Como não enlouquecer no trânsito
A minharevista de cabeceira, Vida Simples, já fez uma matéria sobre isso: como evitar que os congestionamentos nos enviem direto para o hospício sem escalas. E até há três semanas atrás não tinha o que acrescentar às dicas deles: ir ao banheiro antes de se meter no carro para não passar mal de vontade quando tudo empacar, manter barrinhas de cereal e água no veículo para que o estômago ou a boca seca não sejam um problema a mais etc etc. Mas há 15 dias tenho testado e comprovado a eficácia de um método que eles não indicavam, mas só vale para budistas e/ou simpatizantes. Há poucos meses me comprometi a acumular 200 mil mantras com o Odsal Ling, o centro budista que frequento e me salvou da minha tendência hereditária e profissional à revolta, frustração e decepção - sim, fazer o quê, meu pai só tinha defeitos para me enviar e no jornalismo mantemos o péssimo hábito da crítica engessada, que nada faz pela melhora. Quem me conhece sabe que seria uma meta impossível: como conciliar a recitação de tantos Om Ah Hung Vajra Guru Pema Sidi Hung com a yoga tibetana, o pilates na bola, as caminhadas, a ginástica aeróbica, a terapia, o técnico de shiatsu e acupuntura e o trabalho novo? Descobri uma saída e tanto para esse impasse: no trânsito e durante as horas de caminhadas semanais, vou recitando e contando com o mala, o terço budista. Outro dia meu pai disse que não dá para fazer isso, mas ora bolas, ele fuma, então também dirige com uma mão só. É bem verdade que dei uma ralada num motoqueiro na semana passada, mas já fiz coisa pior sem um mala na mão e um mantra na boca. Acho que se tiver que bater ou ralar, acontecerá com ou sem a recitação e na verdade cada vez mais acredito que ela me proteja. Já enrosquei o mala no voltante durante uma manobra. Mas tudo isso só me rendeu risadas mesmo. E a mente já não é a mesma. Posso ser xingada, provocada, ver gestos obscenos feitos com as mãos dos outros motoristas e NÃO SINTO VONTADE DE REVIDAR. Agradeço, mando beijo, me mantenho cada vez mais zen e menos descompensada. Não fófis, definitivamente não posso mais ser considerada a pessoa mais ansiosa que você já conheceu. Todos os estressados que encontro nem mesmo me abalam!! Ok, confesso que no dia em que um caminhão de gás tombou na Marginal e levei três horas do Ipiranga ao Brooklin, alternei estourar e respirar fundo várias vezes. Mas acho que mereço um desconto, afinal eu geralmente levo de 30 a 40 minutos e cheguei a terminar de ler Dalai Lama Fala de Jesus no Imundo Móvel, quero dizer, no meu Palio que já foi cinza... E nessa época, ainda não usava a recitação de mantras como antídoto... Valeu pessoal do Odsal, a coisa toda funciona mesmo e eu era o maior São Thomé do pedaço - sabe como é jornalista, cético feito sei lá o que... Estou começando a concordar com minha amiga praticamente irmã que esse blog precisa urgentemente mudar de nome, não combina mais comigo.
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