Desabafos de uma jornalista, aspirante a atriz, shiatsuterapeuta e professora de yoga...

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Desejos de Natal e Ano Novo...

Sei que como dizem os budistas, o desejo é um dos infernos que criamos, pois quanto mais quero, mais me frustro e sofro. Só que ainda não consegui me livrar de vários deles... E como autenticamente ocidental que sou, quero estudar e trabalhar com yoga, massagem e acupuntura, quero voltar a fazer pilates nos aparelhos, circo, trabalho voluntário, meditação e peça, quero um jeep vermelho com adesivos como "Não é o jeep que é duro, você que é chato", quero um apê de três quartos, perto do metrô, elevador, com sacada e rede, quero um celular Siemens SL 55 vermelhinho, um toca CDs para o carro, uma digital da Kodak com aquela impressora que deixa as fotos a prova d´água em minutos, quero ir para Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Fernando de Noronha, Itália, Espanha, Cuba, Jamaica e França para ao menos morrer feliz, quero terminar o espanhol e começar o curso de italiano com direito a estágio na terra do Papa, quero fazer power yoga com a aula que filmei em casa, quero ter mais alongamento, ter mais vaidade para batalhar pelo condionamento e enrijecimento, quero voltar a fazer caminhadas, quero ver se lembro como se anda de bike, quero andar de moto e ter um tipo de vespa, quero comer peixe gratinado e sorvete com farofa doce, quero fazer trilhas e tirolesa, quero não perder os shows dos Rolling Stones, U2 e Madonna, quero tomar banho de chuva, quero andar em folhas secas, quero banhos de cachoeira e mar, quero ficar mais com meus amigos e familiares. E, o quanto antes, para me tornar budista nos atos, pensamentos e atitudes, quero aprender a viver bem sem nada disso!

Receitas anti stress do trânsito

Tenho pelo menos quatro receitas anti nersoso dos congestionamentos de Sampa: na ida, testo todas. Primeiro rezo ao que chamo de Liga da Justiça: Deus, Buda, santos e afins. Vale pelo significado espiritual da coisa e também por desviar a atenção do impasse de andar tão pouco. Depois faço exercícios respiratórios do teatro - e nesse ponto pareço uma louca com a maioria deles, destaque para o que parece de grávida tendo nenê com a língua para fora. Já ouvi: "- Fecha a boca!" de um caminhoneiro, mas daria tanto trabalho para explicar que estava fortalecendo o diafragma que o trânsito semi estagnado melhoraria antes do fim da explicação. Em seguida, canto/ rezo o mantra Om Mani Padme Hum, do Buda da compaixão. Para completar, entre um e outro, desengato, tiro o pé da embreagem e puxo o freio de mão, evitando dores musculares. O melhor mesmo é ter um livro, jornal ou revista à mão para provar que lei de Murphy funciona: comece a ler e o trânsito anda. Na volta só canto mantra e leio, mas devo confessar que há momentos em que nada funciona, como quando você têm que chegar na hora ou está tão cansada que só quer sua casa. Um deles é tiro e queda: com o mantra, há dias em que chego tão calma, que faço questão de olhar no relógio. E pasme, levei o mesmo tempo de sempre, mas parece que passou mais rápido.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Padma Drechen

O budismo se tornou algo tão forte e presente na minha vida, mas não consigo me lembrar quando comecei a freqüentar meu primeiro centro, na Vila Mariana. Dois anos? Um ano e meio?Era bom, mas até então não sabia que podia ficar ótimo. Quando comecei a receber por e-mail a programação do Odsal Ling, na Brigadeiro Luís Antônio, vi a foto da Lama Tsering e foi como se ela me pegasse pelo coração, como um colega do outro centro contou que aconteceu com ele com o Geshe La. Ainda demorei para conciliar a programação de lá com minhas 1001 atividades, mas quando finalmente consegui, os ensinamentos dela me tocaram tanto, que até me “batizei”: meu nome de Dharma (prática budista) é Padma Drechen, Grande Felicidade. Como me sinto em paz lá! Todas aquelas cores, imagens, sons! Essa semana voltei lá, foi apaziguador e na lojinha tive um surto consumista que quem me conhece sabe que não é típico: saí de lá com brincos, livrinho e adesivos e só não levei mais por juízo de dura convicta mesmo. Impressionante como amo lojas zen! Minha perdição econômica! Não sabia como era dez a gente se encontrar numa religião assim: é como se voltasse para uma casa inacreditavelmente familiar. E olha que sem conseguir meditar todo dia, já me livrei daquelas pontadinhas de inveja que me envergonhavam... Espero que todos se encontrem numa religiosidade que encha a alma em 2006. Como o mundo precisa disso!

Atuar é tudo!

Sempre brinquei que como atriz sou uma ótima jornalista pois todas as vezes em que apresentei cenas havia mais textos meus que falas minhas. Esse ano descobri que também amo atuar pois nada mais inebriante que esquecer que é de mentira, perder o controle da voz, não ouvir mais a música ou o murmurinho da platéia. Um amigo da Casseta Mercantil tinha razão: não precisamos de memória afetiva, precisamos acreditar e viver a história do personagem. Precisei de anos de curso para na terceira oficina descobrir que ele tem razão, quando apresentei a guerrilheira que falava de tortura, luta armada, exílio e anistia. Mas é F descobrir isso aos 28 anos, quando outra profissão já te sustenta e não dá para trocar o certo pelo duvidoso, o que dá prazer pelo que dá grana. Gozado que na terceira oficina teatral da minha vida, minha veia criativa desabrochou: impressionante como criação é divino e tem vida própria, vem quando menos se espera, diferente do planejado ou esperado, quando não se tem caneta ou papel. O tempo no trânsito tem sido fértil: primeiro veio o esquete, meses atrás, depois desencanei e na semana passada, de repente, continuei a história no carro, repetindo o caminho todo para não esquecer. Sempre pensei em levar isso como hobby, para não prostituir economicamente como aconteceu com o bom e velho jornalismo, mas nessa altura do campeonato, quero mais é não abandonar nunca: palco é tudo. Como diz minha amiga de coxia Camila, desejo muita “merda” em 2006! Quebre a perna!

quarta-feira, dezembro 14, 2005

A dor que já não dói

Quando voltei para assessoria de imprensa, depois de formada, há dois anos e meio atrás, por mais que me encantasse descobrir o lado desafiante e divertido da coisa, que nem me deixaram passar perto nos estágios, sentia tanta saudade de reportagem, que era de tirar o sono, a fome, o senso, uma dor lancinante sem corte. Parecia que nunca ia passar, me perseguiria até a aposentadoria. Se me falassem que não poderia mais voltar às entrevistas, acho que me jogava da ponte, pois a idéia era insuportável. Era uma espécie de amor bandido.
Atualmente digo que Deus levou esse incômodo embora, com a Mão. Ainda parece mais atraente não ficar só atrás do computador, trabalhar na rua, sem rotina, aprendendo a cada entrevista. É como se as paixões da massagem, da yoga e da acupuntura, despertadas há alguns anos, estivessem em gestação e de repente fizeram "nascer" futuras novas profissões, que se Deus quiser me permitirão horários mais flexíveis, clientes próprios e auxílio ao próximo efetivos a médio prazo. Nesse projeto entram também filhos, que ganharão uma mãe mais zen e menos ansiosa. Não é uma desistência da profissão paixão de infância: ela tinha mais a ver comigo enquanto foi idealizada, romantizada e sonhada. quando conheci como era na prática do dia-a-dia, brochei e não sei onde foi parar a paixão, o tesão e a dor que já não dói da falta da reportagem...