Desabafos de uma jornalista, aspirante a atriz, shiatsuterapeuta e professora de yoga...

terça-feira, junho 28, 2005

As coisas que mais odeio nessa vida

Há várias coisas que me irritam, mas há duas que realmente odeio nessa vida: cozinhar e estacionar. Dá para passar por essa encarnação sem ter que aprender nem um e nem outro? Agradecido... Acho lindo quem gosta e faz bem, mas defitivamente não é minha praia. Cozinhar leva muiiito tempo de trabalho e a curtição acaba em minutos, muitas vezes sem um elogio! É mais frustante que os longos ensaios teatrais e a rápida temporada da peça. Sou incapaz de coordenar quatro bocas de fogão. Admiro as cozinheiras de mão cheia que pilotam seis bocas! Como minhas tias! Juro que um dos meus 3292383 sonhos é ter um restaurante como o indiano Gopala Prasada ou o quilo japonês Asia House perto do metrô Consolação na Paulista. Muito poucas coisas me dão tanto gosto de comer como culinária indiana e japonesa. Mas preparar é o que há de mais mala! Sou incapaz de experimentar coisas sendo feitas, sempre acho que estão horríveis pq não estão prontas e desando qualquer prato. A vida inteira tirei sarro que quando casasse meu marido só me pediria para cozinhar uma vez e depois imploraria para desistir da idéia. É praticamente isso que aconteceu. Hoje quando entro na cozinha o Super Pé, novo apelido criado para meu namorido por razões óbvias, pede para por a mesa, fazer um suco e cair fora rápido. Não dava para competir: ele é filho de baiana, tem o tempero no sangue, faz as coisas no olho pela primeira vez e saem boas, algumas nem chega a experimentar. Quando ele me pedia para por Sazon, pimental, sal, sei lá mais o que, sempre achava que ficaria temperado demais e era tão comedida com os temperos que fica com gosto de canto de mesa. Intragável. Até para quem fez. Adoro chamar os amigos e parentes para comer em casa, mas quem dá show na cozinha é ele mesmo que sou uma negação com panelas e afins. Mas ultimamente temos pedido pizza e congêneres pq até ele que faz bem anda com uma preguí... Defitivamente alguém que não ama comer nunca será uma boa cozinheira. E estacionar é minha segunda bronca. Deve ser pq ñ tenho carro com direção hidráulica. E toda vez que tenho q encaixar meu Palio mil numa vaga qualquer é um suadouro digno de vários minutos de esteira. Gosto de dirigir, mas como a maior parte das pessoas que conheço odeio pegar trânsito quando tenho hora para chegar em qualquer lugar, procurar vaga e estacionar. Grosserias no trânsito já sublimei, tanto que agradeço e mando beijo, nem me altero mais. Tanto que como diz o moço que vive comigo e tem dificuldades de encontrar sapatos número 45, apesar de dirigir continuo "pedestre": sempre estaciono lá nos cafundós do Judas para não ter que fazer a odiosa baliza. Se posso paro perto do metrô e vou com o único transporte público que funciona bem em Sampa. Além de não me irritar, ainda evito engarrafamentos e não contribuo para a poluição do meio ambiente. Tenho claustrofobia de estacionamentos tipo os do shopping, que têm mais pilares que carros, que temos q subir ou descer muito até poder nos livrar do incômodo de guardar o bendito numa vaga apertada como danceteria no auge da fama. Se não tenho a opção de parar perto do metrô ou longe o suficiente para não ter que manobrar muito, coloco nesses estacionamentos pequenos, a céu aberto, sem sobe e desce e pilares. Além de ser menos sofrido, esses pequenos estacionamentos precisam mais de nosso suado dinheiro que as grandes redes e ainda oferecem a opção de largar na mão do manobrista/atendente quando estamos com pressa. Sim pq nesses até eu estaciono! Já consegui fazer balizas invejáveis e pratos razoáveis. Já provei para mim e alguns poucos sortudos que não é falta de capacidade. Agora que recuso a repetir essas árduas tarefas. Cozinhar e estacionar agora só com revólver na orelha ou sob tortura!

