Desabafos de uma jornalista, aspirante a atriz, shiatsuterapeuta e professora de yoga...

sexta-feira, julho 18, 2008

Sobre como chegar bem humorada numa manhã sonolenta de trabalho

Faça mais amor e menos sexo. Baixe o freio de mão e tenha menos medo. Confie mais e diminua as dúvidas. Peça mais e mande menos. Faça seu melhor independente dos parceiros de trabalho colaborarem. Tome mais sorvete e suba menos na balança. Caminhe mais e fuja do ônibus ou carro parado. Durma menos e nade mais. Sinta-se mais ridículo e julgue menos. Pise no pé de um professor de dança, mas não se convença de que não gosta ou não sabe. Acompanhe a 3ª idade numa hidroginástica e fique menos atrás da TV. Estude o que ama, não o que dá dinheiro. Agradeça mais e peça menos. Vá de peito aberto e crie menos expectativa. Ande mais descalço e não se importe em sujar o pé. Permita-se rir como na infância e coma menos as unhas. Leia poesia e não auto-ajuda para aspirantes a executivos. Escreva uma história que encha o coração, não pretenda publicar um best seller. Deixe que o cinema e o teatro te façam pensar, aprender ou te toquem, não saia dessas salas escuras do mesmo jeito que entrou. Estude uma língua pouco manjada, não conquiste o certificado Toefl. Engaje-se numa causa, não acredite que nada pode ser feito. Procure sua turma, não bote fé que não estará “em casa” entre nenhuma tribo. Faça o que ama, não o que rende o carro do ano, a cobertura dos sonhos e as aparências de uma pseudo felicidade vazia. Descubra um restaurante com ar de cozinha da avó, não um que constranja quem não sabe que talher usar. Encare um bolinho de chuva e conte menos as calorias. Tome mais chuva e carregue menos capa contra água imprevista. Corra para o sol no inverno e se esqueça na sombra no verão, tenha menos saudade da estação seguinte ou anterior. Dê mais flores e menos vale-presente. Ouça mais música artesanal, regional e de raiz e menos as mais tocadas. Faça uma caricatura e jogue o esquadro e a régua para escanteio. Arrisque a tragicomédia, não o entretenimento barato. Dance como se ninguém estivesse vendo, não restrinja sua criatividade corporal. Medite e ouça mais Deus, peça menos pela loteria, título de time campeão ou contas no azul.

De manhã abençoada

O bom humor dela entrou como um acinte
no escritório de sérios e sem graça
A ponto do diretor admitir a inveja branca:
- Queria ser assim logo cedo.
E das risadas de colegas admitindo sentir
o que só ele verbalizou abafarem seu conselho espontâneo:
- Namore mais então!

Não resiste à tentação e ouve o CD
disfarçando com fone de ouvido
a Hilda Hilst e Zeca Baleiro
violentado o ambiente corporativo

Almoça onde se conheceram
se desculpa com a caixa ou dona - não sabe ainda
de tanta queixa pelas etiquetas tão pouco fiéis
aos pratos do quilo com sabor de comida da mãe
conta que lá conheceu um encantador homem das letras

Carrega no pescoço o meio terço meio colar
feito pela cantora que o produziu recitando mantra
e abençoando a noite perfeita do primeiro sarau dela
Duas vezes vermelha de timidez na mesma semana - raridade!

Uma pela declaração ao vivo e a cores
Entre músicos, poetas e cantores - onde se sentiu voltando
para uma casa nova, inacreditavelmente familiar!
E também pela trilha sonora da manhã abençoada
ganha antes do horário comercial

Suspira sonhando com a publicação dessa troca de versos
tem medo quando admite sonhar em se casar num sarau
E ri certa de sua pretensão de que é a única bem amada da empresa
agradece a cada santinho pendurado no pescoço
a volta da escritora poeta inspirada adormecida.

Francine Machado