Desabafos de uma jornalista, aspirante a atriz, shiatsuterapeuta e professora de yoga...

terça-feira, abril 11, 2006

As histórias anônimas que me tocam

Essas crônicas estréiam em homenagem às historinhas que conheci mas nunca pude comprovar se são verossímeis

Uma jornalista dessas que sonhou em fazer uma grande reportagem e ganhar um prêmio Esso foi parar numa assessoria de imprensa, por uma dessas ironias da vida que provam que Deus tem senso de humor negro. Mas estava disposta a vencer aquele preconceito, o ranço dos que sonhavam passar longe dessa modalidade de atuação profissional e se manter entre os boêmios, que cobriam de enchentes a eleições. Mal sabia ela que a maior parte da equipe das redações cola e copia – de releases ao material enviado pelas agências de notícias.

À primeira vista, o local não oferecia perigo. Sentou-se, leu um pouco de jornal, fez cara de conteúdo para fazer uma média, quando foi surpreendida pela diretora. Se mostrou cordial. Respirou aliviada. Após poucos minutos, outra funcionária chegou e começou a explicar o trabalho.

Num piscar de olhos a diretora que se revelou: começou a cobrar e pressionar parte da equipe. Seus gritos vieram à tona. A jornalista mezzo realista mezzo sonhadora considerou aquilo um acinte, mas pagou pra ver. A manhã alternou berros do lado de lá com expressões pouco convincentes de “faz de conta que não me importo” de seus colegas de trabalho.

Aquilo tudo começou a cutucar a gastrite de nossa heroína idealista e romântica. Sim, já tinha sido tratada aos trancos e barrancos nas redações, mas quando finalmente cedeu a vir para o lado de cá do balcão imaginou que se livraria desse stress cotidiano. Que o mundo corporativo fosse mais civilizado.

Lembrou-se da amiga que estudou com ela, trabalhava e fazia pós em marketing e jogou tudo para o alto para estudar TV em Londres, dizendo: “já trabalho com o que não sonhei, ainda vou me especializar nisso?” Como tinha razão a colega que afirmava que quem pode mais, se fode menos! Ainda não tinha filhos para sustentar! Deu um sorrisinho irônico, pegou sua bolsinha, saiu dizendo que ia almoçar e... nunca mais foi vista. Como empresas de comunicação e jornalismo não registram seus colaboradores em carteira e não podem portanto publicar anúncios de abandono de emprego, isso tornou-se uma lenda urbana, que termina a gosto do freguês. Parece que a heroína foi vista há pouco tempo, militando como ativista de uma ONG...

Discussão política? Me inclua fora dessa!

É impressionante como a gente muda conforme o tempo passa! Grazie a Dio... Lembro quando o Lula ganhou, era redatora/ locutora de um portal de voz que uma grande empresa de eletro eletrônicos fazia para uma gigante de telecom (não, nem mesmo os famous who? Nos concediam entrevistas)... Na época, fui à “coletiva” do Lula. Aliás foi a última que cobri em meus altos e baixos como repórter. As aspas são justas: não podíamos fazer perguntas, somente ouviríamos o pronunciamento do primeiro presidente que veio “do povo”. Já devia ter sentido algo de podre no Reino da Dinamarca. Um RP que trabalha comigo tem razão: um presidente que se esconde, sabendo que deve satisfação à opinião pública, é de se desconfiar...

Mas não: voltei para a redação feliz e contente: como típica filha de ex metalúrgico que viu o PT nascer com a melhor das boas intenções, dizia para minha amiga companheira de veículo pequeno: “o Lula ganhou, estou trabalhando registrada, me casarei em poucos meses, o que mais posso querer?” Ela ainda tentou alertar: “calma, que as coisas não são bem assim”.

E não eram mesmo. Votamos pela mudança, pelo novo, pelo governo diferente, pela alteração do que não agüentávamos mais. E diga-se de passagem, o PT fez os petistas de carteirinha passarem mó carão nos últimos anos: “olha aí seu sonho afundando, se mostrando tão corrupto quanto os outros”. E quem diria, eu que sempre amei uma discussão política, adorava subir no palanque e fazer panfletagem, hoje saio de fininho, como faziam os alienados que tanto condenei tempos atrás.