Micos de retorno ao batente

Grazie a Dio voltei ao trabalho com um recorde de um mês de 22 dias desempregada. E já estou pagando uns micos básicos. O computador, que achei q ñ tinha memória tinha uma vaga lembrança, me impede de ser a pessoa ligada no 220 V que a maioria conhece, mas que a empresa nova ainda não. Depois me informaram que ele tem memória mas na verdade o processador é que é um aspirante a computador. Hoje passei a manhã tentando escrever um press release mas a gente solicita e ele processa muiiiito tempo depois. Só consegui escrever quando o chefe foi almoçar e usei o computador dele. À tarde também só consegui fazer uns resumos pq uma colega desocupou o computador dela. No primeiro dia derrubei meu único batom que não tem cor de mulher da difícil vida fácil na privada e tive que jogá-lo fora. Não dava para limpar o dito cujo e usar de novo né! O bairro do Pacaembu é lindo. Já me basta morar num lugar feio tenho que trabalhar num lugar bonito!

sexta-feira, junho 17, 2005

Mulher às Avessas

Definitivamente não sou uma mulher típica. Devo ter criado por minha conta o programa Vaidade Zero. Sou uma das poucas adeptas do sexo feminino. Quando estou no meio da rua a caminho de um evento importante, me lembro que um batom cai bem, tira a palidez do bronzeado Branca de Neve e passo correndo. Uma vez na vida e outra na morte me maquio pra valer e daí é engraçado pq causo furor. Imagino que minha amigas que vivem bonitas, aprumadas e arrumadas nunca ouvem: "ficou muito bom! Devia se produzir mais!". Um pouco é por descuido meu mesmo, mas também existe uma incapacidade das pessoas que usam óculos e não podem substituir o dito cujo por uma lente. Com o óculos é uma missão impossível passar rímel e afins pela barreira física que ele impõe e quando a gente tira, o olho se torna uma pintura de Monet, o que impede qualquer um de delinear essa parte do rosto. Não gosto de jóias. Insisto para não me darem quando sugerem de presente, pq perco mesmo. Mas adoro uma bijuteria! O problema é que sempre tiro para dormir e esqueço de por de novo. Então vivo meio cara lavada demais mesmo. Os meus perfumes duram séculos e espantam as colegas que "bebem frascos" desses cheirinhos irresistíveis rapidamente. Tomei bronca de uma amiga capaz de se maquiar numa lotação que pula feito boi de rodeio por deixar meu batom acabar para comprar outro. Compro bons shampus e condicionadores, até pq não tenho um cabelo natureba, mas deve fazer décadas que não faço um banho de creme. Passo uns hidratantes razoáveis, de supermercado, nada de Lâncome, mas esses também duram muito... O máximo de cuidado que tomo comigo é o protetor solar de manipulação, que nessa altura do campeonato já tem anti idade. Isso por ter assumido meu bronze escritório que dá menos trabalho. Nessa semana me diverti pq comprei umas unhas postiças para parar de roer as originais, seguindo conselho de uma tia quase perua. Depois que colei a dita cuja, me senti uma inválida! Tarefas prosaicas como digitar, tirar a calcinha do fiofó, tomar um danone, trocar de roupa, encontrar bugingangas na bolsa, preparar uma comida qualquer, ler um livro se tornaram impossíveis. Como tem gente que mantém um visual de Zé do Caixão e toca a vida trivial normalmente? Dei graças a Deus quando elas caíram durante a noite. E ao final dessa semana já contabilizo duas unhas a mais roídas. Será que nunca realizarei meu sonho de pintar as tais unhas francesas?

