Desabafos de uma jornalista, aspirante a atriz, shiatsuterapeuta e professora de yoga...

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Para quem já foi poeta, a vida é brochante!

Desculpe a franqueza, mas como uma irmã de coração detectou na minha primeira vacilada, não consigo lidar com o morno, o mais ou menos, o meio termo, o copo na metade, aquela maior parte da vida, que não é nem péssima e nem ótima. E olha que nem escrevo mais poesia, mas apesar de ser proletária, (in)felizmente mantenho a alta de artista!

Os otimistas incorrigíveis dirão que sou libertária, um espírito livre, contestador, rebelde e que nós promovemos mudanças em situações inaceitáveis. Uma vez na vida e outra na morte até me sinto assim. Mas em tempos e numa profissão de muita reclamação e pouca ação, poucas vezes a revolta se traduz em alterações efetivas.

Quem vê o pior lado da coisa, diria que sou uma revoltada sem causa, que mais discursa que age. Isso não se aplica mais a mim, pois ando tão consciente que não lidar com a rotina em que tudo inevitavelmente acaba é tão incomum que procuro nem demonstrar o quanto questiono e não aceito facilmente as coisas. Ficar na minha mesmo, pois já senti que sou a exceção e não a regra.

Eu, que ando vendo o lado bom e ruim de tudo ultimamente e ficando meio no muro de que nada é somente péssimo e nem ótimo, sofro pois queria mesmo era ter naturalmente contentamento. Acredito que há os que nascem com isso e os que apanham a vida inteira para aceitar mais, contestar menos e não parecer “reclamona” aos mais distantes.

Pode ser que outros rebeldes se orgulhem de sua posição. Todo contestador nasceu de um romântico, sonhador e idealista. Bem, para quem já escreveu poesias e livros – ainda inéditos – na maior parte das vezes a vida deixa a desejar. Um resquício de sonhadora que ainda habita em mim “viaja” que estaria em casa se estivesse profissionalmente nos palcos. Nada como se esquecer para viver o outro atuando... Mas minhas amigas atrizes profissionais dizem que há rotina nos ensaios e a falta de regularidade nas finanças detona qualquer animação. Na relações nem me abalo mais, pois é só reunir vários casais, como no último fim de semana para ver somos parecidos nas reclamações e revoltas depois de vários anos juntos e até as lavagens de roupa suja mútua se tornam divertidas. Estamos todos fadados ao morno, em tudo, sempre?

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Suicida

Nosso amor é kamikaze
flerta com o abismo
se equilibra no fio da navalha
quase se atira do trapézio
sem estar certo de ser amortecido pela cama elástica
Esse amor atravessa a rua
e esquece de olhar para os lados
Vira à direita e à esquerda
e nem se lembra de dar a seta
É do tipo que mergulha
sem conhecer a profundidade
Vai para a maratona sem se alongar
Se entrega antes e pensa depois
Atravessa uma frágil ponte
entre um precipício e outro
e pela primeira vez tem medo
pois sente que pode despencar
que é vulnerável às chuvas e trovoadas
Mas é tarde para voltar atrás
Francine Brandão