Desabafos de uma jornalista, aspirante a atriz, shiatsuterapeuta e professora de yoga...

domingo, janeiro 29, 2006

Sempre é tempo de mudar nossa energia

Percebo que já estou cortando o cordão umbilical com a profissão que romatizei, idealizei e sonhei desde a infância. Quando era nova, viajava com meus pais e ao passar pelo antigo prédio da Abril na Marginal, dizia que ia trabalhar lá quando crescesse. Bem, cresci e nunca pude fazer os cursos "trabalhar de graça para nós por um tempo razoável é um investimento na carreira que poderá render uma vaga aqui no futuro" das empresas que incluem o nome que trarão ao currículo como parte do pagamento. Mas isso não vem ao caso. Estou "desmamando" da minha profissão, pois há pouco mais de uma semana fui ao happy hour que uma colega da área promoveu em sua casa e passei a noite conversando com a vizinha massoterapeuta. Aliás, bendita conversa, me ajudou na prova de bolsa ao técnico de shiatsu e acupuntura! Que astral bacana dela! Em outro reencontro de coleguinhas, confirmei o que minha amiga que voltou para Londres afirmou sobre a área: "não tem um que diga que está feliz, que gosta do faz". A maioria dos que conheço quando se encontra entra numa competição de quem tem o pior salário, o pior chefe, as piores condições de trabalho... Pode não ser assim entre a meia dúzia de Glória Maria que tem por aí, mas entre os pobres mortais, que ficaram à margem dos salários e trabalhos de sonho... Não estranhei esse espírito... digamos crítico do jornalista pois meu pai sempre reclamou e xingou além da conta e como brinco que não tinha nada para me passar geneticamente que não fosse defeitos, sempre fui irônica, debochada, exagerada e rebelde. Mas há quem me classifique de reclamona pois raramente mudo o tom de voz para brincar, então freqüentemente sou mal interpretada. Sei que de repente me desidentifiquei tanto com o jeito ariano do meu pai de ser, que estoura à toa, xinga e roda a baiana a troco de banana e com a prosa chororô da maior parte dos meus colegas de área "nós jornalistas, esses incompreendidos"... Estranhamente, de repente não tenho mais nada a ver com esse clima... Antes tarde do nunca, sempre é tempo de mudar se sintonia e energia! Meu técnico de shiatsu e acupuntura e o curso do livro budista Caminho Alegre da Boa Fortuna (sobre os passos à iluminação) são apenas o início da minha viagem de auto conhecimento, que espero não acabar nunca!

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Não acredito!

Não acredito que quem tem cabelo liso saiba realmente o que é bad hair day. Que quem mora do lado de rio fedorento de divisa de município e da maior favela de São Paulo (eu inclusa) é classe média. Que quem mora perto da Paulista é pobre. Que quem gasta 4 mil no cartão e conta isso para quem ganha menos se toca. Que gente que compra na Daslu (gente?) tem senso de noção.

Que o pessoal que toma sol e pega cor saiba o que significa pele branca que não fica bronzeada, no mattter how hard you try. Que aqueles que nunca fizeram outra coisa além do corre-corre das redações de rádio, TV, jornal, revista, site ou agência conheça a real cobrança e pressão. Que motoristas com carro com ar-condicionado e direção hidráulica saibam o que é calor insuportável ou suar a camisa para estacionar.

Duvido que quem votava em qualquer um aprendeu e amadureceu tanto quanto os petistas com orgulho ferido. Que quem nunca fez uma greve, protesto ou passeata saiba o que é direito dos excluídos. Que quem usa Macintosh enfrente um computador que se recusa a continuar.

Que quem nunca cobriu TI, logística, siderurgia, petroquímica, energia ou finanças saiba o que é boiar e quebrar a cabeça numa pauta. Quem quem nunca teve chefe mulher compreenda o significado das palavras surtado, TPM, insegurança, competitividade e misturar vida pessoal com profissional

Que quem afirme não gostar de cinema ou teatro tenha assistido filme ou peça em que esqueceu que era de mentira. Que os que não gostam de ler tenham sido apresentados a livros que te façam voar longe, ter boas surpresas ou esquecer da vida rindo. É ruim que a galera que tem preguiça de ir na academia saiba que há atividades físicas que dão o mesmo cansaço bom de quando se banca o latin lover heim!

