Desabafos de uma jornalista, aspirante a atriz, shiatsuterapeuta e professora de yoga...

quinta-feira, setembro 29, 2005

I'm free!!

Demorou, mas finalmente caiu minha ficha de que o corpo na maior parte das vezes é escravo, mas a mente sempre será livre. Ninguém melhor que o grande poeta minero Carlos Drummond de Andrade para definir esse insight abençoado e também as razões pelas quais a vida às vezes é brochante para quem é poeta:
Viver não dói
Definitivo, como tudo o que é simples. /Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram./ Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar./ Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado, nos impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar./ Como aliviar a dor do que não foi vivido?/ A resposta é simples como um verso: se iludindo menos e vivendo mais!/ A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. /A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.

segunda-feira, setembro 26, 2005

Semana de Decisões

Na semana passada tomei várias decisões importantes. Primeiro, termino minha segunda temporada de terapia hoje mesmo. A alta é por minha conta e risco. O terapeuta é muito bom, tanto que me fez acreditar em psicólogos e identificar meus problemas. Mas já cheguei naquela fase que me percebi que de agora em diante só cabe a mim resolvê-los. E ninguém pode fazer isso, senão nós mesmos.
Desencanei, ao menos temporariamente, do mestrado. Se já estou com o saco na lua de dar aulas uma vez por semana, apenas uma hora, para o público aborrescente para um pouco mais velho, imagine todo dia enfrentando o mesmo tipo de resistência e teimosia dele em facu. No cursinho comunitário pré vestibular vou ensinar e eles só vão para passar no vestibular, mas não querem se esforçar para isso. Nas universidades, provavelmente o professor vai ensinar e eles vão só pelo diploma. Além do mais não quero parar a minha vida - teatro, projetos pessoas de videorreportagens, centro budista, natação e acrobacia - por um curso que pode não dar em nada, como tantos que já fiz.
Quero fazer um curso de massoterapia ou naturopatia para trabalhar com massagem, acupuntura e reflexologia. Seria incapaz de trabalhar na área de saúde pois choraria junto com paciente que estivesse sofrendo. Mas gosto de idéia de trabalhar na área de prevenção. E hoje mais do que nunca, quero um trabalho braçal. Deixem meu cérebro em paz!

One of the best things that happened in my life earned a deadline of two years to reach the breakeven. If it happens, the house, the problems and the joy will increase. If not, I'll meet my cousin in other continent and fight for one of my dreams. It doesn't matter what will happen. At least I will know different cultures, languages, people, places... God bless me!

sábado, setembro 24, 2005

Superação - no circo e na vida

Quando comecei a aula de acrobacias circenses com o pessoal do teatro, um mês e pouco atrás me surpreendi com a volta de um medo antigo de altura, que me rondava nas aula de ginástica olímpica da infância. E tive dificuldades sobre humanas: minha coordenação, força e alongamento são nulos, estava enferrujada após seis meses parada por causa da apendicite, da plástica e do desemprego. Sabe quando parece que você nunca vai superar aquilo? Dá vontade de ir embora e não voltar nunca mais? Tive uma amiga que estudou Letras e me explicou que os alunos sempre bloqueiam inconscientemente seu aprendizado em alguns pontos e que o professor trabalha para vencer esses bloqueios. Já me aconteceu milhares de vezes: me sentir uma estúpida de tanta dificuldade e achar que nunca conseguiria, mas de repente... Cai a ficha e você consegue e deixa de se impedir de vencer essas resistências. Não foi conscientemente, mas há uns dois finais de semana, o medo sumiu. Quando o professor pede um voluntário ou pergunta quem quer tentar, lá estou eu, ainda sem força, alongamento e coordenação suficientes. Mas disposta a ir em frente. Que sensação maravilhosa, essa de superar limites, de que é possível aprender qualquer coisa, se livrar de qualquer medo. E ouvir o professor dizer: "não pensei que você faria/ tentaria/ conseguiria". EU POSSO TUDO!

