Desabafos de uma jornalista, aspirante a atriz, shiatsuterapeuta e professora de yoga...

terça-feira, agosto 23, 2005

Hotel Ruanda

Quando li no Guia do Estadão que esse filme era sobre uma história real de um gerente de hotel que conseguiu salvar mais de 1200 pessoas durante o massacre dos tutsis pelos hutus, paguei para ver. Já tinha lido tanto a respeito e queria entender mais, pq é meio que missão impossível para quem não tem conflito étnico no próprio país, entender algo que parece tão distante.
Apesar da história ser deprê – mais de um milhão de tutsis foram assassinador – tem o lado bom de um hutu salvar mais de mil e duzentas pessoas no tal hotel. É uma espécie de Lista de Schindler dos trópicos.
Na verdade uma das coisas que mais me chocou foi um repórter que colocou uma fita mostrando o massacre num equipamento de edição e depois pedindo desculpas ao gerente do hotel que se chocou:
- Se eu soubesse que você estava lá, não teria colocado a fita.
- É bom você transmitir para sua TV, para o máximo de gente ver e alguém se indignar, fazer alguma coisa.
- As pessoas vão dizer “meu Deus que horror” e continuar jantando. Ainda assim acha que vale enviar a imagem?
E nós que pensávamos que mudaríamos o mundo com textos e imagem! As pessoas têm segundos de indignação e continuam suas refeições! E pensar que quando uma tia me disse que rezava para eu nunca cobrir uma guerra, pedi para suspender pq meu sonho era esse tipo de cobertura, hoje vejo o quanto somos inúteis nessas horas.
Outra cena chocante é quando vêm mais soldados da ONU e vários padres e freiras surgem com crianças africanas, achando que receberão ajuda e ouvem:
- Nenhum ruandês! Só levaremos estrangeiros!
E todos os europeus abandonam os tutsis e os hutus que os ajudam (considerados traidores), abandonados à própria sorte.
Achei importante tentar entender um pouco mais da África. É lá que começou boa parte do que somos hoje, do lado de cá do Atlântico.

Largado no mundo...

Não há definição para meu estilo no perfil pré formatado do Orkut: largada. Adoro me vestir de qualquer jeito, me arrumar só de vez em nunca e ver meus amigos, colegas, parentes e familiares dizerem: nossa, como você está diferente! Já tive a capacidade de voltar de uma aula de teatro (para quem não conhece, explico: suada e com o pé sujo), colocar uma roupa de festa, dar uma geral rápida na cara e ir para o casamento de um amigo. Outro dia pedi ao meu namorido que me encontrasse depois da aula de circo no Belas Artes para assistirmos um filme e ele se espantou:
- Mas você vai toda suja da aula?
Até ele estranha meu jeito. E olha que também é desencanado pra caramba. Eu sei lá, adoro uma calça de capoeira, um jeans surrado que já está quase andando sozinho e fazendo buracos, um tênis ou sapatilha que me faça esquecer que estou com sapato: meu pé nasceu para ser índio pq tudo machuca, até havaianas.
Há quem diga que sou estilosa. Sou o terror das vendedoras pq cismo com alguma coisa que não acho em lugar nenhum, que vi na rua em alguém e não pude perguntar onde comprou. E não aceito os genéricos que me trazem. Tem que ser o que meti na cabeça, ainda que demore.
Misturo um pouco de vários estilos: indiano, hippie, esportivo, casual, despojada, engajada, descolada... Só nunca me meto a ser perua nem Patricinha pq não dá pé! No trabalho me fantasio de executiva para não constranger os executivos que atendo. E acho que cor de rosa é cor de quarto de bebê e de Sula Miranda, que minha cor é vermelho!

Terapia de Boteco

Tive uma terapia maravilhosa hoje: de boteco. Meu psicólogo fica na Vila Madalena. E lá é um antro de bares e restaurantes legais. Há semanas namorava o restaurante mexicano ao lado do consultório dele. E hoje o paciente antes de mim deu um perdido no doutor e o encontrei no tal mexicano. Daí ele tinha pedido sei lá o que para beber e eu matei as saudades dos Nachos. E ainda aproveitei para vomitar (no bom sentido) meus grilos. Ando tão calma, que até me estranho. Até o que me incomoda é sutil e antigamente era um alvoroço, tudo. Definitivamente devo ter me tornado a zen do jornalismo. Ele me tirou o peso na consciência do que considero inveja de colegas que estão conquistando o que batalho e não alcanço pq disse que não prejudico ninguém e que a inveja e admiração nascem do mesmo sentimento, são meio primos-irmãos. E que estou num processo de desidealização da vida, quando percebemos que ela não é o que sonhamos ou romantizamos. Mas ainda assim pode ser maravilhosa! E que na hora em que decidi deixar a vida me levar, comecei a tirar partido das coisas boas de tudo o que surge. Me tornei meio camaleoa. Sem lamentar o que passou ou sonhar com o que virá. E quando as saudades ou os sonhos futuros surgem, são leves, não me descompensam mais. Ou isso é maturidade ou é comodismo. E só comida mexicana pra me fazer comer feijão!