Que as pessoas que metem o pau em trabalho voluntário tenham se disposto a ajudar e foram mais ajudadas do que se doaram. Que os que tiram sarro de meditação tenham testado o método e chegado ao céu, paraíso, nirvana ou batize como achar melhor! Que casais que nunca dividiram o mesmo teto, cama, controle remoto, pia do banheiro e contas do mês saibam a real dimensão do amor.

MELHOR SINCRETISMO DA DIVERSIDADE CULTURAL BRASILEIRA

Hoje meu chefe disse que sou isso aí que está no título. Achei tão legal que não devo dormir de alegria. Mas para quem não entendeu o papo cabeça do meu diretor, explico melhor. Gosto de yoga, mas quase choro quando vejo algo ou escuto músicas e festas de umbanda ou candoblé. Amo comida natureba mas não resisto a um fast food de vez em quando.

Amo reggae e MPB, gosto de rock e pop e amodoro música latina, indiana contemporânea e regional com cara de novena nordestina. Amo documentário mas também não resisto a uma comédia romântica. Sou fã de biografia mas li muito romance espírita. Escrevo matérias e releases mas sou apaixonada mesmo pela produção de peças e livros.

Tenho uma queda por peças com fundo histórico mas já fui tocada por romances. Rezo para Buda, mas também peço para Deus, Nossa Senhora, menino Jesus, Santo Antônio, Santa Edwirges, São Caetano, Nossa Senhora Aparecida, São Francisco de Sales (dos jornalistas), São Francisco de Assis e Santa Luzia. Enfim, para o que chamo de Liga da Justiça.

Tenho uma pulseirinha do mantra do Buda da compaixão (Om Mani Padme Hum), um anel do Om (o som universal – ainda crio coragem para tatuar isso nas costas) e um Santo Expedito em cima do computador pois tudo no jornalismo é para ontem. Admiro trabalho voluntário assistencialista mas também acredito em qualificar para caminhar com as próprias pernas.

Quero ter uma barriguinha enxuta mas só faço o que me dá prazer – yoga, body balance, pilates... Sou libertária mas crio raízes. Proletária com alma de artista. Procuro não consumir o que não é produzido sustentavelmente e tenho dó de matar bicho e inseto. Sempre reúno os amigos mas adoro conhecer gente nova. Enfim, além de ser uma colcha de retalhos, também sou contraditória como todo ser humano que se preze!

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Sou proletária mas tenho alma de artista!

A melhor coisa de viajar 15 horas em dois dias para comparecer ao casamento de um amigão no estado em que tudo é pertin, além do fato de não ter perdido um acontecimento que nunca mais se repetirá como um aniversário, por exemplo, foi conhecer e bater papo durante a festa inteira com músicos e artista plástico, convidados da noiva mineirin.

Que visão de mundo, que cabeça aberta, que papo gostoso e que forma apaixonante de ampliar a visão de tudo! Que jeito divertido de olhar minha profissão de fora e admitir seus defeitos mais sórdidos, que instigante a possibilidade de gravar e filmar a música dos índios no Xingu! Eu não sabia, mas sou uma apaixonada pela antropologia musical!

E que forma bacana de revisitar minha velha paixão pelo desenho com traço de história em quadrinhos (HQ). Ou, como diria a portuga que entrevistei uma vez, tirinhas desenhadas. Que debate interessante ouvir fotógrafos pró e contra o digital e para consolo de minha amiga professora, descobrir que não é só na área dela que se escuta: “mas além de fazer isso, você também trabalha?”

Que comédia descobrir minha própria ignorância sobre assuntos como vídeo instalação e escala musical. Que sede de aprender, ler, estudar, conhecer, ir atrás, conversar mais... Que vontade de retomar minhas antigas vontades de aprender a tocar saxofone, esculpir com materiais maleáveis e pintar quadros abstratos. Sou pião mas meu coração tem veias artísticas! Ainda que à distância, obrigada novos amigos mineirinhos!

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Vale a Pena Viver Para...

A gente sente que a vida vale a pena quando supera desafios profissionais. Quando percebe que consegue tirar leite de pedra. Que transforma um assunto aparentemente desinteressante numa pauta que emplaca. Quando divulga pautas ligadas ao terceiro setor e efetivamente ajuda alguém que precisa. Quando chefes e clientes reconhecem seu esforço. Quando chega no ponto de fazer pequenas extravagâncias reconfortantes com o que ganha. Quando se sente mais repórter como assessora de imprensa, tamanha a preguiça dos jornalistas atuais.

