Desabafos de uma jornalista, aspirante a atriz, shiatsuterapeuta e professora de yoga...

domingo, novembro 27, 2005

Acupuntura, Massagem e Yoga, aí vou eu!

É o quarto ano consecutivo em que meu aniversário se aproxima e tenho a sensação de que estou a anos luz do que sonhei. Mas é a primeira vez em que tomo uma atitude em direção ao que tem a ver comigo - as profissões zen que me encantaram mais adulta. Vi dois filmes recentemente que pincelam minha desilusão profissional: o Hotel Ruanda, em que um repórter se desculpa com o gerente de hotel africano por ter visto as imagens do massacre de seu país enquanto enviava a matéria para a TV em que trabalhava, ouve dele que deve transmitir para que o máximo de pessoas assista, se indigne e faça algo e pergunta: "mas as pessoas vão ver, dizer que horror e continuar jantando. Ainda assim compensa mandar essas imagens?" E no Jardineiro Fiel, em que a mulher idealista, romântica e sonhadora de um embaixador ouve de uma ativista porque é tão difícil lutar contra os laboratórios de remédios que usam africanos como cobaias humanas de remédios: "eles têm grana para contratar assessorias de imprensa e nós trabalhamos com computadores doados e voluntários". Resumo da ópera: é impossível promover uma mudança ou melhora coletiva de qualquer um dos lados do jornalismo. Já no filme Em Meu País mostra o tipo de trabalho que faria com gosto: a cobertura pela mídia local e internacional da Comissão de Verdade e Justiça criada por Mandela para investigar atrocidades cometidas no Apartheid: algo inviável para a mídia brasileira pelo custo, retorno e precarização da profissão, um atual reduto de estudantes e dispostos a tudo por qualquer trocado para incrementar currículo. Mas nada acontece por acaso: minha professora de yoga comentou que sempre voltamos ao primeiro mestre nessa modalidade mezzo esportiva mezzo espitirual e voltamos a estudar juntas. Descobri que ela está ensinando uma aluna a dar aula e me animei, mas brochei ao saber que na linha tibetana são dez anos de formação. Quase caí no canto da sereia de fazer uma formação de professores fast food noutra escola onde já fiz yoga, mas tanto ela quanto um colega que dá esse tipo de aula alertaram que não dá para trabalhar com o corpo alheio num curso tão rápido. Cheguei a um meio termo com a minha mais antiga professora: fazer um ano de curso duas vezes por semana para dar aula de hatha yoga. Massagem me encanta há anos, desde que comecei a fazer teatro e percebi que amava fazer enquanto a maioria só quer receber. A acupuntura me pegou pelo coração depois, quando no auge da minha ansiedade, com um balanço desanimador para 8 anos de profissão, vi que consegui um carro mil com gastrite, prisão de ventre e insônia de brindes, mas descobri um método encantador que me recebia no auge das pressões e cobranças semanais, para depois de receber várias picadas em pontos estratégicos, às vezes com dor e às vezes sem, sentir uma calma com a qual não estava habituada, mas logo me senti em casa naquele estado de espírito. E antes de fazer jornalismo, sempre amei anatomia e genética, acho fascinante estudar pontos que podem por o corpo em equilíbrio. Ainda estou naquela fase de pesquisa de preços e estudos de viabilidade física numa cidade em que cruzar distâncias não é nada fácil, mas só de pensar em ajudar diretamente meus clientes, sem tantos atravessadores no caminho como no jornalismo, é como se estivesse voltando para uma casa nova, inacreditavelmente familiar.