Ainda há esperança: vereadores como a Soninha ainda nos dão gosto de votar. Mas vamos e venhamos: são a maioria? Não é o que parece, mas como jornalista sempre costumo dizer que não acredito em tudo que leio, escuto e vejo na mídia, que se parece cada vez mais engajada em provar que são todos farinha do mesmo saco ou que o PT é ainda pior que os outros. No máximo consigo ver um tratamento condescendente com baixaria semelhantes de partidos de direita, sem claro amenizar a culpa no cartório de Lula & cia, concluindo que são todos iguais, mas que os tucanos e afins sabem comprar melhor os meios de comunicação. Ainda assim, como diria uma colega: “desculpe, mas não esperávamos a mesma ética do PFL. Foi um tapa na boca dos que eram do PT desde o começo”. E pensar que sempre assinei com uma estrelinha no lugar do pingo do i e não tenho mais coragem de fazer isso, embora não haja relação consciente entre essa grafia e o partido que sempre apoiei.

Defendo que partidos, organizações não governamentais e igrejas sempre começam com uma boa intenção, mas à medida que crescem, recebem ativistas idealistas e ambiciosos além da conta, então em todos encontramos os que dão orgulho e os que dão vergonha. Nos dias mais inspirados acho que os primeiros são maioria. Em dias deprê, acho que empatam, mais pra evitar jogar a toalha e achar que temos que nos jogar da ponte pois sempre tem saída, sempre pode melhorar. Mas cada vez menos encontro bons exemplos no poder...

Desconfiei quando o PT expulsou Babá e Heloísa Helena. Depois que toda a sujeira veio à tona e que uma das pessoas mais sem senso de noção que já conheci (com um pouco mais de consciência política que uma Barbie - de plástico) se declarou a nova eleitora do "presidente mais autêntico que já tivemos", decidi dar meu voto ao Psol nas próximas eleições. Não quero discutir voto válido, radicalismo e assuntos correlatos. Já me basta ser pé no chão no trabalho, onde passarei a maior parte da minha vida. No poder, ainda me permito ser romântica, sonhadora, idealista e me tocar com frases lidas na Mostra de Economia e Cultura Solidária da Bienal/ SP: “melhor morrer de pé do que viver de joelhos”.

Um amigo repórter de Brasília, mais por dentro dos bastidores políticos que eu, conta que o PT quis manter o mesmo esquema que sustentava a base aliada de antigamente, mas sem contar que um deles se sentiria lesado na negociata e jogaria toda a merda no ventilador. Outra colega, que trabalha com os tucanos mas não é engajada, contou que esse partido achou melhor indicar o picolé de chuchu para concorrer nas urnas eletrônicas pois até para eles é interessante manter o Lula e só daqui 4 anos colocarão um candidato mais carismático. Parece que nosso voto só faz figuração. O meu não! Me incluam fora dessa!


Entre tanta baixaria, cada vez menos encontro gente como minha prima, que acredita que não é o governo mais corrupto, mas o mais investigado. Ela sim, não confia na mídia e me inspira mais confiança que os veículos prostituídos por interesses nada nobres, pois só lê sites independentes. Vá lá, acho interessante dar mais 4 anos de mandato pois um só é muito pouco para mostrar serviço. Se no segundo turno ficar entre a bosta e a merda ainda poderei estudar o caso de manter o meu voto na esquerda. No fim das contas fiquei mais radical que antes Hay que endurecer pero sin perder la ternura jamás...

Família, família janta junto todo dia, nunca perde essa mania!