quinta-feira, junho 09, 2005

A Vida Secreta dos Dentistas

Vi tanto esse trailer nos cinemas que passam filme lado B, será que desistiram de passar? Hoje tive que fazer uma limpeza semestral básica, mas como o doutor é namorido da minha melhor amiga, invariavelmente sempre fico com vergonha dele limpar minha boca cheia de tártaro. Sei que é um mal necessário, saio do consultório com tanta sensaçào de limpeza que passo até fome para não quebrar o encanto. Mas para piorar o vexame que passo de seis em seis meses, dessa vez tinha até cárie! Céus! Não faço uma obturação há 20 anos, desde que minha mãe começou a trabalhar e eu aproveitei o fato de que a velhinha que cuidava de mim e de mais duas netas, não tinha tempo de me mandar escovar os dentes para deixar essa tarefa "pra lá". Nem quando terminei minha penitência de usar todos os aparelhos fixos e móveis possíveis passei por esse mico. Sim, sou o maior lucro da indústria ortodôntica! Usei desde o fixo que tanto mané quer por até aquele que sai da boca e é preso atrás da cabeça e tem um ar de cabresto. Era tão medonho que só dava para por à noite e ainda tinha que se cobrir escondendo a cabeça, para não assustar ninguém de madrugada... Sei que tenho culpa no cartório, pois chupei dedo até os sete anos se não me falha a memória. Posso não ter cinturinha de pilão, mas meus dedões têm!Quando hoje ouço receitas mágicas para não roer mais a unha, confesso que nào será fácil pois já chupei dedo com pimenta, fita crepe, fita isolante, o escambau! Minha colega de Canal Rural tinha razão, ainda não devo ter saído da fase oral. Na infância ir ao dentista era mais lúdico: tinha tantos bichinhos e adesivos espalhados pelos equipamentos e pelo consultório, que nunca notei como tapar uma pequena cárie dá uma sensação de canteiro de obra na boca. Lembra na praia quando tínhamos a sensação de areia por toda a parte, até na boca? Igualzinho! Já aconselhei meu amigo a pendurar umas fotos de gostosões e gostosonas para os adultos se distraírem durante os procedimentos e nem verem o tempo passar. Outra sensação recorrente é que parte da sua boca e dos lábios ficam tão secos quanto o sertão do Nordeste! Eta sugador porreta! Mas o mais chato de tudo é não poder falar nada quando o dentista faz mil perguntas e todos os equipamentos do consultório encontram-se na nossa boca! Ele pode falar bem do Maluf que não poderei subir em cima do palanque e me posicionar. Que adianta ir no dentista amigo camarada se não dá para por a prosa em dia? Tão divertido quanto pescar com um monte de homens com varas na mão pedindo silêncio: "Shhiiu!!"

I'm sorry, serei Branca de Neve forever

Já ouviu falar de complexo de Branca de Neve? Acontece com pessoas cuja pele é tão branca que mesmo com muito sol, o máximo que conseguem é arder, descascar, doer, enfim ficar um pimentão. Sempre brinco com meus amigos que também sofro de racismo, quando ouço: "pq você não fica mais moreninha?" Pelo mesmo motivo que meus amigos com bronze do tipo garoto propaganda do álcool Zulu não ficam mais branquinhos. É uma tipo de pele que deve ser devolvida como foi emprestada, sem direito a variações ao longo da vida. Nada mais irritante que depois de dar essa explicação, ter que ouvir uma longa instrução de quem nunca teve pele do tipo bicho de goiaba: "ah, muda sim, é só você tomar sol aos poucos, aumentar o tempo de exposição diariamente, sempre fora dos horários em que está mais forte, passando sei lá o que". HELLO! Acham que nunca tentei isso? Será que não ocorre que é claro que "treinei" com o sonho de ser morena jambo, que nesse país ser muito branca e sem bum bum é uma dupla ofensa nacional? Não queridos, há peles que nunca mudam, a muito branca e a negra são duas delas. As pessoas que são morena clara acham que o funciona para elas pegarem uma cor funciona para as muito brancas! Se forçar a amizade com o Sol o máximo que posso conseguir é ficar "beginha", daé melhor deixar como está mesmo! É verdade que não tenho Phd em dermatologia, mas de pele tipo papel entendo muito bem, afinal são 27 anos de experiência. Sei o que é ir para a praia com o sol se pondo, escondido, em dia nublado, crente que não é preciso protetor solar pois "o astro rei já está indo embora" e passar dias sem conseguir por qualquer roupa, só passando Maizena para arder menos. Sei o que é achar que protetor de farmácia é como os de manipulação, um creme tão bom que uma gota dá conta de proteger uma área grande e depois não aguentar o peso de uma seda em cima. Sei o que é se besuntar, convicta de que todo o corpo está protegido e sempre esquecer alguma parte dele, que depois se apresenta em forma de tiras finas ou figuras vermelhas sem formato definido. Acho que só nós que já ficamos com bronzeado do tom ralado de joelho, acreditamos quando lemos ou ouvimos que o sol faz mal. Quem pega uma cor, acha que a gente exagera. Demorei mas aprendi que tudo o que a gente assume fica mais bonito do que forçar a barra para ser o que não somos, desde bronzeado escritório até cabelo ruim. Praticamente todo mundo nesse país é moreno ou negro, alguém tinha que ser diferente! Não tomar sol é a única explicação que encontro para as pessoas sempre me darem menos idade que tenho pois não tenho grana para cremes famosos. Humm... O fato do meu queixo e da minha testa insistirem em não sair da aborrescência com as espinhas teimosas também deve contribuir. Só sei que ficar na sombra não arde, não descasca, não dói e não dá câncer de pele... Tão mais fácil!