terça-feira, novembro 15, 2005

Homemagem Retardatária à Sampa

Era ainda criança quando cheguei nesta cidade do tamanho de um mundo. Não sabia da missa a metade! Como lembro muito pouco do que vivi “no interior”, ainda que minha cidade natal fique a meia hora de São Paulo, é como se já tivesse nascido na metrópole e hoje não sei viver outra vida que não a cosmopolita, a frenética, desenfreada e sem limites desta capital.
Quase 30 anos vivendo nesta cidade me tornaram uma apaixonada incorrigível, desta que têm um autêntico amor de mulher de malandro. Sofro com trânsito e medo da violência, mas o que posso fazer se não sei viver fora daqui?
Acostumar-se a ter à disposição uma variedade infinita de restaurantes, teatros, cinemas, casas de shows e bares para todos os gostos e bolsos é como droga: vicia mesmo. Posso até não ter cacife hoje para curtir tudo o que a cidade me oferece, mas me conforta saber que um mundo de possibilidades me aguarda. É alimentar a esperança de que ralar todo dia, correr atrás, batalhar ainda me fará chegar lá. Na noitada e na vida.
Amar São Paulo é ter paixão pela diversidade. É ouvir a amiga gaúcha bairrista inveterada perguntar:
- Como tu te sentes numa cidade “invadida”?
E não entender a pergunta por não sentir que é uma cidade invadida. É acreditar que São Paulo é como coração de mãe: sempre cabe mais um, seja baiano, mineiro, gaúcho ou capixaba. É sentir que São Paulo é um mix do Brasil: com toda sua diversidade, mistura e ecletismo. É não conseguir sair daqui por nada neste mundo, nem mesmo ao ser chamada para realizar um sonho profissional que me mataria de saudades saindo desse corre-corre...
Amar São Paulo implica amar todas as raças, cores, credos, sabores, cheiros, paisagens, sons e texturas. É ter amigos italianos, japoneses, cearenses, catarinenses, mato-grossenses e aprender muito com cada um deles. E, de vez em quando, ensinar.
A paixão pela cidade é querer experimentar um pouco de tudo: o preto dos dias cinzentos, o branco do sol a pino, o verde dos parques, o amarelo das luzes acesas à noite, o vermelho do Masp e todas as cores que couberem neste coração sem fronteiras.
Paulistano inveterado é um curioso incorrigível: pode ter sua religião de coração, mas não deixa de sentir vontade de conhecer cada credo encontrado em cada esquina da cidade – inclusive aqueles que mexem com a gente sem que saibamos por quê.
Não saber viver noutra cidade é ter paixão pelo cheiro das árvores do parque do Trianon, é se revoltar com o odor dos rios poluídos, é salivar com o perfume de pão de queijo saindo do forno...
Paulistano da gema não teme o sabor novo e quer cair de boca nos pratos da culinária artesanal italiana, a saudável japonesa, a inconfundível nordestina, a saborosa mineira ou a farta gaúcha.
Viver aqui porque seu coração só te deu essa opção é enxergar a beleza no que não é óbvio. É ver o belo na arquitetura dos desenhos assimétricos da cidade. É amar poesia e visualizar paisagens bonitas ainda que fugazes, como uma árvore entrando na primavera e colorindo uma rua cinza, folhas no chão anunciando o outono ou sol de verão rasgando os vãos dos prédios. É achar que o reflexo do por do sol nos prédios espelhados da Berrini também tem seu charme. É visualizar o bonito além da natureza escancaradamente bela.
Paulistano típico se surpreende positivamente com o som de um pássaro que invade uma tarde cinza, se diverte com os vendedores ambulantes gritando no trem, acha engraçado a criatividade dos feirantes e conversa com alguém que nunca viu na fila de banco ou no ponto de ônibus sem estranhar.
Paulistano de coração se emociona com as estrelas que volta e meia rasgam o céu poluído, com o som dos músicos que deixam o metrô menos frio, com as obras de arte nos corredores de bancos e nas praças.
Quem nasceu aqui ou adotou esta cidade onde criou raízes que não pôde evitar, acredita que São Paulo é um pouco de todo o Brasil, com esta falta de identidade única, com esta cara de colcha de retalhos – uns baianos, uns mineiros, uns gaúchos, uns italianos, uns japoneses... E qualquer diversidade menor que essa, soa como bairrismo provinciano imperdoável. São Paulo é assim: um mundo em cada bairro, um mergulho rápido como um intervalo de metrô em cada cantinho do Brasil. São 450 anos de braços abertos: para todo o país e para o mundo.

Os Artistas Morrem de Terno e Gravata!

Os artistas morrem quando têm que bater cartão. / Os artistas morrem com a rotina. / Os artistas morrem quando precisam enfrentar o morno./ Os artistas morrem com o mais ou menos./ Os artistas morrem quando não conseguem mais sonhar./ Os artistas morrem quando se frustram repetidas vezes./ Os artistas morrem quando as obrigações, necessidades e sobrevivência os afogam./ Os artistas morrem quando sentem que se tornaram repetitivos./ Os artistas morrem quando não conseguem mais se reinventar./ Os artistas morrem quando a paixão se torna memória./ Os artistas morrem quando não têm como liberar serotonina no corpo periodicamente./ Os artistas morrem quando se afastam da cultura redentora./ Os artistas morrem quando não podem se doar como querem./ Os artistas morrem quando deixam de olhar para si mesmos./ Os artistas morrem quando não dão mais cambalhotas./ Os artistas morrem quando se fantasiam de executivos./ Mas como Fênix eles sabem renascer das cinzas./ Quando permitem que a inspiração tome conta, /que a serotonina e a adrenalina virem vícios saudáveis, /quando se esquecem para viver outros, / quando vão ajudar e são ajudados, / quando mergulham em suas sensações e determinações,/ quando viram a mesa e o jogo, ainda que aos 45 minutos do segundo tempo, / ainda que numa velocidade menor que sua alma frenética, / quando descobrem novos sonhos e abandonam a carcaça dos antigos defuntos a que se agarravam... Françaine!

segunda-feira, novembro 14, 2005

Novas Sugestões para Traseiras de Caminhão

Encontrei na loja virtual www.mandala.com.br mensagens que são a minha cara e seriam mais úteis que as cômicas frases de caminhoneiros:

"A vida é um espelho. Não uma janela"

"A vida é um sonho. Acorde!"

"Uma boa ação pode mudar o mundo. Você já fez a sua hoje?"

"A paz começa em você"

"ISTO TAMBÉM VAI PASSAR. TUDO É IMPERMANENTE"

"O PASSADO É MEMÓRIA. O FUTURO, ESPECULAÇÃO"

Os Santos que Fazem Regime e dão aulas para Aborrescentes

Quando comecei a dar aulas voluntárias de redação em cursinho pré vestibular comunitário aumentei significativamente minha admiração por professores de aborrescentes, a ponto de achar que devem ser colocados num altar e canonizados. Fazendo um resumo da ópera, acredito que a letargia desse público brocha qualquer entusiasmo de ensinar.
Atualmente estou tentando perder a gordura localizada na barriga substituindo duas refeições por shakes saudáveis, nutritivos e... doces. Para mim está sendo sofrido pois sou apaixonada por bobagens salgadas e minhas novas refeições balanceadas são... brochantemente doces. Então já viu, tenho delírios com pães de queijo, mantega, fogazza e afins. Imagino que todos os regimes devam ser feitos para apaixonados por... doces. Azar de quem quer emagrecer e ama salgados. Depois disso também acho que quem faz regime deve ser colocado num altar e canonizado, principalmente porque nos primeiros dois dias nos sentimos um refugiado de guerra ou subnutrido da Somália. E quando isso passa, a lombriga do que não se pode comer continua lá, torturante. E dá-le chá de alho para matar a bicha! Ainda hei de ter barriga firme de magra!