Sempre digo que amo minha família, mas de vez em nunca e por pouco tempo que é pra não acabar em barraco... Sábado passei o dia com minha mãe – uma fofa, diga-se de passagem, mas claro que terminamos brigando. Ela não dirige, mas teima que paro muito grudado no carro da frente. Ainda tento argumentar:
- Mas e essas motos e pedestres passando na frente? Sinal de que não paro tão perto assim...
Mas é inútil, pois quem raramente põe a mão na massa sempre sabe como palpitar para fazer melhor. Fiquei tão nervosa que o motorista do carro do lado começou a brincar:
- Nossa, como ela é brava!
Depois, quando pedia para fazer minha carteirinha no Sesi para aproveitar as aulas de body balance, tive que ouvir aquele velha lenga-lenga que devia descansar mais, fazer menos coisas... Nisso concordo com o escritor/ cineasta/ diretor de teatro alemão Fassbinder: “quando morrer descansarei”.
- Não é óbvio que se precisasse descansar mais, faria isso?
Não, para ela não é obvio. Sempre dormi menos que a maioria das pessoas comuns (digo isso pois diz a lenda que o irmão da minha amiga que é negro e sempre anda de skate à noite abusando do anjo da guarda parece dormir ainda menos que eu). Minha mãe sempre conta que nunca dormi cedo, ficava até tarde na TV com meu pai e quem tentava me fazer dormir à tarde capotava e eu voltava “acesa” para sala. Por que seria diferente agora, no auge do meu gás?
Mas família não se resume a dar conselhos que não pedimos. São ótimos em previsões – melhores que as ciganas das feirinhas esotéricas que encontramos por aí. E a coisa sempre rola feito fofoca que desce em cascata, efeito dominó - passa por pelo menos três bocas e versões até chegar onde interessa. Quem está dentro da canora furada familiar há décadas já acostumou, mas claro que quem vem de fora não se adapta. E dá-lhe panos quentes...
No quesito “posso dar um pitaco” as famílias sempre competem para ver quem se supera em se meter onde não foi chamado. Uma amigona me deu razão em me manter com o pé atrás com familiares depois que se sentiu na inquisição medieval por assumir que vai morar junto e casar oficialmente só se a grana sobrar. E a parentada aceita?!
Eu confesso: às vezes também distribuo conselhos não solicitados. O mais recente foi mandar um scrap bem intencionado mas pé no chão demais para minha prima aborrescente sonhadora e receber uma mensagem que iniciaria um quebra pau verbal online. Desencanei pois ando com cada vez mais preguiça de bate boca – nunca fui para os finalmentes da briga real e também por comprovar quem tem razão quem diz que a aborrescência é um prolongamento da infância. Todos temos o direito de prorrogar a visão mais realista das coisas. Só sei que primo, tio, avô e afins deviam vir com uma advertência: “aprecie moderadamente”.

sexta-feira, abril 07, 2006

Da Lama ao Lótus

Na semana passada e retrasada me deixei contaminar pelo stress, cobrança e pressão típicas do ambiente de trabalho do jornalismo/ comunicação. Tenho feito isso com menor freqüência que antigamente e quando acontece mexe mais comigo que há um tempão atrás, porque não acho mais que o meu estado normal é o ansioso e admito que esse estado de espírito é sim, uma forma de nervoso.

Mas num desses surtos “vamos fugir”, entrei no blog de uma amiga muito parecida comigo – jornalista, budista, fã de yoga e li uma frase que a Lama Tséring do centro Odsal Ling vive repetindo para despertar em nós a compaixão “May all beings be happy and free from suffering” e foi como se isso me trouxesse de volta aos poucos...

Durante o curso do livro Caminho Alegre da Boa Fortuna (caminho budista à iluminação – ainda não sei se é muita pretensão ou otimismo de minha parte), que faço na Vila Mariana, no centro Kadampa, pela primeira vez fui ouvindo a professora e aplicando tudo aquilo à minha vida cotidiana, admitindo pela primeira vez que os mais abastados também sofrem.

No meio daquela semana uma palavrinha de nada – mais especificamente senhorita – me fez gostar novamente de uma pessoa com a qual convivo oscilando entre o amor e ódio. E no início dessa, surpresa! Um elogio, na frente de todos, de alguém que sempre pareceu impassível e um milagre, que credito à Tara (mãe dos Budas, pra quem pedimos coisas mundanas): uma chuva de matérias do cliente cuja pauta eu não botei fé desde o início. É, cabeça de jornalista é como bumbum de nenê e cuca de juiz, sempre surpreendendo.

As novas frases de cabeceira no meu computador são: “O essencial à vida é invisível aos olhos” e “Não foram eles que me ofenderam/ magoaram, eu é que me ofendi/ magoei” Gandhi. A última expectativa frustrada não gerou revolta, mas recitação de mantra e um pedido nada comum ao meu antigo espírito crítico demais de jornalista: “que eu pare de me julgar a coitadinha e chorar com a barriga cheia”. Evolução, maturidade ou desbundei de vez dos fatores externos pra ser feliz?

Pára o Mundo Que eu Quero Descer

Agora foi! Já subi no bonde e comecei minha mais ambiciosa incursão no universo acadêmico: o técnico de shiatsu e acupuntura que comecei no CBA, na Liberdade. Achei que só a localização da escola já era um bom indício. O único problema é que são dois anos e meio e o técnico mais longo que fiz depois de terminar a Metô foram seis meses. Mas Buda há de ajudar!

Ainda enfrento outro agravante: fiquei mal acostumada com o curso de jornalismo, em que nunca se mata de estudar para nada, mas fazemos trabalhos em grupo até brigarmos com a sala inteira e terminar a facu dando graças a Deus. Conclusão: tive uma overdose de anatomia no fim de semana retrasado e tive MEDA de não decorar todos os músculos, tendões, órgãos e afins! Deviam dar um pau em quem inventou de dividir os ossos das mãos e os pés em zilhares de nomes. Mas já chequei com amigas professorade educação física, bióloga e veterinária e sim, é humanamente possível decorar isso tudo – ainda não sei como e isso me angustia um pouco...

