Desabafos de uma jornalista, aspirante a atriz, shiatsuterapeuta e professora de yoga...

quinta-feira, setembro 28, 2006

Não sei onde estou indo, só sei que não estou perdido...

Não quero falar do que desandou nesta semana, em que fui classificada como alguém com cifrão nos olhos, mas ao invés de me chatear com o rombo nas finanças, me chateei com a transformação de um sentimento que era sensacional num pote até aqui de mágoa, a ponto de passar o dia atrás do computador banhando o teclado de água salgada que vazava de mim mesma. Ok, fecha o parêntesis do desabafo e vem a parte inacreditavelmente boa da semana.
Sempre brinquei que quando era criança amava desenhar, mas tinha um traço de historinha em quadrinhos, de fã de gibi, portanto quando meu pai me matriculou num curso de desenho técnico, me traumatizei tanto com o esquadro e a régua que nunca mais desenhei e fui escrever, mas nesta semana recebi uma ligação de uma escola de arte visitada pelo pápis, com um interesse carinhoso para que estudasse pintura novamente... Isto é surpreendentemente divertido, vindo de uma pessoa que já arrancou dente de leite meu com alicate! Quando sair dos programas Pau nos Custos e Grana Zero, devo encarar os pincéis!
Apesar de não ter a mais vaga idéia de onde foi parar minha auto estima - não se preocupem pois continuo caçando a sumida - ouvi que sou muito bonita de uma pessoa que lida com gente cuja beleza é unanimidade e que tenho estilo - este mesmo outrora classificado como baianice que mistura de tudo um pouco. Ok, provavelmente trata-se de chaveco furado, afinal tenho reconhecido os Dick Vigarista com menos dificuldade, mas devo confessar que veio em boa hora.
Para completar o dia do renascimento com grande estilo, recebi uma mensagem que tem tudo a ver com a fase meio trash e ainda assim rica: "Tens de acreditar que os ventos soprarão, crer na grama nos dias de neve: é por essa razão que os pássaros podem cantar em seus dias mais obscuros, eles acreditam na primavera" Malloch

segunda-feira, setembro 25, 2006

Overdose de Naturez ou thanks God I Survived and I´m alive!