A vida vale a pena quando a gente banca o latin lover. Quando uma conversa alivia angústias insistentes. Quando descobre que não precisa ter grana para ir em barzinhos, que reunir amigos e familiares em casa é tão maravilhoso quanto, apesar de toda a bagunça que fazemos e da falta de som ao vivo. Que conseguimos ver shows que fazem valer não apenas o ingresso, mas músicas e imagens que enchem os olhos e o coração para sempre. Quando caminha em folhas secas, encontra um sol quentinho no inverno, se esquece no mar ou na piscina no verão ou se fica despreocupado contemplando flores embasbacada na primavera.

Vale a pena viver para rolar no chão com o cachorro e voltar à infância, esquecendo qualquer cansaço ou stress. Quando a gente esquece da vida brincando, conversando ou só admirando crianças. Quando um bate-papo com pessoas na Melhor Idade te fazem voltar no tempo e aprender. Quando conquista a atenção e o envolvimento de aborrescentes numa discussão de qualquer tema.

A vida vale a pena quando descobrimos que atividades físicas nos deixam com um cansaço tão gostoso no final, como quando bancamos o latin lover e nos viciamos de tal forma na liberação de serotonina no sangue, que quando não podemos fazer sentimos falta. Quando nos esquecemos para viver outro no palco. Quando nos esquecemos que é de mentira como expectadores e choramos junto.

Vale a pena viver quando nos colocamos à disposição de ajudar o próximo, seja lá quem for e somos ajudados. Quando recebemos mais do que damos. Quando meditamos e descobrimos que, milagre!, há estados de espíritos que te levam para o céu DENTRO DE NÓS MESMOS. Quando esses momentos contemplativos provam que a felicidade independe de condições externas. Quando descobrimos que podemos superar qualquer medo e aprender qualquer coisa que nos dispusermos.

A vida vale a pena quando caminhamos na praia. Quando fazemos trilhas no meio da natureza e nos encantamos com os animais e insetos que encontramos. Quando esquecemos da vida com os pés num rio fresquinho em um dia calorento. Quando nos encantamos com cachoeiras ou podemos nos enfiar embaixo delas.

Vale a pena viver quando tocamos alguém com nosso texto. Quando emocionamos em nossa apresentação teatral quem assiste. Quando somos reconhecidos pelos envolvidos em nosso trabalho voluntário. Quando nos sentimos tão tocados numa igreja ou centro a ponto de sentir vontade de chorar, mas de felicidade. Quando uma prática esportiva leva o stress embora. Quando rezamos e nos sentimos reconfortados ou atendidos.

A vida vale a pena quando um filme ou peça nos toca muito, nos ensina algo que não sabíamos ou amplia nossos conhecimentos. Quando aprendemos com um livro, que queremos devorar o mais rápido possível, mas ao mesmo tempo temos dó quando acabamos a última página.

Vale a pena viver quando sentimos que temos que escrever um conto, uma peça ou livro e apesar de não ser o que esperávamos ou planejávamos, encanta mesmo assim. Quando nos esquecemos numa rede, seja lá onde for. Quando a gente se delicia num ofurô ou hidromassagem. Quando esquecemos da vida entre amigos e familiares, em conversas divertidas. Quando rimos até cansar a barriga. Quando tomamos chuva de verão. Oba! Esse texto é maior que o da deprê, o que quer dizer que não sou tão pessimista quanto alguns acham...

Acho deprê...

Em homenagem ao meu amigo que acha que minha palavra favorita é deprê... No é vero! Minha palavra favorita é liberdade, mas devo admitir que acho várias coisas deprê e como amo fazer listinhas, aqui vai mais uma delas. Acho deprê ter amigos morando e oferecendo hospedagem na Austrália, Londres, Paris, Portugal, Espanha e Israel, mas não ter grana para visitá-los. Saudade, na maioria das vezes é deprê. A menos quando temos certeza de que reencontraremos os dito-cujos que fazem falta...