Meu pai, essa caricatura

Meu pai é triste de agüentar, mas tenho que reconhecer que ele é uma comédia. Quando criança amava desenhar e dizia que trabalharia para o Maurício de Souza, tinha traço de HQ, mas meu pai me traumatizou me matriculando num curso de desenho técnico em que tinha que usar esquadro e régua! Via as crianças que caíam serem consoladas pelos pais e não entendia pq tinha que me levantar correndo quando me esborrachava no chão sem abrir a boca, mesmo com sangue pingando, para “não ganhar motivo para chorar de verdade”. Papai era capaz de me esfolar quando simplesmente dizia que não queria comer, pq raios, ainda como igual passarinho, apesar de todos os esforços de mamãe para que comesse de tudo. Ele é a pessoa mais contemplativa da face da terra. É capaz de andar como uma lesma na Marginal só para admirar uma espécie qualquer de pássaro que tenha cruzado o caminho, mesmo com tantas buzinas e xingamentos de motoristas tentando andar rápido. É também o mais irritadiço dos seres. Mas só com coisas tolas, que nas graves ele não se altera. Lembro de quando vovô, o pai dele, estava no hospital, entre a vida e a morte, ligaram dizendo que não passaria daquela madrugada, eu e a mamma perguntamos se queria ir até lá passar as últimas horas com ele, mas o patriarca não se alterou, voltou para a cama, dormiu, só foi mesmo quando o velório já estava rolando... Em compensação uma das cenas que guardo do meu casamento é que quando a mestre de cerimônia botou todos os padrinhos para dentro e nos fechou para fora, tive medo que os convidados ouvissem o ariano típico reclamando: “Abre essa m... Não agüento essa p... desse frio!” E naquele dia, em que eu não enxergava nada pois estava sem óculos e não posso usar lentes, quis pela primeira vez fazer o percurso de forma lenta e devagar para ver se identificava alguém, mas ele desembestou a andar rápido como nunca vi e como casei numa capelinha, foi mais rápido do que gostaria a grande noite. Sempre tive dificuldades com lento e devagar no teatro... Papai é tão lerdo, que a piada no bairro é que quando ele oferece carona, as pessoas agradecem: “obrigada, mas estou com pressa”. Ele foi capaz de dizer palavrões na minha orelha a vida toda, mas tem a cara de pau de perguntar hoje “com quem aprendi a falar tanta besteira”, sendo que sou filha única e minha mãe não fala. Parecemos dois rinocerontes tentando fazer carinho: um coice, um cafuné. Ele sempre me enganou com seus comentários racistas que me faziam subir no palanque e discursar pela igualdade, mas quando foi para Bahia e voltou com um CD de capoeira, percebi que como tantos que me conhecem, só fazia para me provocar. O tratamento mais carinhoso que me confere é “sua besta”. Já tivemos discussões telefônicas homéricas capazes de fazer corar colegas de trabalho, que não acreditavam que “falava com meu pai daquele jeito”. Hoje entendo quando minhas tias diziam que eu só poderia dar o que recebi e definitivamente sempre fomos estúpidos um com o outro. Mas nunca dura mais que cinco minutos, depois já estamos agarrados. Sempre que choro nas entressafras de desemprego, ele diz que me avisou para ser engenheira ou médica, mas quem mandou fazer jornalismo... Já disse que até ele deve escrever igual ou melhor que eu, no melhor estilo qualquer um escreve!. Acha que depois de anos teimando nessa área devo desistir e fazer concurso para bilheteiro do metrô. Mas por essas e outras impublicáveis, fiquei super feliz ontem, quando eu disse que qualquer coisa em exatas ou biológicas davam retorno mais líquido e certo que humanas ou artísticas e ouvi dele: “mas fazer o que se você não tinha dom nem para uma coisa e nem para outra?” E ele ainda me levou para namorar uma Yamaha Neo, mesmo sabendo que ainda tenho que evoluir do estágio de parar de cair na calçada esburacada! Esse é o meu pai. Um cavalo doce. E eu não poderia ter me tornado outra coisa a não ser uma égua meiga!