Quando me falaram que há pessoas que fazem menos exercício que eu e fizeram a trilha de 20 quilômetros que encarei ontem, acreditei. Que era só descida, pra baixo todo santo ajuda e só exigem condicionamento para as subidas, também botei fé. Que atravessar o rio só pode ser cruzá-lo de um lado para outro, confiei. Acreditar nas pessoas é a minha perdição. Como não dá para saber se estão ou não minimizando esporte de aventura quando temos vontade de experimentar isto, melhor prevenir do que remediar, nunca mais me meto a fazer rally a pé. Quando ouvia classificarem trilha de rally, jurava que era só um mais longo que o outro. Gente, posso jurar que participei de um episódio de LOST ou No Limite ontem. Eu não só andei das 9h às 18h, de Parelheiros a Itanhaém, como subi e desci em meio à natureza, morrendo de medo de cair, quebrar alguma coisa e não conseguirem me levar para o socorro, pois mal e mal estávamos nos levando solitariamente até o fim da trilha; caminhei entre pedras escorregadias e molhadas, resgatando um trauma de infância de quem já caiu em ambiente igualzinho e graças a Deus só quebrou o dente de leite; e andei rio adentro, com a água nas pernas, na cintura e no peito, com receio daquele trecho só acabar desembocando no mar, sentindo ao fim do dia uma espécie de "umidadetermia", em que o corpo entrou em estado de emergência, com aquela cólica reversa no fim das costas e emitindo um alarme: "banho quente! banho quente! banho quente!"
Ainda por cima os novatos andavam com as equipes experientes, que só pensam em terminar mais rápido para ganhar dos concorrentes, levando para a natureza aquele clima de competição do qual já temos uma overdose de segunda a sexta. Não dá nem tempo de curtir o verde de tanto que os malucos querem agilizar. Você pergunta:
- Não tinha uma parada para descanso ali atrás pelo mapa?
- Sim, mas não paramos pq estávamos atrasados!
- Pô, não dá para um pit stop rápido? Pelo menos abrir a mochila e pegar uma fruta? - ah sim, detalhe: oito horas de expedição mata adentro comendo só bolacha, salgadinho e maçã. Nunca fiz tanta promessa na vida: "juro que se sobreviver ilesa, nunca mais faço isso/ juro que ouvirei minha mãe/ juro que nunca mais reclamarei do trânsito/ juro que não tiro mais sarro das colegas que acham que mato já está suficiente no canteiro do meio da avenida ou que não fazem isso por não ter ar condicionado". Perguntava para os demais: "é sério que tem gente que se diverte com isto?" Havia alguns ali que estavam no quarto ou quinto rally, já tinham se perdido na mata à noite e feito expedições sem sinalização feita pelos instrutores, só com o mapa, cálculos dos praticantes e proteção divina. Como damos trabalho em vão ao andar de cima!
Achei uma falta de solidarieade a velocidade dos experientes para com os iniciantes. Acho que do meio em diante fui praticamente guinchada, pois implorava aos velhos de guerra:
- Me dá uma mão pra descer/ subir/ andar na água/ passar entre as pedras escorregadias e molhadas! - Pensava que era uma mulher descolada, mas me senti uma Barbie de salto no meio da floresta.
Quem me conhece não deve acreditar que fiz isso, pois em Sampa no plano já caio pra caramba e lá só levei escorregões light - sim meu santo deve ser realmente muito forte, mas juro que não abuso mais dele. Lembrei de uma colega que no Carnaval de Salvador, quando olhava em volta e só via um mar de gente, temia que se tivesse briga ou alguém passando mal, não tinha como fugir ou socorrer. Quando vi uns três tombos mais feios lá na serra, tinha a mesma sensação: se alguém se arrebentar aqui, não dá para ajudar, não tem para onde correr! Um colega comentou que perigoso é parar no farol de madrugada em Sampa e eu expliquei que não, pois nesta situação ainda podemos escolher furar o semáforo, mas lá não havia escolha: era chegar esfolado, cortado, dolorido, paralisado de medo ou frio, mas até o fim dos 20 km! Senti que não sou nada, não tenho o menor controle sobre mim mesma, que a Natureza me enfiava o dedão no nariz e gritava: "vou te colocar no seu lugar, você vai ver quem é que manda!"
Umas duas ou três vezes senti o guia vacilar entre uma trilha e outra e tive medo de virar manchete de jornal: "grupo de jovens se perde na floresta, passa fome, sede e é encontrado por bombeiros". Por mais que sentisse que o cara era do bem, também percebi que ele podia chegar num ponto dali, assaltar ou violentar todos os participantes e abandonar a gente no meio do nada, incomunicáveis, desolados e à mercê das forças naturais. Ainda bem que nunca tive fobia de cobras, aranhas e afins, caso contrário seria um cagaço a mais para administrar...
Minha amiga que me chamou para a mais radical empreitada da minha vida perguntava:
- Você ainda gosta de mim?
- Estou revendo nossa relação! - brincava. Numa coisa ela tem razão: tem um momento em que sua perna pára de doer e você não a sente mais, é como uma pedaço fantasma de você mesmo. E tudo que você pergunta para quem já fez vários rally deste tipo é normal, são como os médicos que também me disseram há 1 ano e 9 meses atrás que era super comum o corte da apendicite abrir inteiro em casa e você ver a carne lá dentro. Meu corpo me pedia: "não faz isso comigo! O que eu te fiz para merecer isto?"
As travessias na água davam quase que o tempo todo a sensação de que íamos congelar, quando por manobra divina não conseguia mais segurar a vontade de ir ao banheiro e sem querer querendo me esquentava de novo - se eles não paravam para descansar ou retirar comida da mochila, acha que dariam um break para tirar água do joelho? Nunca pensei que a urina pudesse me salvar. Depois que não sentia mais as pernas, o fim das costas doída por causa do excesso de umidade e tive receio de desmaiar de dor, não encontrar nem posto de saúde precário por perto ou colega com boa vontade para te descer no colo ou ombro.
Nem tudo são espinhos neste rally: a natureza é linda, conheci gente bonita e bacana, quando a trilha ficava plana ou nos trilhos do trem até parecia que dava para ser feliz por ali. Mas era um sobe-e-desce: de repente parecia tão gostoso, logo menos dava a impressão de que ia te matar, ficava lindo e rapidamente assustador... Seguindo a linha férrea foi um suspiro de alívio praticando este esporte de aventura, quando um militar comentou que um colega dentro de um túnel do trem enfiou o pé num tipo de buraco, rompeu todos os tendões e quando os companheiros tentaram socorrer, precisaram se encostar nas paredes e afastar, pois todos os trens resolveram passar naquele momento. Daí me choquei: como o organizador desta tentativa de suicídio coletivo da qual saí viva me disse para levar lanterna, mas se não tivesse, tudo bem? O bom de rally a pé é como TPM, plantão e aborrescência: grazie a Dio, uma hora acaba! Para mim é como quem faz lipo a torto e a direito: se tivesse senso de noção do risco, não faria nem amarrado ou sob tortura!
Para completar, na hora em que terminamos e encontramos os índios para a tão esperada confraternização, decepção total! Eles usavam roupas como as minhas e a maioria estava mais bêbado que as colegas do tipo "manguaça assumida" que conheço. Até perguntei aos organizadores se não tínhamos direito a Prozac ou Lexotan depois de ver os índios naquele estado de abandono e degredação. Parecia uma pegadinha sem fim: quando você achava que a parte líquida tinha acabado - afinal, ninguém me avisou que era uma trilha do tipo submersa, aparecia outra parte rio adentro, nunca de um lado para o outro. Como não se cancela uma maluquice dessas ao menor sinal de garoa?!
Ok, acrescentei ao meu repertório de "perde o amigo mas não perde a piada" uma série de historinhas comédia para as próximas conversas nas mesas das calçadas de botecos bons e baratos. Mas o que ainda não me conformo é: como o organizador não avisa que é preciso uma roupa específica que te proteja contra a umidade; um tênis super hiper mega bláster a prova de 8 horas de trilha - o meu foi se desmanchando para dentro dos meus pés e em boa parte do percurso me senti descalça; um boné que impeça os galhos e ramos de te machucarem; umas luvas que te permitam segurar nas árvores sem se espetar ou machucar um pouco mais, para não despencar trilha abaixo com o barro e causar o efeito dominó nos outros participantes; um outro par de sapatos com meias para o banho do final do dia, pois o que usou na caminhada ficará inutilizável; que máquinas fotográficas e celulares poderão ser mergulhados sem querer no rio quando tomar um escorregão - ainda não sei se perdi ou não o meu; que mulheres naqueles dias podem sair carregadas de cólica desta maratona; que um órgão fiscalizador impeça os eco chatos dos monitores ambientais de minimizarem perigosamente estas empreitadas em meio à mata fechada; que alguém que trabalhe com isso não te alerte para as abissais diferenças entre trilha e rally a pé para que consiga levantar no dia seguinte; e como empresas desta área não organizam este tipo de loucura coletiva num sábado, para que os mais desavisados se recuperem no domingo?
Transformei parte da trilha num aprendizado espiritual, tentando desviar a atenção do frio, medo e dor que nunca senti tão intensamente para a recitação de mantras, mas estes três incômodos na maior parte do tempo foram mais fortes que eu e quase saí de lá em camisa de força direto para o hospício Charcô. Gente, não precisamos nos arriscar tanto para sentir que superamos nossos limites, dá para conseguir a mesma satisfação em curso de teatro ou circo. Pela primeira vez na vida dei razão aos espíritas que considerava radicais quando classificavam de suicidas não conscientes quem fumava, bebia, se drogava ou arriscava-se demais desnecessariamente. Ontem senti que poderia morrer num instante e chegando lá do outro lado, teria que pedir desculpas ao Hômi, mas Ele teria toda a razão e direito de me dar os maiores puxões de orelha do mundo. Cada vez mais quero vivenciar o que meu amigo diz e eu assino embaixo: viver é tão delicioso, que a idéia de voltar várias vezes é sensacional. Qual a lógica de arriscar um game over antes da hora?
Quando ouvirem alguém dizer que quer encarar um rally a pé, esclareçam: a pessoa mais agitada do mundo adverte: é perigoso e competitivo demais, necessita-se de uma dose de preparo e falta de juízio sobre humanas. Quem me conhece sabe que não sou medrosa de carteirinha, ao contrário, ainda não sei se sou corajosa ou sem juízo demais...

sexta-feira, setembro 22, 2006

O melhor recuerdo do retiro de yoga

Que a minha prece seja, não para ser protegido dos perigos, mas para não ter medo de enfrentá-los.

Que a minha prece seja, não para acalmar a dor, mas para que o coração a conquiste.

Permita que na batalha da vida não procure aliados, mas as minhas próprias forças

Permita que não implore no meu medo, ansioso por ser salvo, mas que aguarde a paciência para conquistar a minha liberdade.