Acho deprê saber que posso fazer melhor, mas só conseguir fazer o que dá ou de qualquer jeito. Acho mais deprê não ter o “quifa” do que ter demais, depender dos outros para continuar o que precisa ser feito, falta de infra, de reconhecimento, de um auxílio. Acho deprê empresa tão analfabeta em comunicação que não há mídia training que resolva, tem que ir para a facu e voltar ao negócio em 4 anos. Acho deprê repórter preguiçoso, que se nega a pesquisar ou a ler o texto que recebeu e tem tudo que precisa.

Acho deprê gostar de atividades físicas meio diferentes tipo power yoga, swim pilates ou a mesma modalidade nos aparelhos, aula de circo, body balance... E saber que vou à falência se me meter a fazer todas, pois nunca há um lugar com tudo isso e se tivesse, provavelmente não seria acessível ao meu humilde bolso proletário. Acho deprê perceber que já amei natação e tenho achado meio repetitivo ultimamente. Aliás acho deprê perceber que coisas que já me apeteceram ao ponto de ter que tomar Lexotan quando não podia continuar, não me empolgarem mais (calma, sou só exagerada, grazie a Dio nunca tomei anti depressivo).

Acho deprê fazer trabalho voluntário e perceber que quando a gente vai ajudar e os beneficiados não se ajudam, ninguém sai do lugar. Acho deprê perceber que na maioria das escolas, colégios e projetos educacionais, a educação foi encarcerada numa camisa de força burrocrática e impossibilitada de alterar algo, somente cumpre protocolos, relatórios, planejamentos... Acho deprê quando me dão esperanças e depois me deixam no vácuo.

Acho deprê confiar na arte como forma de realmente revolucionar algo mais amplamente e perceber que estou num grupo que agita, quer montar peça, mas quando surge a oportunidade, dá para trás. Aliás acho deprê a letargia da maior parte dos aborrescentes, que quer tudo, mas não vai atrás, não se esforça, se paralisa e chora as pintagas.

Acho deprê me apaixonar por algo, como as aulas de circo do meu grupo de teatro e depois não poder continuar, por falta de infra e também por novas paixões terem entrado no caminho. Acho deprê descobrir novas paixões inebriantes e não poder me dedicar somente a elas na hora em que sou arrebatada, tudo tem que ser planejado, aos poucos, devagar se vai ao longe.

Acho deprê perceber que invento milhares de coisas para aplacar minha urgência de viver, mas o cansaço que provém delas me levar direto para cama, passando batido por uma das poucas coisas que realmente traz felicidade na vida, a meditação. Acho deprê perceber que evoluímos tão devagar quase parando em tudo. Acho deprê perceber que até para evoluir espiritualmente é preciso grana! Acho deprê quando cismo que tudo na vida é leeeeento...

Acho deprê sentir vontade de ter filho, morar no meio dos índios, viver numa ecovilla, escrever livros e peças, fazer videorreportagens de projetos culturais que revolucionaram regiões carentes, conhecer o litoral do Nordeste, mas faltam $ ou tempo para tanto. Desculpe começar o dia reclamando, mas minha urgência de viver volta e meia me sufoca. E ainda não tenho nem 30 anos!

quarta-feira, janeiro 04, 2006

As campeãs do insuportável

Sempre que se discute quais as piores sensações: frio, calor, fome, vontade de fazer xixi, dor, acabamos em empate técnico. Mas ainda acho estar apertada a número um na categoria “eu não agüento, eu não agüento”, parafraseando os Titãs. Deve ser por ter passado por duas infecções de urina na infância e ouvido tanto para não segurar quando quero ir, que assimilei a lição até demais.

Sou da época em que se fazia ultrasom com um barril d’água na bexiga. Queria morrer quando ouvia das atendentes: “toma por favor aquele filtro d’água e aguarde até não suportar mais?” Claro que elas eram menos irônicas, debochadas, exageradas e sarcásticas que eu, que quando ouço do gineco: "relaxa", respondo: "ih, só agendando de novo e trazendo o marido". Imagine minha alegria quando inventaram um ultrasom em que não temos que chorar de vontade de ir ao banheiro. Há quem prefira a água ao bilau eletrônico da máquina. Aliás tenho várias amigas que tomaram um susto quando viram o dito cujo na tela e de tanto medo, perguntaram:

- Quem é esse? – a neura era tanta que deviam estar ouvindo o tum tum de um baby fictício.