Outro problema de se aventurar pela área da saúde é que nos identificamos com todos os sintomas e sentimos que temos que nos internar amanhã, direto para a UTI. Medicina tradicional chinesa é ainda mais fascinante do que pensava! Mas terminei achando que sou super hiper mega bláster yang – traduzindo: uma concentração aparentemente acima do saudável de calor, movimento, agitação, fala, dia, sol, sono leve, ansiedade... Mas um professor já me consolou dizendo que sou pálida demais para ter yang em excesso e que os casos tipicos são corados além da conta. Alívio... Mas como não sosseguei totalmente, amanhã passarei no ambulatório de acupuntura, para dar uma geral... Quando comecei a fazer em 2004, no auge das cobranças e pressões de uma assessoria americana e sempre às sextas, ficava calma logo após me espetarem. Se funcionou comigo, funciona com qualquer um! Espero levar esse bem estar a mais pessoas – mas a prática só daqui a um ano. Como típica sagitariana, não vejo a hora!

E pra não perder meu péssimo costume, continuo me comparando mais do que devia – com o quanto os outros alunos estão boiando menos. Já entendi como se forma a energia vital, o qi e como se dispõem os cinco elementos (fogo, terra... ) – mas a relação deles com os órgãos, as cores, os sabores, as estações do ano etc e a lógica dos desequilíbrios Frio/ Calor Cheio, Frio/ Calor Falso permanecem uma incógnita. As fichas estão caindo aos poucos, eu sei, mas quem me conhece sabe como me cobro e quero absorver o máximo possível o quanto antes – mas se não entendo não decoro, o que posso fazer? O que sinto é que minha nova praia é interessantíssima! Hoje até expliquei a operação de troca de sexo às minhas colegas de trabalho graças aos professores tudo de bom que tenho – não, isso não tem nada a ver com “medicina alternativa”, mas aí já é outra história...

PAIXÃO BANDIDA: SAMPA!

Devo ser uma das poucas habitantes dessa megalópole que são assumidamente apaixonadas e viciadas pelas suas 1001 atividades. Estou me preparando psicologicamente para minha incursão ao interior amanhã. Nada contra o meio do mato, muito pelo contrário, sou fã dele, mas associado com trekking, tirolesa e rafting – não, nunca fiz, por falta de grana e também porque meus amigos que tem chácara são mais devagar quase parando que a tartaruga que minha sogra deu e minha mãe doou para a nossa faxineira - tudo para se livrar da bronquite, até simpatia!

Nesse finde tenho que visitar um casal de amigos que casou faz mais de um mês e ainda não conheci o cafofo deles. Sei que estou em dívida, afinal, fui madrinha de casamento e não basta ser camarada, tem que comparecer! Mas esse finde tem tanta coisa tudo de bom rolando por aqui que pegarei a estrada amanhã com dor no coração...

Primeiro tem oficina de teatro da Ação Educativa na Vila Buarque. Sim, os palcos continuam minha outra paixão bandida – nunca vão me dar dinheiro, mas é satisfação garantida! Desde que parei com a oficina da Unibero para meter as caras no técnico de shiatsu e acupuntura, claro que estou com mó saudade de me esquecer para viver o outro, o personagem, esse sedutor irrestível...

Esse finde também está rolando o projeto Tela – A rede de cultura do Brasil com arte, educação e economia solidária na Bienal, no Parque do Ibirapuera. Para quem divulga, já escreveu e é voluntária no terceiro setor, não é um programa e tanto? Com entrada franca ainda por cima!

E no domingão, o Espaço Ioga Shiva vai promover uma caminhada com ioga no Parque Villa Lobos, uma atividade que já tinha lido na Folha Equilíbrio (é, às vezes esse jornal dá uma dentro) e estava louca para experimentar mesmo estando o espaço verde a léguas da minha casa – brincadeira, de finde deve ser rápido, mas durante a semana enfrento um trânsito sacal pra trabalhar perto dele...

Meu plano B foi propor ao maridão que finalmente conheçamos o Wet’n’Wild, que é perto da casa nova dos meus compadres. Ele não pareceu muito animado... Vamos ver no que vai dar a tentativa de uma hipomaníaca (versão mais light do hiperativo) ficar à toa dois dias seguidos na prosaica Vinhedo/ Valinhos – sempre confundo ambas...