Sri Rabindranath Tabore(1861-1941)

Poeta, contista, dramaturgo e critico de Arte Hindu

Uma traseira de caminhão "top"

É meio auto ajuda e dificilmente estaria nos fundos das carretas do meu tio e meu primo, mas é ou não lindo?
"Somos a metade de um continente que se rompeu há muito tempo./ Vim cruzando os oceanos lentamente movido a correnteza e vento/ Agora que vamos nos unindo, sinto os ajustes de nossos litoraes e estremeço onde eu findo - aí é o seu início" Latner

quinta-feira, setembro 21, 2006

Múltiplas paixões

Nunca estive tão encantada com assessoria de imprensa e pensar que já estou no jornalismo há 9 anos - o que é mais surpreendentemente divertido ainda, como a vida. Mas antes de me aposentar, sabe-se lá quando, pois apesar da falta de presa, tenho planos para esta época (muitos filmes, livros, peças, meditações, retiros...), ainda quero ter muitas outras profissões: ser atriz - no ano passado descobri que não, como atriz não sou uma ótima jornalista e ainda não sei o que é mais sensacional, se esquecer que é de mentira no palco ou na platéia. Também serei massagista - o que pode ser mais gratificante que suar a camisa até a pessoa dizer que não está mais tensa, com dor, que você tem jeito para a coisa e uma pegada legal para continuar insistindo nisso? Esta paixão surgiu nos relaxamentos das oficinas cênicas. Quero dar aula de yoga - mas ainda preciso domar a ansiedade, bronquite, rinite ou alergia, não sei bem e conciliar os ásanas com as inspirações e expirações. Quem disse que tenho pressa pra isso? Neste caso, ela é mais inimiga da perfeição que em qualquer outro. Ainda quero terminar meus livros e ser escritora. Claro que para isso preciso parar em casa, atrás do computador, mas isso são outros 500 pois ainda sou muito crítica para considerar o que comecei como publicável... Quero fazer oficina de customização de roupas ou costura mesmo, que tenho ótimas idéias, mas ainda sou incapaz de pregar um botão, só que o teatro já me ensinou que qualquer coisa que se enfie na cabeça que vai aprender ou vencer a dificuldade/ medo, é possível sim, sempre! Teria ainda uma livraria por ser rata de biblioteca, um restaurante ovolactovegetariano - pois neles aprendi a gostar de comer tanto que quero até saber como fazer aqueles pratos de se comer ajoelhados, uma loja com roupas personalizáveis... Eu sei, não deve ser normal uma mulher de tão múltiplas paixões. Mas de perto, quem é normal?

O Maior Símbolo do Sincretismo Religioso Brasileiro

Assim meu antigo chefe me definia e eu me divertia. É que na minha mesa tinha um Santo Expedito e também uma imagem da Tara, uma buda feminina. Sempre brinco que de manhã rezo para toda a Liga da Justiça: aos santos que sempre acreditei, para Deus, Jesus, Buda, Tara, quem estiver com a linha desocupada, poderá me atender. Outro dia coloquei no MSN: obrigada Deus, Buda, Krishna, Alá ou qualquer que seja o seu nome. Mamma é incapaz de compreender isto: mas já entendi que não ímporta o nome, o que vale é a fé, os caminhos são ligeiramente diferentes, as técnicas também, mas todos queremos chegar ao mesmo lugar, somente com diferentes definições: estar em paz conosco e com o resto do mundo, feliz. Nisto os budistas têm razão: todos queremos ser felizes e nos livrar do sofrimento. E digo que somos universais nos objetivos espirituais com conhecimento de causa: estudei em escola Adventista, embora nunca fui evangélica - até onde sei foi a particular mais em conta que os pais aqui do bairro encontraram mesmo, conheci a igreja deles, a dos batistas, fui no casamento de dois primos crentes de carteirinha, um deles até tenta nos converter periodicamente (e pensar que este topou ser meu padrinho na católica, mas o que é low profile não, vai entender), estudei mais de ano em centro espírita kardecista, li muito e conversei mais ainda com amigas judias e desde 2004 frequento centro budista. Posso dizer que conheço quase que de tudo um pouco - devo confessar que estou muito a fim de conhecer o Santo Daime que um amigo frequenta e vive me chamando, além de outro local, onde também tomam o tal chá ayhusca onde outra colega vai. Também não posso ver música ou dança de umbanda e candomblé em TV e cinema, me sinto tão tocada, fico arrepiada, quero chorar, sem ter a menor idéia da causa. Digamos que sou uma alma aberta às religiões que impõem menos "não podes". Mas nunca consegui me sentir bem em missa, tinha até gastura, brinco que em outra vida fui queimada na Inquisição. Só que sempre curti igreja vazia e casamento - apesar de todas as burrocracias e custos da católica, sempre achei bonito, emocionante e apesar de tudo, sentia uma benção de Deus lá no meio da coisa toda. Juro que quado comecei os preparativos foi por causa disso tudo, mas o vai e vém de papeladas e o só vai de $, me peguei questionando se queria mesmo aquilo ou se estava fazendo pois todos esperavam que a coisa toda saísse como manda o figurino. Se Deus conseguiria estar presente em meio a tantas exigências e cobranças. Escolhi a capela menos disputada de São Caetano, o vestido na cor que fugia ao clichê branco e era prata, o modelo que não era bolo de noiva, mas justo, as músicas nada lugar comum - ou você vai todo mês a um casório em que a noiva entra com Joe Satriani, o noivo com Fred Mercury e ambos saem com Van Halen? Mas quando a família insistiu em chamar amigos e parentes que só vi 25 anos antes em meu batizado, percebi que era mais a minha cara casar de flor no cabelo, descalça e na praia, mas já estava tão envolvida e encantada pelas minhas únicas tarde e noite de perua, permitidas pela mulher menos vaidosa do mundo - yo, que desencanei e curti. Juro. O dia D é sensacional: a gente fica linda de morrer, só recebe elogio, ganha presente, puxam nosso saco, posa para foto, bebe, dança, come, revê amigos e parentes que gosta, conhece gente que parece super legal provavelmente por já ter álcool acima do permitido nas veias, anda em carro de bacana que provavelmente nunca vai comprar - nada de limusine, que o meu era o Classe A da tia ou qualquer modelo muito parecido com este, pois quase não decoro nome do tipo do automóvel. Pouco tempo depois eu queria uma coisa menos formal e padrão no centro espírita, mas daí o antigo fófis não topou - que casar duas vezes com alguém que nunca sonhou com isso já é pedir demais para um tímido típico! É que no centro em que freqüentava, cada bênção era de um jeito personalizado, DE GRAÇA e sem pompa. Fiquei super curiosa para ver o que os falariam, pois parece que o plano espiritual sempre envia mensagens diferenciadas. Mas enfim, ainda caso de flor na cabeça na beira do mar, dum jeito ecumênico como minha amiga que foi embora para Austrália, só para combinar com meu estilo hippie roots indian cult zen, como me classificou uma colega do trabalho. Mas logo após o oba oba da festança - que sou arroz de festa assumida -cada uma vai para sua casa que saudade faz bem a todo relacionamento, claro, se encontrando de vez em sempre, num modelo de relacionamento melhor impossível.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Motorista descolada pero no mucho