Calor vem logo depois. Tudo bem que sou do tipo que prefere inverno ao verão, a menos que esteja dentro de algum mar com biquíni. Nada mais odioso que um sol do tipo Rio 40 Graus fantasiada de executiva, no trânsito (não, meu carro mil não tem ar...), no ônibus ou andando a pé. Se espero 10 minutos parecem que foram 40, se ando um quarteirão parece que foram dez. Sei que sou suspeita pois com pressão baixa a gente sempre tende a ser tendenciosa...

Minha fome é sinistra. Se não consigo parar o que faço para atendê-la, volta só daqui horas. Mas na maioria dos casos estômago vazio, frio e dor irritam muito, mas tem uma hora que você realmente sublima, faz de conta que não sente mais ou fica parecendo aquele formigamento que está ali mas não é insportável. Muito sono? Só acho chato quando começamos a pescar em reuniões e atrás do computador, mas não é a pior das piores, decididamente. Deu para perceber? Adoro listinhas (rs).

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Divisões...

Os que gostam de cães discutem com os que preferem gatos. Os que amam verão não entendem os que gostam do inverno. Os que não resistem ao doce invejam os que preferem salgados. Os fãs de praia não viajam com os apaixonados pelo campo. Os rockeiros não entendem os amantes de MPB. Os que pulam no axé não compreendem a viagem dos que sentem o reggae mais fundo. Os ateus zombam dos crédulos. Aqueles que tocam acham que os que atuam curtem peças feitas para os atores: muito trabalho corporal, de voz, atenção à fotografia, à luz... Mas... Alguém aí entendeu alguma coisa?

Há quem aposte na revolução pela educação, há quem só acredite nela pela arte. Os que se exercitam pela estética e os que se viciaram no bem estar da liberação da serotonina. Há quem defenda o trabalho voluntário e quem o condene pelo caráter assistencialista. Há quem fuja do medo e há quem tenha o prazer de enfrentá-lo e vencê-lo. E os que preferem rios contrastando com os amantes do mar. Tem quem opte pela qualidade e quem priorize a quantidade. Quem bebe em casa e quem não resiste a uma mesinha de boteco bom e barato na calçada.

E você? Em que divisão se encaixa? Eu sou do time que ama misturar as tribos.

Brandão de coração

Decidi adotar o sobrenome dos meus ilustres avôs e trocar meus sobrenomes clássicos de sapatão de novela (repare: toda cola velcro é Machadão ou Mendonção, ninguém merece). Não me conformo que minha mãe não me deu Brandão. Não tem problema, passo por cima de toca a burrocracia brazuca e assino o novo de coração mesmo.

É um lance de numerologia sem consultar numerólogo...Não, a culpa de não ter grana para bancar um que não seja picareta não é minha. Se eu não agüento mais estar sem grana, imagine os amigos e familiares que escutam a mesma ladainha há pelo menos dois anos e meio. Casar pode ser prejudicial ao saldo bancário positivo! Acho que o nome que adotei profissionalmente não me levou para onde sonhei. Sinto que a mudança me trará bons ventos! E ultimamente tenho dado muita importância ao feeling...

Essa modificação deve ser por não me sentir mais a mesma. Não ponho mais todas as esperanças numa possibilidade como se fosse o último bote salva vida e nem fico arrasada quando não dá certo depois. Não acho mais que a profissão é a minha vida, apenas uma parte dela. Como dizia Veríssimo, não confunda sua carreira com sua vida. Não me empolgo mais com trabalhos workaholics exploradores que me encantavam há anos atrás. Não acho mais que como atriz sou uma ótima jornalista. Não acredito mais na revolução pela educação e muito menos no comunismo/ socialismo tão idealizados pelos meus familiares (será que isso foi aplicado de forma tão sonhadora e romântica em algum lugar do mundo?). Não acho mais tão absurda a idéia de se tatuar e ter aquele desenho pra sempre comigo.

Não acredito que possamos ajudar os adolescentes, pois a maioria não se ajuda e já é caso perdido. Não acho mais que natação é o esporte mais legal do mundo (só se conseguisse comprar o óculos de piscina com MP3 para espantar o tédio do movimento repetitivo). Não acredito mais em fidelidade, só em lealdade (contanto que não durma com amigos, colegas, parentes, familiares e vizinhos e não fique sabendo, tudo bem). Só acredito em revolução interna, reforma íntima, evolução espiritual. Enfim, acho que a maturidade está chegando. E ela combina com um sobrenome novo.