Caminhada da Paz do Heliópolis

Depois de anos sem conseguir comparecer, sempre trancafiada em trabalhos que jamais entenderiam como é importante participar ativamente na comunidade em que vivemos, finalmente estive na sétima caminhada pela paz no Heliópolis. Foi ótimo! Adoro muvuca! Reencontrei colegas e amigos feitos em anos como voluntária de incentivo de leitura no Amigos da Escola, apoio moral e de divulgação do projeto de TV comunitária Cidade do Sol e dando palestras e aulas de redação voluntária no Educafro numa escola municipal em que sinto em casa. Não sei como não choveu com a Record fazendo matéria sem ser pinga-sangue. Até tentei conferir na telinha depois, mas não consegui. será que derrubaram? Muito pouco sensacionalista para o estilo dele... Eu adoraria ser uma profissional da comunicação muito mais ativa com as novidades daqui, mas ao que parece o Helipa é tão rico em pautas que nada mais supérfluo que uma jornalista por aqui. Dizem as lendas urbanas que foi preciso pedir autorização aos traficantes para fazer o link onde a TV escolheu. Qual a razão de conhecermos os nomes dos chefões do tráfico do Rio e nem desconfiarmos quais são em Sampa? Vai ver os paulistanos não tem assessorias de imprensa... Bacana ver tudo que é escola e ONG local unida na mesma criação da cultura de paz! Andei muito! Fazia tempo que não entrava na favela. Tem uns antigos barracos que estão uma graça, por causa de um projeto de revitalização da Suvinil e Ruy Otake. Uma carinha de Vila Madalena! Eu sei, estou forçando mas se pintarmos a maior parte dos barracos em cores quentes e vivas, mudaremos a cara disso aqui! Por favor empresa de tintas e arquiteto famoso continuem! Por falar nesse badalado bairro da zona oeste onde moram os jornalistas que não podendo, foi inaugurado o mosaico da paz em formato de sol e com azulejos pintados por todos nós. Ainda não procurei o meu, mas sei que depois da queima no forno as cores mudam. Se bem que coloquei meu nome... Ficou uma graça! Quanta sede que dá uma hora e quarenta minutos de caminhada! Grazzie a Dio minhas alunas me salvaram. Uns assumidíssimos lá do miolo da favela me fizeram descobrir que deve haver umas três categorias de gays: os que parecem homens, os que querem ser mais femininos que nós sem mudar completamente a aparência e os que mudam totalmente a aparência. A categoria intermediária costuma render ótimos estilistas pois são os mais fashion da paróquia. Por falar nela, descobri que o sucessor do padre Benno, que ficou na região por 50 anos, é novo, uma graça. Dá até vontade de ir à missa! Já passou, já passou! Irônico que a caminhada da paz tenha passado por centros comunitários de igrejas evangélicas em que as crianças nos acenavam presas lá dentro. Acho que esse trabalhão que dura 4 meses surtiu efeito quando vi o pessoal não se estressar com motorista grosso reclamando do trânsito que causamos: "somos da paz". Que a gente se mantenha assim. Dei minha bandeirinha e girassol para os menininhos que me pediram no caminho. Ficou o broche de sol/girassol. Admiro tanto o trabalho da professora de educação artística que dá aulas e tem um grupo de teatro! Teria sido mais feliz se estivesse numa profissão mais humana e menos business? Se fosse atriz? Desenhista?

Ninguém pode saber

Não quero bancar a crítica de cinema e sei que meu estado de espírito não tem ajudado nada a ver filmes vagamente melancólicos. Mas estava com saudade de filme asiático e aquele jeito nada óbvio deles contarem histórias que os ocidentais não avaliaram como boas para um longa, mas que eles sabem como ninguém fazer isso. Já vou avisando quem não curte saber boa parte do filme, páre por aqui sem me culpar e só leia se não for ver, mas a história da mãe que esconde que tem 4 filhos por causa do senhorio não começou a me deprimir na sinopse. Só na hora em que suspeitamos que ela não voltará e torcemos para que a polícia ou o juizado de menores nipônico apareça o quanto antes. Mas o que mais me deu angústia foi uma menininha morrer antes da desgraçada da mãe aparecer e os coitados dos irmãos duros a enterrarem em uma mala às escondidas! Depois fiquei pensando no aviso do começo que alertava que a história era inspirada em fatos reais ocorridos em Tóquio e que os personagens e os detalhes eram fictícios. Será que o enterro da meninina adorável é um detalhe? Acabou feito filme francês: no ar. O que custava dizer o que aconteceu na história real que inspirou o filme? Que meda! Fiquei maus!