Depois que confessei para um amigo do centro budista que não saia como chegar à uma festa que aconteceria na Vila Leopoldina, extremo da zona oeste e ouvi:
- Não me vem com essa, você não é uma frágil geminiana, você é uma sagitariana guerreira!
Em homenagem a ele, tenho aprendido um caminho novo por semana, praticamente. Fui a três lugares nos últimos tempos para os quais só tinha chegado bancando a passageira folgada, que quando não está atrás do volante, dorme, conversa, canta e nem se liga no caminho: Parque da Água Branca, na Francisco Matarazzo (e pensar que estagiei seis ou sete meses ali do lado, mas andando de ônibus e metrô não se aprende caminho mesmo), Santo Amaro (onde se esconde o Credicard Hall) e Pompéia (onde são encenadas as ótimas peças do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos).
Juro que tentei bancar a madrinha descolada hoje, que pega a afilhada em casa e leva no cinema, devolvendo a fofucha ao conforto do lar logo em seguida. Mas gente, quando a mãe dela falou que morava perto de um motel famoso da avenida do Estado, juro que tinha entendido que ainda ficava em Santo André. Compreensão tosca de quem estagiou no Diário do Grande ABC mas nunca, nunca andou sem perder o rumo nas sete cidades (Santo André, São Caetano onde nasci, São Bernóia onde fiz Metô, Diabodema onde trabalha a mulher de um amigo que chama a cidade deste jeito mesmo, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra). Qual não foi minha surpresa quando vi a plaquinha "bem vindo a Mauá".
Mas ainda assim estava me divertindo, liguei para a avó da minha afilhada, confessei: "que emoção, nunca vim para cá sozinha"! Veja bem, tem que ser muito peituda para ir até lá à noite. E a mamma ligando no celular, reclamando que estava me metendo num buraco perigoso, mas eu confiando na chefe que mora no A do ABC que me garantiu que lá nem era tão arriscado assim. Fazer o que, se os ingressos que ganho no trabalho pra levar a afilhada ao cinema só valem até quinta e trabalho o dia todo lá no Brooklin? Que horas posso dar uma de madrinha camarada?
Não encontrei os benditos pontos de referência estação de trem de Capuava e Cofap. Tudo bem, sou distraída e meio cega também, mas recebi instruções que me deixaram mais perdida, pois estava amiga mora perto da Avenida São Paulo e também há uma tal rua Sâo Paulo perto de uma favela por lá.
Seguindo as instruções de um santo frentista cheguei à tal fábrica da Philips (juro que é mais fácil chegar ao escritório lá no fim do mundo Chácara qualquer santo, próximo do Morumbi), só que me toquei que o cinema era 21h e pouco, já eram quase nove da noite e minha comadre já tinham me avisado que a afilhada dormia cedo!
Liguei pra ela, pedi mil desculpas e voltei para casa, grazie a Dio ela já estava com sono, pois não ia dar tempo, só de helicóptero! Tranquilizei a patrulha materna que me caçava no celular como se fosse debutante e não a quase balzaquiana que já sou - OK, faltam 1 ano e 3 meses, mas vocês não imaginam a festança que farei!! Não gente, fui incapaz de chegar à rua Bezerra de Menezes, pela qual nutro uma nostálgica simpatia dos meus tempos de espírita kardecista de carteirinha. Não será amanhã que contarei a este amigo: "aprendi mais um caminho" - pois Mauá, definitivamente é para os iniciados...

Listinha Irresistível de Mudanças de Paradoxos Recentes

1- É o cúmulo da carência beijar o cara meia vez e já achar que é o homem da sua vida;
2- De pq a esperança é nossa desgraça: ou aprendo a não esperar nada dos outros, ou continuo transformando uma noite adorável em dois dias de chateação por acreditar tanto nas pessoas;
3- Ou reaprendo a não depender de ninguém para fazer o que quero, ou uma furada no previamente agendado poderá detonar outras noitadas promissoras;
4- Ou deixo os provocadores que conheço falando sozinhos, entre eles meu pai, ou eles permanecerão me enlouquecendo;
5- Se eu quero treinar o que tenho aprendido nos cursos livres que encaro, tenho que ir atrás e não acomodar na postura "venha a nós";
6- Meia dúzia de beijos não merecem tanta energia gasta em decepção pós descoberta de que os homens, assim como os selecionadores de empresas, também fazem média;
7- Nada que é feito no auge da carência ou com o foco nos outros, perdendo meu centro interno, trará bons momentos;
8- Esquecer da vida dançando é um santo remédio para qualquer deprê temporária insistente;
9 - Se o psico, a yoga, o centro budista, o teatro ou a massagem não me servirem para descondicionar, não vale a pena manter e criar novos apegos;
10 - Se eu por em prática o que recomenda quem entende do traçado, posso ao menos daqui a um tempo confessar que tentei, mas ainda prefiro fazer o que gosto ou curtir tanto os resultados e começar a praticar o que dá efeito e pronto;
11 - Se realmente acredito que alguém tem que ser diferente, não vou mais fazer joguinho de mulherzinha típica pq não tem nada a ver com quem quer ser diferenciada em tudo o que se mete a fazer;
12- Disciplina é ser discípulo de si mesmo;
13 - Se não fizer ou falar o que sinto vontade, até mesmo pouco depois pode ser tarde demais, imagine o dia seguinte!
14 - Minha paz de espírito não pode ficar à mercê dos fatores externos;
15- Acomodação sentimental é uma espécie de suicídio não consciente;
16- Se eu não me bastar, ninguém me bastará;
17- Um vale a pena ver de novo pode salvar uma estréia não muito promissora;
18 - O inimaginável pode render vôos de borboletas no estômago adoráveis por dias;
19 - Até mesmo o superficial momentâneo tem seu lado bom;
20 - Não existem regras que não se tornem maleáveis na experimentação sentimental;
21 - Nem sempre fantasias servem apenas para alimentar a imaginação;
22 - Inteligência é afrodisíaco;
23 - Nem sempre o que começa promissor tem futuro líquido e certo;
24- Se a felicidade não vier de dentro para fora, não virá de lugar algum;
25- Espiritualidade é o que dá sentido à vidinha, mas gandaias, bons amigos e paixonites trazem leveza ao cotidiano;
26- Não adianta preferir freela fixo se o mercado não exige exclusividade, adapte-se a ele e divirta-se pq os temporários também fazem com que as borboletas pousadas no estômago batam suas asas!
27- Quando percebemos que quanto mais cultura temos, mas impossibilitamos nosso acesso à felicidade, não conseguimos nos livrar de tudo o que adquirimos para ser simples e felizes como os índios por exemplo
28 - Valiosa lição de satsang (simplificando muito, canto de mantras): não é quando acontecer, já está acontecendo - lembra aquela história de que o melhor da festa é esperar por ela? Também tem a ver que a felicidade não é uma meta, é o próprio trilhar...
29 - A verdade é um caminho sem caminho - Krishna Murti, recomendado pelos professores de Santa Catarina, que ensinaram minha amiga de profissão, fé e paixão pela yoga - até encontrei um livro dele na pousada em que fiz retiro de yoga no último feriado, mas dois dias foram poucos para virar do avesso este polêmico e instigante homem;
30 - Estava tão obcecada em chegar... Acabei esquecendo que era preciso caminhar!
Quem diria fófis, você que já me considerou a pessoa mais ansiosa que conheceu, peguei a classificação como desafio, acho que recentemente você não me reconheceria.. . Até eu tenho me estranhado!

