guerreiro e a peça deu tão certo que está em cartaz há sete anos e segundo o ator, foram as melhores surpresa e presente que poderia receber. Claro, o ingresso já não está tão barato – R$ 13, se não me falha a memória, mas a julgar pela qualidade do espetáculo, é uma bagatela e tanto. Poucos momentos são tão encantadores quanto esquecer da vida no teatro – tanto no palco, quanto na platéia - e deixa-se hipnotizar com a mesma pessoa dando o texto de forma não mecanizada, se movimentando pelo palco, subindo o som, mudando a luz...

Castro é multimídia, globalizado, multifacetado, tem jogo de cintura como poucos. E soube como brasileiro que é e não desiste nunca, fazer da dificuldade uma alavanca – que entretém e faz pensar, que não permite que os expectadores saiam da platéia como entraram. Ok, confesso: como a irmã de um amigo fez o figurino dele, a noitada terminou em grande estilo no Sujinho – mas essa ode ao ator não vem do fato de que ele ainda por cima é gente boa. Vem da causa justa que teatro bom merece ser aplaudido. E feito por anônimos – quero dizer não globais – merece palmas em pé.