terça-feira, junho 07, 2005

A Dor Universal da Morte do Amor Alheio

Soube há pouco tempo que três colegas da faculdade se separaram de amores aparentemente duradouros e como sempre fiquei deprê. A cada fim de uma longa relação conhecida sinto o que chamo de dor universal da morte do amor alheio. Como aposto junto com todos os que gosto em seus namoros e casamentos, quando um não "vinga", me põe "de pensamento", como diria a filha de um amigo quando é colocada para "refletir sobre o que fez" na escolinha. Cada relação que termina me traz uma coisa ruim por me obrigar a pensar na finitude de tudo o que é bom e temer também pela minha história de amor, pois custa-me a crer que tudo tenha um começo, meio e fim, como aprendo no Budismo, mas nunca quero aplicar isso às minhas coisas boas... Entendo que as pessoas não suportem que a rotina de se divertir sempre e de vez em quando resolver um problema do namoro seja insuportável quando passe para a desproporção resolver um problema sempre e de vez em quando se divertir no casamento. Mas como sou brasileira e não desisto nunca, continuo pagando para ver. Sonhando em ser uma das exceções das quais são feitas as novelas.

sexta-feira, junho 03, 2005

Jornalista Psicossomática

Adorei essa definição, recebida por uma amiga e publicitária esses dias. Quer algo mais verdadeiro que jornalista psicossomática? Melhor que isso só meu amigo que me chama de verborrágica. Escrevo para dizer que após meses de terapia, cheguei a uma conclusão deprê: "quando descobrimos que quanto mais cultura temos, mais enlouquecemos, não temos idéia de como nos livrarmos dela e voltarmos a ser instintivos". Essa é em homenagem ao meu querido terapeuta pois cheguei à mesma conclusão que ele...

Cupido Gay

Parece novela das oito, mas infelizmente não é. No último fim de semana, fiz minha estréia como cupido gay. Meu amigo "Inteligente é a Mãe" me perguntou há pouco tempo se tinha amigos bonitos para apresentar. Já havíamos dado juntos nosso sangue, suor e lágrimas a um dos patrões exploradores que nos tiraram o couro pela vida afora e fiquei feliz por dividirmos coisas mais importantes que picuinhas de trabalho. Indiquei uns amigos "entendidos" que estavam no meu Orkut e bancava pela primeira vez o cupido gay. "Inteligente é a Mãe" escolheu Rafael, que como nas matérias da Nova, Claudia e Marie Claire, tem sua identidade preservada por motivos óbvios. Chequei se o Rafael também gostava dele, pois sei que apesar do gosto diferente, homens e gays são todos iguais num ponto: beleza põe sim a mesa. De ambos os lados houve um interesse mútuo e me diverti muito apresentando os dois primeiro no MSN. Deixei a conversa rolar solta e saí de fininho, que deve ser o que se espera de uma "vela virtual". Marcamos um encontro em casa, já que todos tinham boas idéias dramatúrgicas e vontade de meter as caras e voltar para os palcos. Pode ser que terceiras intenções já estivessem no ar nessa noite, mas minha intuição definitivamente não é lá essas coisas. É, marido de jornalista e aspirante a atriz tem que ser um dos caras mais modernos do mundo mesmo! Até soltei meu lado prendado esse dia, fazendo muffins. Dois dias depois os dois jogavam o maior verde um para o outro no MSN, telefone e até um café da tarde básico para o tal grupo promissor de teatro amador que ainda não saiu do papel. As perspectivas pareciam promissoras. Qual não foi a minha surpresa quando "Inteligente é a Mãe" deixou Rafael na rua da amargura e eu chocadíssima, dizendo que não podia se envolver naquele momento, que tinha muitas coisas para resolver, que sua vida não comportava um relacionamento, que não estava preparado para uma relação... Céus! Quem é que está preparado para uma relação seja lá qual for! Onde foi que eu errei? Pensei que pessoas que se gostam mas não podem ficar juntas por força do destino só existissem na novela das 8! Cáspita! O que pode ser mais importante que arriscar amar e ser amado? Como alguém pede para agitar outra pessoa e pula do barco antes dele zarpar? Estou tão traumatizada que não banco o cupido tão cedo, gay ou hetero! Amigos e colegas, rezem paa Santo Antônio! Que a cupido aqui está de licença por tempo indeterminado...