De como até morar perto da favela tem seu lado bom

Acredite se quiser: morar perto da maior favela de São Paulo também tem seu lado positivo. Explico: só ali encontro um par de botas razoáveis por R$ 30, faixa para transformar qualquer camisa branca num mini quimono japonês por R$ 10, pacote depilação-unhas-hidratação-limpeza de pele em escola de cabelereiro por R$ 70, calcinhas e sutiãs numa loja de fábrica por R$ 15 e faço a feira semanal por menos de R$ 5! Tudo bem que como que nem passarinho, mas é ou não uma pechincha e tanto? A propósito, muito providencial para quem ainda não saiu dos programas Pau nos Custos e Grana Zero... Se o antigo fófis lê isso, solta uma previsível crítica à minha síndrome "orgulho de ser 100% periferia", pq a classificação subúrbio é tipicamente carioca. Mas nada como uma boa capacidade de rir da própria desgraça (rs)

sábado, setembro 16, 2006

Manifesto anti média nos aspirantes a relacionamentos

Venho por meio desta me manifestar a favor do fim do maledeto hábito de fazer média nos aspirantes a relacionamentos e solicitar encarecidamente que a humanidade páre de dizer uma coisa e fazer outra. Já me aborrecia o suficiente fazer entrevistas e ouvir que tinham "me adorado", mas por um desses mistérios da vida difíceis de entender, não ser contratada depois do prazo para o fim da seleção. Uma curtição de meio ou fim de noite me pedir o telefone e não ligar é até fonte de piada e risada. Mas conhecer uma pessoa com mil e uma afinidades, que propõe várias opções de reecontros futuros, pede telefone, dá zilhares de esperança, muitas brechas de que quer te reecontrar e depois se você não liga, não sabe se ainda está vivo, se não corre atrás, nada acontece, se não batalha pelo que está a fim, as coisas não saem do lugar... Isso cansa horrores a médio prazo. Vamos combinar que não querer casar, nem ter filhos e nem mesmo namorar sério é teoricamente o sonho de consumo da maioria dos caras por aí. Mas agora nem relacionamento aberto, amizade colorida ou mesmo evoluir da terceira ficada o homem comumente encontrado no varejo e atacado quer! Nunca levei tão a sério aquela máxima de fazer a fila andar e virar a página, mas devo confessar que volta e meia, gostaria de ficar por mais tempo naquela historinha promissora específica, esgotar as possibilidades, ver até onde vai dar, curtir até enjoar, mas a superficialidade nas relações nos obriga a continuar tentando, tentando, tentando... Páre o mundo que eu quero descer! Ah, que tédio existecial de relacionametos rasos... [suspiro]

quinta-feira, setembro 14, 2006

Direto do filme O Maior Amor do Mundo

Frase do personagem Antonio, deste filme nacional que conferi ontem: "toda morte é inútil, toda vida vale a pena, nem que seja por um momento... Na pior das hipóteses podemos viver da lembrança dele". Ok, José Wilker, mas como responder à dúvida cruel levantada por aquela velha música do Biquini Cavadão: "tudo que morre fica firme na lembrança... Como é difícil viver carregando um cemitério na cabeça"! Nossa, hoje estou retrô demais...

Si, a mi me gusta el periodismo

Quando fui estudar jornalismo, tinha uma tia que dizia que rezava para que nunca cobrisse uma guerra, mas sempre pedia pra ela suspender estes pedidos ao andar de cima, pois sonhava em ser correspondente de guerra. E pensar que até ficar doente tem seu lado bom: a apendicite que me pegou de jeito há 1 ano e 8 meses atrás me mostrou que não poderia lidar com o sofrimento humano tão de perto: a dor do quarto ao lado já me travava, imagine de várias pessoas muito próximas...
Tenho uma relação de amor e ódio com o jornalismo, já quis deixar, já me apaixonei por ele de novo... Ando meio em estado de graça novamente. Lembro de épocas de vacas magras e a finada avó rezando para encontrar um trabalho perto, que pagasse bem, trabalhasse pouco, tivesse um chefe bom, um trabalho gostoso... E eu brincava: "vó, pega leve com Deus que nesse nivel de exigência fica muito difícil".
É aquele velho clichê: com a comunicação a gente nunca ganha bem, mas sempre tem boas histórias para contar. Na última mesa de boteco em que brinquei que escrevemos um pouco de tudo e sabemos muito de nada, ouvi uma amiga justificar pq isso é bom:
- Dá para conversar com qualquer um. Imagine o namorado da minha irmã que é biólogo especiliasta em tubarão? O universo de quem pode trocar idéia com ele é muito restrito...
Não é que ela tem razão? E viva os generalistas!

Dificuldades com a vaidade e com os números...

Tenho uma amiga que sempre brinca que se eu for mais vaidosa, não deixarei de ser inteligente. Sempre fui meio maloqueira, relaxada e desencanada, mas nunca tive este receio que ela dizia. A minha ilusão é que o que sou seja mais importante do que aparento. Mas recentemente tive um surto de vaidade provavelmente por voltar a me sentir viva e com borboletas no estômago, só não tenho verba para abastecer este descontrol. É sério, sai meio pesado deixar todo o corpitcho em dia. Estive inclusive pesquisando próximo do trabalho descontos e pacotes mais em conta para me manter em dia - quem diria -, mas só poderei dar corda pra isso após o fim do ano, com o dissíduo redentor que me retirará dos programas Pau nos Custos e Grana Zero. Quem sabe ainda me resolvo com isso? Defendo que fazemos unha, cabelo e pelo para nós, mas a depilação, para os outros. E quem vier com aquela conversa pra boi dormir que não dói, já perdeu o senso de tato e não pode mais dar palpite nisso!
Outra dificuldade recorrente são os números, mas isso é lugar comum entre os jornalistas: não guardo o andar do estacionamento em que deixo o carro, perco a conta dos mantras que recito e das voltas que dava na piscina quando nadava, esqueço perto de que letra e número está o carro no shopping, não guardo códigos de produto ou números de quarto e nunca sei a idade de quem me deixa fora do ar...
Uma antiga chefe tinha razão: pq as câmeras digitais não se chamava Stella ao invés de LX 448? Pq os quartos de pousadas e hotéis não são batizados como Paranapiacaba no lugar de 554 B? Nomes no lugar de números seriam mais providenciais para os apaixonados por letras como eu, que não são poucos. Devo confessar que sempre odiei matemática, mas quando conheci química, achei meu terror inicial uma gracinha. Até quando fugirei das contas e memorização de números? Talvez Freud explique isso... Não me pegaram no colo na infância? Hehe!

