Desabafos de uma jornalista, aspirante a atriz, shiatsuterapeuta e professora de yoga...

segunda-feira, julho 25, 2005

Órfãos do PT

Meu psicólogo diz que todo ateu é um órfão de Deus. Me vejo em situação semelhante com relação às convicções partidárias. Os "vermelhos" de longa data estamos todos nos sentindo meio órfãos do PT. Nunca imaginamos que um dia ouvíriamos dos tucanos e pefelistas: "o seu partido, heim, está me saindo igual/ pior que os outros". O que dizer nessa hora? Que éramos românticos, sonhadores e idealistas? Que tínhamos um sonho meio guevariano de construir nossa Sierra Maestra contemporânea? E olha que como jornalista não sou ingênua o suficiente para acreditar no exagero com que a imprensa pinta cada escorregadela daquele que foi meu partido de coração por anos. Claro que foram mais condescendentes com as denúncias envolvendo os tucanos, muito provavelmente pq os adeptos do muro de carteirinha sabiam comprar melhor a mídia. Aposto como na hora em que o BNDES liberar um pró mídia para as empresas de comunicação/ jornalismo que devem mais do que valem há anos, o discurso muda. Claro que o PT deve ter alguma culpa no cartório, no máximo igual aos partidos anteriores. Ainda sinto nele uma diferença em relação aos outros, quando vejo aquelas propaganda em que vêma público dizer que repudiam tais atitudes, que também querem apuração e punição dos responsáveis. Alguém se lembra do povo do Maluf ou afins fazer o mesmo em denúncias semelhantes? É ruim heim! Mas sobre tudo isso e até a queda da Daslu, falou muito melhor o grande Mino Carta, na matéria da semana passada da Carta Capital, mais confiável a essa altura do campeonato: http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=2459 Como filha de sindicalista que viu as greves e o PT pintando no horizonte do ABC há anos, nunca me senti tão desamparada. O que fazer nas próximas eleições? Partir para o PSTU? PV? PC do B? Pela primeira vez na vida, entendo e quase concordo quando ouço que os políticos são todos iguais, que o país não tem jeito por causa da bandalheira partidária e que a melhor saída é o aeroporto. Párem o mundo que eu quero descer!

Mico típico de descompensada

O que pode ser mais constrangedor que a hora em que um desequilibrado sai de sua sessão com o psicólogo e encontra outro chegando? Sorrisos amarelos... Não passo mais mico semelhante chegando mais cedo e puxando papo na sala de espera, que já aprendi a chegar em cima da hora. Pior que isso só cruzar com outro doido esperando ou saindo do psiquiatra ou trombar alguém no auge do desespero esperando ou saindo de uma clínica de aborto. Sou exagerada, eu sei. Mas o que pode ser pior que sala de espera ou entra-e-sai de pessoas aparentemente normais?

Mezzo zen e mezzo cênica

Finalmente entendi a 21a meditação do manual que comprei no Centro Kadampa de Budismo Tibetano na Vila Mariana, que fala sobre vacuidade. Mas foi no centro da Móoca que tive esse insight. Como na terapia, a professora que fez pensar de uma forma diferente, infinitamente mais simples. E a gente se pergunta: "é só isso? Como ñ enxerguei dessa forma antes?" Acabei expressando isso numa contribuição ao texto da peça Em busca do tempo do nada que vamos encenar com o grupo Espetaculosos. Vamos ver se a fala vem para meu personagem ou outro. De qualquer forma, como foi a iluminação mais recente que tive, senti vontade de compartilhar com meus queridos leitores: "Sempre dizem que o amor é um sonho. Mas quando sonhamos é tudo tão real, as pessoas, os lugares, as sensações, tudo parece sólido e eterno. Quando acordamos, vemos que era efêmero e fugaz... Há quem diga que não há diferença entre o sonho e a vigília. Quem pode garantir que o que vemos, sentimos, vivemos, tocamos, pensamos e fazemos é permanente e duradouro? Pode durar mais que um sonho, mas também se desfaz... Quando menos esperamos..."

Fora da cultura não há salvação... nem revolução!