Tudo pelo dia dos Pais

O fim de semana dos pais não foi do jeito que gosto, com teatro, trabalho voluntário, centro budista, natação, aula de circo, reencontro com amigos e namoro em apenas dois dias. Só deu para fazer teatro e ir ao centro. Tudo pelo dia dos pais! Meus pais queriam almoçar no shopping, lugar que raramente vou pq em meus surtos consumistas, passo na Zepa (Zé Paulino) e na Twenty Five (25 de março). Mas era o dia dele, pô! E lá fomos nós! Esqueci que papai é a pessoa mais contemplativa do mundo: primeiro, ficou horas olhando carro por carro da exposição de veículos antigos. Devo ser muito burra pq não sou capaz de formular meia dúzia de frases numa conversa desse tipo. O máximo que consigo é "O carro é mais velho que eu/ Mas está bem conservado/ Dizem que esses motores bebem demais/ É tão lindo quando as noivas chegam num calhambeque". Depois eles quiseram comer no quilo mineiro, que sempre tem uma fila insuportável. Deu para trocar um cupom por um Mc Mocaccino, tomar, devolver o copo e nada de chegar ao buffet. Em seguida, a compra do presente: uma mala para a viagem deles à Caldas Novas. Mais um tempão de comparação dos produtos na Le Postiche. Conclusão: não deu para nadar e nem para fazer aula de circo. Mas pela primeira vez na vida não apressei ele. E acabei treinando um pouco minha fugaz paciência.

quarta-feira, agosto 17, 2005

Pão e circo não! Teatro e circo!

Apesar de já ter feito teatro por 3 anos na Fundação das Artes e na Companhia das Artes, estou encantada com a oficina livre aos sábados, na Unibero, da Companhia Extra de Teatro Emocional. Meu chefe tem razão, jornalista gosta de aprender. E como estou feliz pelo professor me ensinar coisas novas! Por exemplo, há duas semanas faço exercícios respiratórios no trânsito e não tenho ficado nervosa por atravessar a cidade para trabalhar, na maioria das vezes levando mais de uma hora para ir e outra para voltar. E sem rádio no carro! No sábado todo mundo soube que nunca tomei um porre, pq minha bêbada presa no elevador não convenceu ninguém. Mas estou me surpreendendo com exercícios novos, pq aula de teatro geralmente é meio lugar comum. Me empolquei tanto que comecei a fazer aula de circo com eles aos domingos, na zona leste. Descobri que só consigo fazer exercício descalça: natação, aula de circo, pilates, yoga, capoeira... Não, ainda não consegui voltar com todos, mas é meu sonho de vida. Na aula de circo voltou um pavor de infância, das aulas de ginástica olímpica do ginásio, mas já está mais que na hora de superá-lo, assim como a falta de gingado na capoeira. É tão lúdico, tão divertido, nem parece exercício, mas ao virar na cama à noite, acordava com dor e só consegui esticar o braço quatro dias depois. É também a primeira vez que vejo um professor de oficina livre de teatro batalhar para profissionalizar seus alunos. É improvável que possa trocar o jornalismo pelo teatro, por questões financeiras, mas estou torcendo loucamente pelo projeto cultural do professor de transformar uma casa tombada em centro cultural. Em tempo: como atriz ainda sou uma ótima jornalista, tanto que farei o site e a divulgação das peças da Cia. Será que dessa vez finalmente estreio uma temporada?

Sem suor e sem dor, com o corpo em cima!

Já fiz umas duas aulas de Pilates com minha professora particular, que é fisioterapeuta. Aos mais desavisados, não, não ganhei na loteria, mas estou fazendo o site dela em troca das aulas pq depois do casório, as contas tomaram o poder do meu saldo bancário. Já tinha experimentado uma aula antes de começar para valer, há um tempão atrás e sou suspeita para falar pq trabalhar o corpo no esquema no pain, no sweat é tudo de bom. Para não falar que não se sente nada, dá uma dorzinha de nada, do tipo "um trabalho físico passou por aqui", mas ao contrário das academias clássicas, não dura nem três dias. Mas o que realmente está me encantando é fazer exercício pela primeira vez com fisio e não com professor de educação física. Antes de mais nada, ela avaliou minha postura e percebeu diferenças entre os ombros e a cintura por causa de um desvio na coluna, que como nunca deu sinal de vida, achei que nem desvio tivesse. O tempo todo ela me corrige a postura, que sempre tenciona onde não se deve, nos ombros por exemplo. Insiste para que eu faça devagar pq dá mais efeito do que fazer rápido, coisa que nunca ouvi falar de nenhum profissional de educação física. E o que é melhor: me deu a primeira justificativa plausível para trabalhar o abdômen: ele sustenta a coluna. Sempre ouvi para deixá-lo firme só para ficar bonito... Quanta diferença! Acho que não volto para a academia nunca mais (rs).

quinta-feira, agosto 11, 2005

Queda! As Últimas Horas de Hitler!