De como se apaixonar por poesia

Minha aula de interpretação na oficina da Casa das Rosas foi um sonho esta semana. Como é bom ouvir não só quem entende, mas ama um assunto apaixonante como poesia! A professora levou o autor de 500 Anos de Poesia para falar sobre Gregório de Matos, o Boca do Inferno. Só lembrava os versos políticos polêmicos dele. Foi inebriante ouvir poesias que gostava, mas não tinha associado a este baiano pra lá de criativo. O palestrante brincou com as poesias e a interpretação delas, de forma exagerada, indo de um extremo para outro tão encantadoramente. Como é que tem gente que não gosta? E eu, que sempre tive bons professores de literatura, percebo que não trabalharam suficientemente os versos de Gregório, que é apaixonado e satírico ao mesmo tempo. Estamos agitando pra esta oficina virar uma turma meio fixa, tomara pq a prof é porreta, embora seja de Santo André não baiana! Terminei numa prosa boa com uma professora tão gente boa, que parece que somos afins há anos, embora tenhamos nos conhecido há semanas. O verso escolhido por mim pra brincar de interpretar semana que vem foi: "Ardor em coração firme nascido!/ Pranto por belos olhos derramado!/ Incêndio em mares de água disfarçado!/ Rio de neve em fogo convertido!/ Tu, que um peito abrasas escondido,/ Tu, que em um rosto corres desatado,/ Quando fogo em cristais aprisionado,/ Quando cristal em chamas derretido./ Se és fogo, como passas brandamente?/ Se és neve, como queimas com porfia?/ Mas ai! Que andou Amor em ti prudente./ Pois para temperar a tirania,/ Como quis, que aqui fosse a neve ardente,/ Permitiu, parecesse a chama fria".

Retiro de yoga

O que pode ser mais restaurador que um retiro de yoga numa pousada com muito verde, lagoa, alimentação saudável, redes e balanço para voltar à infância? Ok, nem tudo são flores: no primeiro dia eu e minha companeira de quarto não deixamos as vizinhas de chalé dormir de tanto conversar, mas logo em seguida minha parceira entrou naquela sono profundo DOS QUE RONCAM e meu descanso foi pro brejo. Já falei sobre a lei de Murphy de quem tem sono leve? É passar a noite ao lado de alguém que dá boa noite e já emenda na soneca barulhenta, não dá tempo do sono pena pregar os olhos... Também teve uma recomendação de uma das professoras que me fez ficar grilada: não fazer invertidas por causa dos meus olhos "hipertensos", quero dizer, com glaucoma congênito. Justo eu que adoro esta postura! Preciso conferir isso com meu oftalmo urgente! Pela primeira vez fiz Yengar, mais focada em correção postural e desconfio que mais torta que eu, impossível... Praticar Hatha ao ar livre foi tudo de bom! Nas meditações livres, fiz um flashback visual do que tem acontecido de bom ultimamente... Suei a camisa na Power... Quase tive overdose de comida natureba - a que me fez descobrir como é delicioso comer bem e ter vontade de aprender a cozinhar... Voltei à infância no balanço... E até eu que não curto, me esqueci no sol... Tive um sexto sentido forte antes desta viagem e trouxe boas lembranças e possibilidades promissoras na mala. Nada como movimentar as borboletas pousadas no estômago novamente!

sexta-feira, setembro 08, 2006

Eu não devia publicar isso, mas acho que é hora de te abortar...

ORDEM DE DESPEJO
Não é muito educado fazer isso com quem já me mostrou que estava viva, que o que julgava morto em mim podia ser aceso novamente e não havia nada de errado comigo, mas é hora de por ordem no cafofo, os pingos nos is, tirar a poeira dos cantos, desacomodar, virar do avesso, fazer doer pra fazer curar.
Venho por meio desta intimação, solicitar sua imediata retirada deste território, mais conhecido como coração, que não te pertence, onde foi fazendo camping e como num jogo de pôquer parecia te ouvir dizer:
- Ninguém sai! Ninguém sai!
Admito que também me apeguei e que fui fazendo vistas grossas para o prolongamento de sua estada e até gostando disso, cultivando esta paixonite misto de fixação e relaxamento, como uma viciada que alterna estimular e desencanar na hora certa...
Estou juntando os trapos, estou reunindo os cacos, mas não sei nem dizer como, nunca me senti tão em paz, por isso para me cicatrizar, me perdoar de vez e fazer as pazes comigo preciso que bata em retirada, para que tudo ainda fique com cara de sonho e não vá apodrecendo aos poucos. Meu velho prof de literatura tinha razão: o que fica mais forte e intenso é sempre o que não vivemos ou que fica no ar, pois o que se esgota, não permanecem reticências pra fazer doer.
Este pedido não significa um nunca mais e sim um quem sabe um dia? Mas é hora de desocupar este teimoso coração, que mais que nunca quer abrir espaço pro novo e nunca mais se apegar ao passado e nem sonhar demais com o futuro, que o presente é a delícia da vida.

Primeiro filhote cênico de 2006, inspirado em Carta Anônima de Caio Fernando Abreu