O Surpreendente Trabalho Voluntário ou de como desisti de fazer mestrado e dar aula em facu

Eu confesso: andava meio desanimada com minhas aulas voluntárias de redação no cursinho comunitário no qual trabalho todo sábado à tarde. Fiquei mal acostumada com as crianças: foi com elas que comecei a ser voluntária, de incentivo de leitura, lendo livros curtos em salas de 1a a 4a séries. Em um ano, os coordenadores e professores me contaram que a maioria estava procurando mas a biblioteca e a sala de leitura, levando livros para casa. Elas são como lousas em branco. Dá gosto ajudar quem se ajuda. Com os aborrescentes já não é esse oba oba. Daqui a pouco faz um ano que estou falando para eles lerem mais, treinarem escrever... Ensino é uma via de mão dupla: só aprende quem faz sua parte. Eu vou lá ensinar e eles vão para passar no vestibular - sem se esforçar... Estava até cansada de escrever as mesmas orientações nas redações que corrigia. Na semana passada, banquei a profe vagaba: se eles só podem se dedicar à minha matéria 50 minutos por semana, eu também. Avisei que corrigiria as redações na sala durante a aula e propus um novo tema de redação. Me surpreendi: a maioria está introduzindo, desenvolvendo e concluindo o tema, que é a parte mais difícil. Para corrigir erros de ortografia, acentuação, concordância, basta ler mais ou decorar as regras, que acho mais sacal. Me animei de novo. Um dos professores diz que está acostumado, sabe que só vai dar aula para meia dúzia, mas eu não me conformo! Tem aula que tenho sensação de que dou para uma só. Não devo ter nascido para isso pois a resistência e teimosia dos aborrescentes me brocha. Se eu fizer o mestrado em jornalismo para dar aula, encontrarei a mesma dificuldade: vou ensinar e os alunos vão pelo diploma, também sem se dedicar. Uma colega de trabalho contou que tem professor impedindo aluno de fazer prova, expulsando inadimplente da sala de aula. Prostituição por prostituição intelectual fico com a minha mesmo, com a qual já estou razoavelmente acostumada. E depois desse maravilhoso texto do Mário Prata, vi que não sirvo para a coisa por ser mais da prática que da teoria, por odiar dormir um tempão com o problema sem conseguir resolvê-lo e por ser a favor da democratização de tudo, inclusive da informação: http://www.marioprataonline.com.br/obra/cronicas/prata981007.html

sexta-feira, setembro 16, 2005

Prazer, hipomania, velha companheira desconhecida

Descobri o que eu tenho: sou hipomaníaca. E foi pelo conservadorismo em forma da revista, a Veja dessa semana. Confere se não é a 220 V que você conhece bem: "o distúrbio explica por que algumas pessoas vivem a mil por hora(...) variante suave do transtorno bipolar, no qual o paciente alterna períodos de euforia com depressão (...) a euforia se manifesta de forma consciente, é constante, direcionada para atitudes positivas (...) a depressão se resume a crises amenas, não muito diferentes daquelas a que qualquer pessoa está sujeita (...) o distúrbio trabalha a favor do portador (...) que tem energia e otimismo incomuns (...) é aquele sujeito ligado na tomada (...) fala, pensa e age mais rápido que os demais (...) dorme pouco, mas está sempre disposto, entusiasmado e cheio de idéias (...) fala em projetos grandiosos (...) faz várias coisas ao mesmo tempo e dá conta de todas elas (...) reagem mal ao ser contrariados (...) propensos a comportamentos compulsivos (...) cultivam uma fé quase irracional em si mesmos (...) Henry Ford era um e achava "que tudo pode sempre ser feito mais rápido" (...) sentem-se meio amalucados (...) têm tantas idéias grandiosas que é difícil manter o foco em uma delas (...) é uma usina de novas idéias, investe em grandes feitos e geralmente os realiza (...) é confiante/ persuasivo (...) fica muito irritado com pequenas dificuldades (...) age impulsivamente, sem pesar consequências (...) fala rápido demais, confundindo os interlocutores". BEM VINDA AO MUNDO DOS LOUCOS NORMAIS FRAN!