Ontem fui matar as saudades de um dos meus programas favoritos: cineminha de quarta, mais em conta e menos cheio. Fazia só duas semanas que não ia, mas juro, parecia uma eternidade. Havia lido no Estadão um crítico chamando o pessoal para ir ao Gemini, que parece andar meio caído. É como voltar no tempo pq a sala é retrô: antiga, decoração com cara de anos 80 (leia-se brega), sala grande, atendimento personalizado (quando você liga, nenhuma gravação, tem um funcionário mesmo para aquelas dúvidas específicas)... Gente gastei R$ 3! Quase pedi a carteirinha de volta e me dispus a pagar inteira... Vi Queda! As Últimas Horas de Hitler. Estava curiosa pq ouvi falar bem, mas com medo por ser produção alemã, achando que poderia mostrar que ele não havia sido tão ruim quanto pintam. O interessante é ver um filme sobre a Segunda Guerra Mundial que não fica focado no holocausto. Deprê sim, mas sob outro ângulo: o quanto muitos alemães foram lobotomizados pelo nazismo, a ponto de se matar, assassinar os filhos e enforcar civis idosos, doentes e deficientes, sem condições para a luta, pondo neles placas como "apoei os bolcheviques/ comunistas". Nunca havia pensado no quanto uma ideologia política maluca pode levar a massa a atitudes insanas, como uma religião que cega. Dá mó dó de ver e pensar quantos civis foram abandonados em hospitais, numa cidade sem abastecimento, pq Hitler dizia que o pior defeito do homem era ter compaixão. E o mais doido era esse pateta ser carinhoso com os animais e beijar o cachorro. Ator mesmo foi o cara que incorporou tào bem o homem do bigodinho pq haja despojamento de ideologias para dar vida à um assassino como aquele... Ele ia se encurvando ao longo do filme, conforme ia perdendo forças, a razão e o apoio. Impressionante! Me pergunto até agora: será que a maioria dos 50 milhões de mortos nessa guerra era nazista ou civil que não tinha culpa de um regime tão condenável subir ao poder? Quantos dos mortos em campos de concentração eram comunistas como a Olga de Luís Carlos Prestes? Ou gays? Ou ciganos? Na semana passada, o núcleo Heliópolis do Educafro onde dou aula voluntária de redação tinha apostilas de história dos afro descendentes. Sei que são a maioria dos pobres hoje em dia e há uma dívida a ser resgatada. Mas e a história dos índios? Ninguém conta? E dos excluídos das minorias, quem se lembra?

Meditação em prática

Hoje tive uma bênção de Buda, literalmente! Uma nova conhecida me deu uma resposta atravessada a uma simples tentativa de aproximação como nova colega. Claro, fiquei chateada. Mas comecei a desmontar aquele EU inflado que se avistava no horizonte. O que é que ficou chateada? Minha cabeça? Meu tronco? Minhas pernas? Meus braços? Meu coração? Minha mente? Nenhuma de minhas partes isoladamente estava chateada. O conjunto todo estava chateado? Não poderia, pq cada parte dele deveria ter o componente chateação. Com esse raciocínio ainda não funcionou pq olhava para ela e ainda estava chateada. Pensei: ela tentou me chatear. O que nela tentou me chatear? A cabeça? O tronco? As pernas? Os braços? O coração? A mente? Nenhuma. O conjunto também nào poderia ter me chateado pq as partes não continham chateação. Ainda não funcionou pq a chateação ainda estava lá. Pensei: ela tentou me chatear mas eu só me chateio se entrar na mesma sintonia ruim dela e aceitar a chateação. Melhora zero pq já estávamos em sintonia ruim. Mas daí pensei que meu estado natural não era chateada, ela tagarela, amiga, companheira, animada, chamando para ir em casa, dormir lá, passear, querendo ser colega e amiga de Deus e o mundo. O estado natural dela também não deve ser grossa, mal humorada, brava e reclamona como se apresenta, mas é a forma dela se defender das cobranças e pressões diárias. Quando voltei a olhar para ela... Não estava mais chateada com a resposta atravessada! Obrigada Buda!!!