Eu não devia, mas ainda quero você. Quando nos encontramos ainda não entendo seu afastamento e procuro em mim uma razão racional para uma paixão tão promissora ficar no ar. Me pergunto se estou mais chata, mais feia ou mais gorda. Depois meu racional me lembra que não há razões lógicas para gostar ou desgostar e então me tranqüilizo, ou tento e às vezes até consigo relaxar, exceto quando o coração me assalta, exigindo você e como uma mãe tentando apaziguar o filho rebelde, negocio, ofereço compensações, mas ele raramente aceita, pois é um mimado por natureza. Há dias em que tudo vai bem, pois o trabalho é muito e então agradeço, lembro da minha avó, a mente vazia é mesmo a oficina do diabo? Me parece tão cristão deixar o pensamento correr pra você, pras nossas lembranças, pra minha torcida de que aquilo tudo não tenha sido um sonho e eu tenha mais uma chance, uminha, de me entregar sem pé atrás, de chegar até você de peito aberto, de vomitar o que não consegui dizer e ainda me dói, de me esquecer no quente do seu abraço. É talvez a avó tenha razão pois neste ponto o pensamento não é muito cristão, então sinto as borboletas tomarem o poder do meu estômago, fico rindo até quase sentir cãibra no rosto, quando um calor que não sei como, nem quando e nem onde vai me fazendo esquecer o que deixa a vida cinza. Nos encontramos e você não é nem frio e nem tão apaixonante quanto já foi. Me pergunto o que é pior: abortar a paixonite ainda nos três meses iniciais, quando ela ainda é tão frágil quanto um feto ou deixar que aquilo que não é confiável, duradouro, mas uma pegadinha traiçoeira e irresistível da mente tome posse de nós mesmos, até perdermos completamente o controle da situação? Então sem ter muita noção do estrago desejo secretamente a segunda opção, ainda que ela soe impossível e arrasadora, só para ter a chance de beijar mais, abraçar mais, falar mais, sorver mais tudo isso, em grandes goles, até me engasgar e acreditar que isso tudo também pode ser destrutivo. Vejo um porta retratos com uma mulher entre suas coisas e não me reconheço pois vem à tona um misto de ciúme, inveja e admiração: quem é esta que merece lugar nobre entre suas coisas? Mas não ouso perguntar, sempre sinto entre nós este receio latente de que as palavras e atitudes podem por tudo a perder, se é que já não puseram. Volto querendo chorar por não me conformar com as reticências, por desejar um ponto final definitivo ou um abre aspas travessão... Desabafo com uma amiga de infância, que me conhece e o nó na garganta vai se dissolvendo aos poucos, tudo aquilo não parece tão consistente para tanto inconformismo e de repente nem me parece tão cativante assim, mas meu pensamento e sentimento grudam em você como um vício que é bom e é ruim, é inebriante mas é impiedoso, só que não consigo me livrar disso, talvez por uma esperança que me ronde, lembrando que tudo que já ficou no ar na minha vida acabou precisando de retorno pra fechar o ciclo de vez. Um pavor me assalta: e se este ciclo não fechar? E se ele me rondar para sempre? E se esta mistura de sonho e pesadelo virar um terror de vez, que me amarra e me impede de seguir adiante, com ou sem você? É enlouquecedoramente bom e ruim cultivar esta paixão teimosa por você, mas ainda assim meu sentimental põe o racional pra escanteio e não tenho a mais vaga idéia de quando vou tomar posse de mim mesma de novo. Por ter despertado o que já julgava morto em mim e por sentir falta disso durante tanto tempo, agora insisto em me enveredar por este emaranhado de sensações, mas devia voltar a trabalhar, devia me exercitar, devia estudar, devia fazer um hobby e até faço tudo isso, mas por razões que não ouso entender volta e meia sou levada para perto de você, como uma pena que não sabe onde pousa. Tento me trazer de volta, mas tem dia que a rédea é curta e a saudade muita. Pena que não posso mais pedir para a avó rezar para meu bom senso, auto-estima e pé no chão voltarem. Perder o senso de noção não é meu costume, mas de repente comecei a me deliciar nisso e agora estou com dificuldade de voltar ao meu centro. Onde é que ele foi parar? Você tem razão, não foi de sua responsabilidade me deixar assim, eu é que fiquei desse jeito, agora o sentimento todo não tem uma finalidade e é só para o meu próprio deleite, para me nutrir, para me deliciar secretamente, como quem descobriu uma pérola e agora quer guardar num lugar todo especial, secreto. Dizem que amor é a única coisa que quanto mais damos, mais temos, pena que a paixão não é assim, pena que ela só nos cegue e nos deixe mais perdidos que navio quando passa pela força inexplicável da natureza. Fico assim à deriva até sabe Deus quando, rezando pelo resgate, bote salva vidas ou seja lá o que for a me socorrer deste entorpecimento que escraviza mas também traz uma satisfação e esperança meio masoquistas de quem sabe que não foi sonho e que se ficou sem um the end claro, ainda precisa finalizar a história toda, já que tudo tem começo, meio e fim, mas vivemos na esperança de fugir deste último item. E volto a rir como criança com aquela alegria só minha, que ninguém pode levar embora, nem a sua indiferença, nem os sinais claros de que tudo deve ter terminado... Até eu mesma fora do meu racional sinto que isto tudo também terá um fim, mas me recuso a pensar nisso agora e tento relaxar, desencanar, pois não quero merecer de ti o rótulo de pessoa mais ansiosa que já conheceu. Perdoe a minha ânsia de viver e sorver tudo em grandes goles, sinto muito pelos atropelos e pelas lacunas, por deixar passar chances de conversas necessárias, mas não consegui lidar com o fato de que era bom demais para ser verdade e o medo de falar ou fazer algo que estragasse tudo me perseguia. Seria pedir demais para nos engraçarmos quando isso tudo passar? Já tive ciúmes de futibas, mas de livros e apostilas é a primeira vez. Quem sabe um dia eu te entenda? Espero e rezo para retomar o controle da situação. Enquanto isso me torturo e me deleito, mas depois respiro fundo, medito e reencontro a mezzo zen e mezzo descompensada que sempre fui. Pena que você só conheceu a mais afoita... O outro lado ainda está esperando, aparentemente a vida toda, pelo seu retorno, pelo cafuné, pelo toque, pelo cheiro, pelos dedos, pelos cabelos, pelo irresistível frio na barriga... A criança que vive em mim quer fugir disso tudo, chupar o dedo, tomar leite quente, chorar na cama que é lugar quente e depois tirar uma soneca, esquecer tudo. Você ainda será uma lembrança menos doída, eu sei.

Assaltos surreais

Quem nunca foi assaltado em Sampa que atire o primeiro adesivo da Jovem Pan: Já Fui Assaltado! Sempre me perguntei se os ladrões do trânsito se compadeciam deste protesto e partiam para o próximo carro... O primeiro foi um ladrão do tipo Rafael do antigo grupo Polegar - desses que te pedem um real lá no ABC, disse que não tinha, ele pediu um passe, perguntei se podia ser intermunicipal pq trabalhava em Santo André mas morava na capital, ele aceitou e estava tão drogado que peguei aquelas cartelas com passes para o mês todo, destaquei um, dei e fui embora. Na hora sempre fico tão calma, que os amigos brincam que os ladrões me pedem um passe e eu dou aqueles de centro espírita. Depois chorava e xingava etc e tal.
Na segunda foi um gatuno das antigas, desses que surrupiam sua carteira como antigamente e quando você vê, não há mais documentos, grana ou cartão na bolsa, mas você está no metrô e nem deu tempo de sentir medo! Devo admitir que este foi praticamente um expert, um gentleman na arte de furtar. Daí teve o ladrão educado: que me parou no Cambuci, perto da RadiOficina e disse:
- Por favor isso é um assalto! - no mesmo tom da gravação do banco "por favor digite sua senha" e pegou minha bolsa preta. Na hora pensei nos três anos de contatos e fiz um pedido de jornalista:
- Deixa eu pegar minha agenda por favor!
- Não tem laptop aqui?
- Pode conferir!
Ele me devolveu, pq apesar a bolsa caber um notebook, só tinha um agendão que sem ele, não tinha mais como trabalhar de repórter no dia seguinte.
- Por favor quero dinheiro!
Abri a carteira mas só tinham cartões de visita de entrevistados. Eu sei que devemos sempre tetr o $ do assaltante, mas juro que nesse dia passei em três bancos e em nenhum o sistema funcionou. Sei que daí ele desistiu de mim e de sua educação:
- Ai menina, vai embora, vai! - e quase dividiu o que conseguiu no dia comigo. Haha!
O outro foi daqueles pivetes com pedra na mão que me xingava na janela do meu carro na Paulista e exigia:
- Dá grana, dá!
- Espera aí, o dinheiro não está te esperando, tenho que abrir a carteira, pegar, te dar... Posso?
[foi desse em diante que virei a assaltada zen entre os colegas e familiares]
E o último foi um que pegou meu celular na Liberdade, pediu $, pra varia não tinha [ñ é de propósito não gente, mas ainda não sei se não consigo sair do programa Grana Zero ou do Pau nos Custos], era o primeiro dia de aula do técnico de shiatsu e acupuntura, mas devo confessar que vacilei, estava de janela aberta, meditando e acreditando na humanidade e pela primeira vez não chorei e nem xinguei depois, fiquei com dó dele, era um celular podre e pude comprar outro, mas o que o mané ia conseguir com aquilo? Meio baseado?
Há quem ache que fui assaltada demais. Admito que alterno ser distraída com ser cega e isso é um prato cheio para eles. Mas foram ou não surreais?