Ser filha única é meu carma

Sei que essa ladainha é recorrente mas ser filha única é um dos meus carmas. O outro é ser jornalista mesmo, mas daí fui eu que escolhi, agora agüenta! Pensando bem, meu coração disse que seria isso ou mais nada pois Deus não me deu talentos suficientes para escolher o mais rentativo. E os outros eram ser desenhista ou atriz. Definitivamente desta encarnação não saio rica. Mas enfim, sempre digo que ser filha única é um carma. Antigamente queria bater em quem dizia que era tudo para mim. Hoje dou risada e explico como professora de pré primário: "mas é tudo mesmo, todas as expectativas, cobranças e preocupações". É que o tal lado bom de ser a única não passou por aqui não. Nunca tive tudo o pedi ou fui mimada, sempre tive que aguardar Dia das Crianças, Natal ou aniversário e ainda negociar pois sempre teve presente que nunca coube no orçamento doméstico. Mas esseé um ponto positivo dos coroas que rezo para repetir em casa. Hoje vejo a criançada, filha única ou não, ganhar presente a cada respirada. Nós, os únicos rebentos não podemos dar errado na vida, pois não há um irmão para os pais respirarem aliviados "o Fulano desandou, mas o Beltrano, graças a Deus...". Teremos que dar um jeito de ganhar bem, pois convênio de terceira idade é uma facada e não tem irmãos para passar o chapéu na hora da conta. Meu marido não pega no meu pé. Quando está cansado ou sem grana, não freia meu pique 220 V e diz: "vai você". E eu vou quando a vontade é muita, mas minha mãe me patrulha, liga zilhares de vezes, acha um absurdo sair sem ele... Não conseguimos cortar o cordão umbilical nunca. E ainda por cima moro no prédio ao lado. Foi um meio um presente de grego do pai... Minha mãe reclama que não ligo, mas ela telefona tanto que minha vida nào produz novidades suficientes para atender sua demanda e nem sobra espaço para eu ligar de vez em quando! E as preocupações? Apesar de morar num condomínio fechado, que parece cidade do interior, quando era criança e brincava na rua, ela vinha toda hora pedir para entrar "pq estava escurecendo". Quando era aborrescente e ficava na rua ouvindo meu atual cunhado tocar violão, ela ia pedir para entrar "pq já estava ficando tarde". Nunca tive chance de mentir pq meu pai era o maior Jarbas, levava e buscava toda a turma para cima e para baixo em todos os programas. Por essas e outras admiro minha amiga que também tem esse carma, está se casando e se mudará para o outro lado do mundo, na terra dos cangurus. Quem sabe se tivésse coragem e fazer o mesmo, cortava o cordão umbilical? Mais essa: a família do meu pai que se reúne tudo que é fim de semana e feriado me tornou a pessoa mais apegada do mundo, incapaz de me mudar de cidade, que dirá de estado ou país? É, só me resta dar certo na vida. Pois na hora do aperto não terei irmão para pedir emprestado, como meu pai e sua meia dúzia de intrépida trupe. Sei que tem irmãos que brigam pela vida afora. Mas prefiro acreditar que a maioria cresce e pára de brigar, se torna companheiro na marra. Que a maioria é do bem. E que todos, assim como o mundo, ainda têm jeito...

Gostosas Profissionais

Eu queria ser gostosa. Tem quem diga que sou inteligente, divertida, engraçada ou sei lá o quê. Até bonita. Mas eu queria era ser gostosa profissional. Essas que se declaram ex-BBB, ex-Casa dos Artistas ou ex- qualquer jogador ou artista famoso. Manter o corpo dá menos trabalho que atualizar o cérebro. Colocando na balança, livros, filmes, peças, cursos, faculdade saem mais caros que academias. A cada vez que nossos anos de experiência, conquistas e aprendizado, inglês, faculdade, cursos técnicos, oficinas e cursos livres recebem propostas salariais ultrajantes, invejo as gostosas profissionais que com alguns cliques e entrevistas acumulam uma bolada que não conseguiremos em anos a fio de trabalho árduo. A vida é mais cruel com mulheres esforçadas, talentosas e inteligentes. Cansei de ouvir em entrevistas e testes de TV que não poderia ser contratada por falta de experiência, mas vi entrar no ar pessoas com menos experiência do que eu, atrizes, modelos e manequins... Odeio a falsidade corporativa! Confessem logo que TV é plástica e não conteúdo! Não digam que gostaram de nós quando não gostaram e nem que vão dar retorno quando não vão! Depois da plástica na barbeiragem da minha apendicite, confessei ao meu plástico que estava surtando e se arrumase trabalho logo, colocaria bunda. Vocês não sabem o que é nascer sem bunda no país das Sheila Carvalho, Carla Perez e afins. É o país da bunda! Mas quando ele me falou que teria que passar de 30 a 40 dias sem sentar na recuperação, pensei na dificuldade de se conseguir férias de um mês nessa profissão e que teria que abrir mão de viajar para algum dos meus sonhos para enfrentar essa maluquice, desbundei literalmente. Deixa a bunda para lá que não vai ser nessa que serei gostosa, profissional ou não. Pelo menos a minha "comissão de frente" não decepcionam e dizem que a primeira impressão é que fica... Mas na próxima encarnação não volto sem ser gostosa que isso sim dá futuro! Como o futebol para os meninos... Que deprê as carreiras promissoras desse país...

quinta-feira, junho 02, 2005

Sonhos de pobre...