Genuinamente brasileira

Quando fui para os Estados Unidos, ficava P da vida quando os gringos duvidavam que fosse brasileira, cumprimentando eu e minha tia branquelas com “bonjour”! Onde já se viu não saber que o Brasil não é feito apenas de negros e índios? Não perdoava aquela ignorância americana de quem só conhece o próprio umbigo.

Mas quando fui para o Rio de Janeiro e a Bahia e ouvi os baianos e cariocas tentando adivinhar minha nacionalidade por eliminação:
- Bomjour! Good Moorning! – e mais todas as línguas que pudessem arranhar, perdooei a ignorância dos gringos: nem os brazucas acreditam que sou daqui!

E pensar que meu avô, que era apaixonado por árvore genealógica e descobriu os nomes e origens até os tatatatatatatatataravôs, não encontrou um gringo. Essa é uma família autenticamente brazuca. Ou como dizia ele, só tem caboclo e capiau! Para você ver como cor de pele não quer dizer nada. Lógico que com essa bocona e cabelinho que não é ruim por um triz, devo ter um pezinho na cozinha... Não, isso a árvore genealógica não diz...

Os que preferem Natal e os que amam Ano Novo

A família do meu pai, que por tradição mantida há cinco gerações, é primo da minha mãe, sempre comemora que não puxei o lado da minha mãe, dos primos “nervosos”, tidos como malucos antigamente. Mas no fim do ano me alterno nos estados família feliz do lado do meu pai, no Natal e flerto com o precipício da depressão no ano novo, mostrando que não nego minhas raízes “malucas”.

Ao contrário da maior parte dos adultos que conheço, amo Natal. A maior parte da família do meu pai se reúne, se diverte com amigo secreto de presentes comprados a R$ 1,99 e nesse ano demos ainda mais risadas pois fizemos aquela modalidade de roubar o presente do outro. Época de por a conversa atrasada em dia e de me refestelar com uma família tão abençoada: ninguém se envolveu com drogas, ninguém virou bandido, ninguém apanha de marido, ninguém sofreu violência traumatizante e nem foi acometido de doença traiçoeira. Ainda por cima, se ajudam nos apertos financeiros. Mas como não podíamos ser perfeitos, somos estúpidos, estourados, sinceros demais...

Já no ano novo... Sempre me bate um nervoso que me lembra que também sou feita do lado mais sensível da família. A maioria viaja e eu quase nunca consigo, pois quando não estou de plantão, estou sem grana. Gosto da cidade mais tranqüila, mas sinto falta dos amigos e familiares que não estão próximos. O budismo tem razão, somos tão contraditórios que a única vez que consegui ir para o litoral paulista, quis voltar no dia seguinte, pois amo praia e viagem, mas odeio fila e trânsito de alta temporada.

Fico meio assim pois o único fim de ano tudo de bom que tive, de 2000 para 2001, viajando entre Fortaleza e Praia da Pipa, com a ex-namorada do meu cunhado, foi tão único que nunca mais se repetiu e meu marido não pode ir junto, pois ser MICOempresário é isso mesmo, nunca poder abandonar o negócio para a casa não cair. Daí fico mais P da vida ainda pois o máximo que já conseguimos viajar juntos foram dois dias e meio na lua de mel tipo fast food. A personagem da Glória Menezes no filme Se eu Fosse Você tem razão: “quem diz que dinheiro não compra felicidade, não sabe o endereço da loja”. Ok, sou descolada e viajo em baixa temporada e em albergue da juventude, mas custava ter tido mais reveillons inesquecíveis e com menos nervoso de virada? Como é possível ter tantos amigos com casas e apês na praia e raramente conseguir molhar os pés? Confesso minha culpa no cartório: mesmo sem os plantões de antigamente, nunca paro meu teatro, trabalho voluntário, centro budista, natação, aula de circo... Tudo de fim de semana, claro...

Brinco que a virada foi família demais, pois passei com a família do meu marido e meus pais, mas digamos que a sogra & cia são menos animados que os meus vários primos e agregados. Ou, como costumo dizer, família é que nem pum, cada um só é capaz de agüentar o seu mesmo...