segunda-feira, setembro 05, 2005

Estréia na música erudita

No último domingo, graças ao meu trabalho, assisti pela primeira vez uma orquestra só de cordas. Não sei se pela ignorância musical, tive momentos em que me emocionei tanto quase a ponto de chorar, outros não consegui sentir nada e em outros não gostei mesmo. Claro que as músicas mais modernas e o bis com músicas de rock dos anos 60, que deixou o grupo com ar de Big Band encantam inacreditavelmente mais. Não que o clássico e tradicional não sejam bons, nem tenho conhecimento suficiente para afirmar isso, mas acho que pela falta de cultura musical, não nos identificamos com o erudito, não pagamos e nem saimos de casa para ouvi-lo. Mas senti vontade de ouvir uma orquestra que também tivesse sopro e percussão, o que acho ser um bom sinal. Aplaude-se muito mais que no teatro. E como nos palcos, toque de celular e choro de crianças atrapalham enlouquecedoramente. Não devo ser muito musical, pq há anos vivo sem comprar CDs e sem rádio no carro (OK, para isso também contribui o aperto $). Há anos o pai de uma amiga me incentivava a comprar o sax para ele me ensinar, mas e o medo de gastar no mínimo dois paus e depois não levar jeito para a coisa? O máximo que tive de iniciação musical me traumatizou: somente teoria, do modo mais árido possível, no primário ou ginásio, o suficiente para nos por a léguas de distância de qualquer interesse no aprendizado de um instrumento. Mas acho que todas aquelas violas, violinos, violoncelos e contrabaixos juntos tocam em algum lugar dentro de nós. Fiquei emocionada reconhecendo algumas músicas antigas. Ficaram algumas dúvidas cruéis: pq há tantos músicos cabeludos? Pq as orquestras gostam tanto da cor preta? Pq alguns músicos deitam a cabeça no instrumento e outros não? Pq os violinos e violas são tão parecidos? Pq os violoncelos e contrabaixos são tão similares? Pq alguns músicos ficam tão orgulhosos com os aplausos e outros só faltam se esconder atrás do intrumento? Pq há poucas músicas clássicas brasileiras? Pq há poucas maestras e solistas mulheres? E sobretudo, pq não me apresentaram isso antes?

Catarse teatral

Sábado finalmente entendi o que meu colega jornalista queria dizer quando, contrariando a teoria da memória emotiva do Ziembiski, dizia: "o ator não tem nada que resgatar velhas emoções para atuar, tem que acreditar naquele personagem e viver aquilo". Apesar de estar na estrada das oficinas há alguns anos, só sábado, na apresentação de uma cena que escrevi sobre uma ex guerrilheira política que falava de ditadura, repressão, luta armada, exílio e anistia, acreditei e vivi aquilo ao pé da letra. Depois que comecei a cena, não ouvi mais a música, no meio quase perdi o controle da voz de tanto que aquilo me envolveu e ao término foi tão intenso, que a cena acabou mas a emoção continuava lá, me fazendo abrir a boca como criança desmamada. E o pessoal falando que pelo clima político da coisa se lembrou do filme Olga, que conheceram um lado meu que nem imaginavam... E eu que só faço rir fora dos palcos, em comédias me saio uma lástima. Fiquei tão encantada! É uma catarse! É demais esquecer que é de mentira na platéia, mas no palco é inebriante. Dá vontade de fazer isso para sempre. E te faz acreditar mais em tudo que você faz, pq parece que o maior desafio, de "ser" outro momentaneamente com veracidade, já foi obtido. Agora só me falta controlar a emoção quando a cena acaba e acreditar em personagens com os quais não me identifico para vivê-los. Mas estou no céu com a possibilidade de trazer a emoção na hora certa e mandá-la embora na hora exata não só nos palcos, mas na vida. Será que chego lá? A emoção teatral não faz só bem, pq ontem, na aula de circo, quando tive que correr para melhorar o condicionamento, outras tantas emoções pessoais também vieram à tona e não iam mais embora, me fazendo abrir o bocão como uma autêntica descendente de Machado que não consegue evitar o nervoso tradicional de domingo...