Quem ainda não ouviu minha ladainha de pobre? Sim, morar ao lado da maior favela de São Paulo e do lado de rio que faz divisa de município e empesteia o ambiente só pode ser classe média em sonho... Aqui vai uma lista dos meus sonhos proletários:
* morar perto do metrô;
* ter sacada no apartamento;
* ter elevador com espelho no prédio;
* banheira no banheiro do apê;
* morar bem longe de rio que traz um perfume ambiente nada agradável até sua casa;
* morar uma região em que não tenha parte feia e bonita, só ruas que dá gosto de olhar;
* morar num bairro que quando digo o nome todo mundo sabe onde é;
* morar num local que em dia de rodízio não tenha que pegar duas conduções e uma balsa até o trabalho;
* poder ia a pé até a civilização, ou seja o comércio básico;
* vizinhança menos interiorana e fofoqueira;
* jardineiras nas janelas para matar a vontade de ter jardins;
* piscina e sala de ginástica no prédio;
* sim poderia ser uma casa, contanto que fosse em uma vila fechada com jeiro de interior;
* ter um quarto extra para não desalojar o escritório quando a família aumentar;
* não me sentir num Big Brother cercada de janelas por todos os lados; poderia até ter visão de prédios, só que distantes o suficiente para andar de camisola sem me preocupar;
* morar longe de fábricas barulhentas e fedorentas;
* nunca mais ouvir ensaio de escola de samba da periferia...
Nada contra a perifa! Só seus defeitinhos básicos... Se pudesse levava todos os amigos daqui p/ o lugar dos meus sonhos... Até a escola municipal do meu coração, onde dou aula voluntária de redação... Nem queria ficar longe da favela não... Lá tem tanto projeto social bacana! Dá gosto de visitar e participar!

Os Assaltos da Minha Vida

Já fui assaltada cinco vezes nessa minha vidinha curta. Uma mão cheia de sustos e risadas! O primeiro deles era um ladrão do tipo Rafael do grupo Polegar, pois me pediu um passe e um real. Seguiu-se a seguinte negociação:
- Não tenho um real, só um passe, serve?
- Serve.
- Pode ser intermunicipal?
- Pode.
O cara devia estar pra lá de Bagdá com tanta droga na cabeça pois tirei aquelas cartelas de passes que as empresas nos dão para usar o mês todo, destaquei um e dei na mão dele.
O segundo foi do tipo "mão leve". Tirou minha carteira da bolsa do ônibus e só percebi no metrô. Ponto para esses assaltos à moda antiga que não traumatizam ninguém!
O terceiro foi um desses pivetes com pedra na mão que se penduram no vidro do carro, xingando e exigindo dinheiro.
- Calma lá meu! O dinheiro não está aqui te esperando! Tenho que abrir a bolsa, depois a carteira, não é vapt-vupt... - bem que meus amigos dizem que se me assaltam e pedem um passe só falta dar um daqueles de centro espírita. Na hora do "vamo ver" sou inacreditavelmente calma!
O quarto foi o mais educado de todos. Quando atravessava a cidade para fazer um curso, ele me aborda, bem quando tentava diminuir meu atraso:
- Com licença, isso é um assalto! - e pegou uma bolsa preta "engana-trouxa".
Fiz um pedido de jornalista:
- Pelamordedeus, me deixa pegar minha agenda!
- Não tem laptop?
- Pode abrir para conferir.
Devolveu a pasta, pediu dinheiro "por favor". Abri a carteira e só tinha cartão de visita pois os três bancos que passei naquela dia estavam fora do ar.
- Menina vai embora! - ele surtou.
O quinto foi nas férias atrapalhadas da Bahia. Bem que viajei achando que só tinha que temer isso em SP ou RJ e dei uma de turista, tirando fotos e deixando a digital pendurada no pescoço. Brotaram vários pivetes do chão, mas só conseguiram levar um celular ralado e estourado e o cordão que estava pendurada a digital, pois disparei a correr. O que chateia nem é o valor, é a perda da inocência das férias e o cagaço que me perseguiu depois disso.
Percebi que perdi a inocência de vez, pois nunca mais caminhei sem olhar para todos os cantos e desconfiar de cada sombra... Isso é que é deprê! E que vontade de voltar para a capoeira e dar uma pezada no próximo que vier me assaltar desarmado! Não aguento mais ser mulherzinha nessas horas!