Estilosa sim e com orgulho!

Meus conhecidos sempre me classificaram como estilosa embora o antigo fófis me classificasse de baiana por misturas todos os estilos possíveis e imaginários. Haha! Demoro a comprar roupas e sapatos e quando levo, tem que ser com jeitão único, com uma cara personalizada. Brinco que sou o terror das vendedoras pq cismo com uma peça que não acho ou gosto de algo que vejo em alguém mas não deu tempo de perguntar onde comprar - portanto não adianta trazer a opção B pq não compro por impulso. Sou incapaz de pregar um botão mas tenho ótimas idéias, de lojinhas descoladas a cara da Vila Madá e preciso de alguém bom no operacional pq não consegui fazer a oficina de customização de roupas que o Sesc promoveu. Mas sempre fugia deste rótulo de estilosa, por achar que sou só meio farejadora de coisas diferentex e só. Há três anos em assessoria de imprensa, devo confessar que sofri para me habituar a me fantasiar de executiva. Só que me adaptei tanto ao personagem que criei em horário comercial, que agora, num cliente informal, em que as pessoas vão de tênis, jeans e camiseta e até blusa com furinho encontrei, devo confessar que estou sofrendo o contrário para me despojar novamente. E percebo que meu informal nunca passa batido: ou é muito colorido, ou é muito hippie, muito indiano ou muito zen. Só sei ser over. E finalmente admiti que minhas amigas têm razão: sou estilosa. Ou como definiu a colega de trabalho: meio hippie roots zen cult neo indian. Quem sabe ainda não abro minha lojinha?

De pq eu devia ser antropóloga...

O antigo fófis dizia que devia ser antropóloga pq amo miséria. Tirando a intimidade promíscua de muito tempo junto e o lado vampiresco destas afirmações, devo admitir que devia ser por adorar projetos sociais que envolvam cultura e driblem situações adversas - como a pobreza. Mas preciso confessar que amo um povão! Adoro ir pro Heliópolis, pra rádio comunitária, pros projetos sociais que admiro, pra 25 de março, pra Zé Paulino, dar corda e ouvir sem pressa a terceira idade e infância carente simples que circula por aí. Em todos os lugares que passei sempre fiquei camarada das faxineiras, estagiários, enfim, sempre me dei bem com a ralé. Devo confessar que já fui preconceituosa com a plebe e hoje ainda sou meio ressabiada com os mais favorecidos, numa espécie de preconceito às avessas. Uma amiga do teatro me chamou para uma caminhada na serra do mar, adoro natureza, mas o que mais me atraiu nesta brincadeira foi a confraternização com os índios no final - sempre senti que se visitasse uma tribo não voltaria mais e quando via ou ouvia seus cantos, assim como os afro brasileiros, algo ressoava em mim a ponto de querer chorar de alegria. Mas quero contar pq sou corinthiana desde antes de sair da barriga da minha progenitora, embora não consiga ser apaixonada por futebol - claro que ser o Timão do povão contribui, mas a mamma conta que quando estava grávida de mim eles estava sem ganhar há anos e anos e levaram um título importante, fazendo a barriguda pular e comemorar - só que quando ela parou, eu continuei saltando e ela passou mal. Tenho certeza que foi aí que meu coração se tornou branco e preto e muito, muito popular, quero dizer pop total...

"Eu vim de lá eu vim de lá pequenininho...

...alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho". Gente, vou contar uma coisa que a maioria já sabe. Max de Castro é tudo e pessoalmente, é mais ainda! (rs) Assisti ao show dele no Studio SP (finalmente uma casa noturna não claustrofóbica!) nesta quinta e amei, queria agradecê-lo pessoalmente de tanto que curti. Hehe! Só não estava com o sapato certo para dançar e fiquei com parte da perna dolorida, mas nem tudo são flores nesta solteirice. Finalmente cheguei ao ponto que minha amiga do teatro havia recomendado: quando a gente fica numa boa sozinha, daí sim dá pra partir pra outra. Devo confessar que ainda estou fazendo as pazes comigo, me perdoando, cicatrizando e fechando um longo ciclo de demorada finalização. Mas já consegui desencanar com quase tudo, execto a paixonite, mas a natureza dela é a urgência mesmo. Só que já estou enxergando sob outro ponto de vista: o chega pra lá deste moço está me proporcionando uma liberdade e varieadade que nunca tive, nunca pensei que sentiria falta e nunca julguei importante passar por isso. Mas como é! De certa forma tenho que ser grata a ele! É aquela velha história: apesar de você, amanhã há de ser, outro dia... Finalmente já tenho loucurinhas divertidas para compartilhar e por elas valeu a pena romper com o clássico, padrão e tradicional confortável. Sei que ontem tive uma noite Sex And The City com duas camaradas de mesmo nome, como diria o Pedro Cardoso, uma pândega ou cá entre nós divertidérrimo! E um almoço indiano hoje que me faz sentir capaz de botar minha alimentação em ordem... Vou realizar um antigo sonho: fazer um retiro de yoga! Grazie a Dio há uma semana mantenho minha paz de espírito, quase como um integrante do AA: um dia a mais sem descompensar. Ainda não sei bem a razão e não consigo precisar se são várias, mas nem adiantaria por uma fórmula aqui - cada caso é um- , mas estou começando a tornar minha felicidade independente dos fatores externos e curtir o caminho: não serei feliz só quando chegar lá, já estou sendo...

sexta-feira, setembro 01, 2006

A Vida é um Segredo Sussurado por Deus Numa Noite de Chuva

Ontem fiz minha primeira vivência de tantra. Foi muito fugaz, mas intenso e especial. Ao contrário do que imaginam sobre esta prática e as aulas de teatro, não é um oba oba. Dá para participar sem experiência e por conta própria, sem um par. Enfim, foi só uma introdução mesmo e uma vivência para nos reconectarmos aos nossos sentidos, tão pouco explorados. O que mais guardei do bate papo foi o lance da energia: onde focarmos nossa atenção, perdemos ou fortalecemos nossa energia. É um bom puxão de orelha para voltar ao momento presente. Os terapeutas nos conduziram e participei com uma professora de yoga tão zen, que quando ela soube da síndrome de Down do filho há um ano e pouco atrás não ficou maus! Bem que sempre afirmei que este tipo de disfunção permite ao portador viver eternamente na infância: ela disse que ele é só amor mesmo, o que permite um certo reconectar com o sensorial. Fiquei tão entregue à música, à tal polaridade, respiração, foco no outro que quando me abraçaram chorei, mas uma coisa muito boa, como em algumas meditações. Fiquei com vontade de ir aos encontros que promovem de finais de semana. Mas o local onde fazem me promovou um rápido flashback, trouxe recordações boas e ruins e suspeitas de volta ao passado. Pra completar, hoje comi num natureba maravilhoso aqui perto e devo fazer um retiro de yoga com uma amiga do bairro na semana que vem. Maravilhoso mundo do equilíbrio, aqui vou eu!