Poema Matrix ou de quando a ficha cai

Descobri que a paixão nos iguala qualquer adulto maduro a um aborrescente iniciante
Descobri que a oratória não conta nada na hora em que somos assaltados pelos sentimentos
Descobri que quanto mais nos apegamos a uma pessoa ou situação, mas ela se esvai entre os dedos como areia quente
Descobri que refletimos o que trazemos dentro de nós em tudo o que encontramos e nunca o contrário
Descobri que o intervalo entre um exame médico e o diagnóstico otimista é o mais duradouro, nem mesmo os trabalhos maçantes ou filas intermináveis demoram mais
Descobri que o que me acontece pode ou não me afetar, dependendo do quanto eu me fortalecer internamente
Descobri que o meio termo não é tediante, mas o local exato da felicidade encotrada no caminho do meio
Descobri que até a mais inquieta das pessoas pode se acomodar em situações convenientes
Descobri que a felicidade definitivamente não está no pico da euforia se em seguida ela te atira para o poço fundo da depressão
Descobri que flertar com o precipício da depressão é a maneira mais eficiente de nos deixar à flor da pele e vivendo perigosamente até demais
Descobri que preciso de mais uma três profissões antes de fechar pra balanço
Descobri que minha carreira não pode ser o coração da minha vida
Descobri que cada casal cria sua própria ilusão de problema externo à relação
Descobri que ao contrário do que diz Sartre, o inferno não é o outro, mas nós mesmos
Descobri que se esquecer para viver o outro no palco é o entorpecente mais inebriante que existe
Descobri que a vida só faz sentido quando nos abandonamos para ajudar os outros e recebemos mais do que doamos
Descobri que se virar no avesso na yoga, body balance ou pilates apaga qualquer mágoa prévia
Descobri que esperar a vida inteira pra fazer as pazes com Deus ainda que através de Buda é como voltar para uma casa nova inacreditavelmente familiar
Descobri que filmes, peças, livros e músicas que te tocam sempre valem a pena
Descobri que quando a situação foge ao controle, devemos deixar o coração nos guiar
Descobri que os amigos não se omitem quando estamos agindo contra nós mesmas
Descobri que cantar espanta qualquer esboço de tristeza
Descobri que se a realidade é uma projeção da minha mente, posso destruir tudo e projetar novamente ao meu bel prazer
Descobri que as surpresas mais bacanas vêm das pessoas e situações que você menos espera
Descobri que uma pessoa de coração aberto compensa todos os sacanas que encontramos pelo caminho
Descobri que a forma mais leve, ainda que não seja a mais sensata de levar o dia-a-dia é rir da nossa própria desgraça
Descobri que o conselho mais sábio que já recebi foi do meu cabeleireiro: “não tenha juízo e se tiver, não use”
Descobri que tudo o que tenho na vida é esse minuto... esse... esse... esse...

“Se quiser fazer Deus rir, conte a Ele seus planos”

Não sei que área da minha vida faz mais jus a essa frase do filme Amores Perros, se é a profissional ou amorosa. Só sei que quando penso que sei todas as respostas, a vida vem e muda todas as perguntas. Desculpe, mas dessa vez não pude fugir ao clichê. Aliás, existe vida no jornalismo pra além do lugar-comum?

Acredito que se temos real compreensão da impermanência, simplificada por Lulu Santos em seu clássico “tudo muda o tempo todo no mundo”, não casamos. Pausa para rir. Sempre existe implícita ou explicitamente a ilusão de que tudo continuará como antes, pois a paixão nos deixa com os óculos muito embaçados. Isso não quer dizer que a mudança não seja boa. É um ótimo exercício de paciência, tolerância, desarmar o orgulho e praticar a negociação! E melhorar em qualquer desses itens, vamos e venhamos, faz bem a qualquer prática religiosa ou ética. Nos torna pessoas melhores. Imagine se todos continuássemos recebendo todas as coisas prontas da mamãe até a terceira idade! Seríamos insuportáveis e não conseguiríamos nos tolerar!

E todas aquelas certezas absolutas formadas durante a aborrescência (que graças a Deus, assim como TPM e plantão, terminam), que só te servem para apontar, ainda que em sonho, o dedo no nariz daqueles que amamos, vomitando soluções prontas para situações que nunca vivemos? Essas servem para mostrar a dinâmica da vida: como é maravilhoso mudar de idéia, ligar para aqueles que amamos, contar que sabíamos o que eles não sonhavam e pedir desculpas pois a experiência fez com que não julgássemos mais, nem pensássemos da mesma forma encarcerada em padrões e culpas ancestrais.

Mas o mais surpreendente mesmo é jurar que agiremos de uma determinada forma numa situação e quando passamos por ela, fazemos o oposto. Isso só comprova minha teoria de que estar no poder é como casar: o discurso é um e a prática outra. Minha amiga globalizada sem fronteiras nem raízes como as que me aprisionam a essa terra tupiniquim tem razão: nada causa mais horror que a generalização. Sinal de maturidade, assim espero.

No profissional, a definição certa é tragicomédia: quando tudo indica é hora de sossegar, novidades nos viram do avesso, de ponta-cabeça e obrigam a começar de novo, rever os conceitos, mudar de idéia, redirecionar a rota, alterar os planos, trocar os sonhos, fazer upgrade nas expectativas. De repente, o que parecia tão atraente já não tem mais atrativo algum, ao contrário, causa arrepios e vontade de sair correndo. Que sonho foi esse que se revelou tão diametralmente o oposto do esperado?

Nunca desistimos dos nossos sonhos. Mas, grazie a Dio, mudamos! E eles acompanham nossas novas formas de ver a vida, encarar as pessoas, projetar o futuro, batalhar pelo nosso espaço e correr atrás do que realmente vale a pena. Veríssimo tem razão: “não confunda sua carreira com a sua vida”. E anos depois de vislumbrar um futuro workaholic para mim, me pego respondendo numa pesquisa de perfil de leitor duma famosa editora que questiona quais meus sonhos: “crescer espiritualmente”. A grande meta agora é tornar minha felicidade independente dos fatores externos. E rumo ao caminho do meio, agora e sempre!