Há dois anos sentia uma saudade absurda do teatro. É que depois de casar e as contas tomarem o poder do meu saldo bancário, não sobra para extravagâncias além das obrigações, necessidades e sobrevivência. E com isso a vidinha vai virando um repeteco monótono... Mas grazie a Dio e com a ajuda abençoada da namorada tagarela do amigo mais zen da face da terra, o Coelho, encontrei um grupo de teatro que aceita jornalistas duros, o Espetaculosos da Companhia Extra, do Paulo Kazaks. O sábado retrasado foi só esporro e a descoberta que os problemas dos grupos de teatro são os mesmos, não importa onde e em que época: falta de dedicação, comprometimento, envolvimento... Mas nem isso me desanimou pq visitamos um casarão de sonho na Aclimação ou Liberdade e me encantei com a idéia de me apresentar num lugar não convencional e em uma peça que faz o público andar. Na semana passada perdi pela segunda vez no ano o trabalho e estava com aquela sensação de que não tinha mais o que inventar, já tinha enviado currículo para todas as associadas da Aberje, Abracom, Gife e Ethos e até para revistas atrás de freela. Além de sentir que esperar é uma penitência. Mas no sábado o teatro foi minha redenção. O Paulo trouxe metade do texto da peça, ganhei uma personagem que por enquanto está só com uma fala, mas contei p/ eles que me apesar da deprê de ñ ter $, não ter trabalho, EU TENHO O TEATRO! E saí de lá cheia de idéias de possíveis buscas e possibilidades de trabalho. Só a cultura para nos fazer enxergar para além do que somos, nossa melhor parte, capacidades e dons que não sabíamos que tínhamos. Antes do PT fazer a gente passar esse vexame, acreditava que as boas intenções de um partido podiam mudar e melhorar uma nação. Ainda acho que políticos são todos iguais, mas alguns são mais iguais que os outros. Mas a única revolução mais ampliada que me move é a cultura. Só o teatro, a dança, a música ou as artes plásticam podem por exemplo revolucionar não digo uma nação, mas uma comunidade carente. Dar um sentido a crianças e jovens que encontrarão um valor na vida e não se arriscarão a enriquecer rápido pelo crime mas morrer antes da maioridade. E no final das contas o mais líquido e certo que podemos fazer pela rua, pelo bairro, pela cidade, pelo estado e pelo país é o que espíritas chamam de reforma íntima, católicos de vivenciar o cristianismo e nós budistas de meditação. O máximo que podemos fazer pelo mundo é evoluir espiritual e pessoalmente. Além de trabalhos voluntários, lógico! A gente tem mais é que se agarrar às artes como bote salva vidas e última possibilidade de redenção nesse mundo maluco. Não por acaso, o chaveiro do meu carro é composto pelas máscaras do riso e do choro do palco.

quarta-feira, julho 06, 2005

Reiventar a vida com borboletas

Perguntei ao meu namorido se ele acha que a vida não tem sentido ou se nunca parou para pensar nisso e invejei quando ele confessou que não pára para refletir sobre a parte negativa da coisa, só se concentra na positiva. Ando numa fase intermediária entre achar que a vida não tem pé e nem cabeça - não pode ser que seja mesmo só obrigações, necessidades e sobrevivência e de vez em quando encontrar o que há de positivo nisso tudo.
Quando percebo que minhas vidas profissional e amorosa não são o que sonhei, concordo com os budistas: ela é sofrimento. Pô, nem o Lula é o que esperava! Tudo isso é mais difícil do que bom! Será possível que quando vejo as pessoas falarem ou escreverem que são apaixonadas pela vida seja a mesma vidinha no piloto automático, do tipo linha de produção, praticamente feita em forminhas pré definidas com que me deparo todo dia? Essa rotina de resolver problemas e de vez em quando ter momentos de respiro bons?
Ok, ok. Admito que minha relação com o cachorro, com o budismo, o trabalho voluntário e alguns amigos me saem "melhor que a encomenda" sempre. Mas tenho uma tendência, não sei se depressiva ou niilista, de achar que tudo na maior parte do tempo não tem sentido.
Acho que o grande problema é que já fui poeta. E para quem já se viciou em estrofes e no lado subjetivo da coisa, a maior parte da vida é tão pouco, tão mecânica, tão broxante... Calma gente, tenho quase certeza que quando voltar a fazer exercícios para manter a ansiedade sob controle e principalmente ao teatro, essa sensação "so boring" deve ir embora.
"Não aguento mais ser uma pessoa que aperta botões, acorda cedo, compra pão às seis da tarde... Perdoai. Mas desejo ser outros. É preciso reinventar o homem com borboletas" Manoel de Barros
I´m sorry, ainda não encontrei minhas borboletas.

Atriz, terapeuta natural ou mestre de comunicação e professora?

O rumo da minha vida profissional nunca esteve tão confuso. Apesar de ser jornalista e trabalhar como assessora de imprensa estou naquela fase em que "não sei se caso ou compro uma bicicleta". Não sei se volto a estudar teatro, dessa vez para tirar o DRT de atriz, pq já que não consegui trabalhar nas áreas de vídeo, rádio e TV que tanto estudei, me tornei uma colecionadora compulsiva de DRTs. Estou na mesma sinuca de bico em que me encontrei com meu namorido quando começamos a pesquisar apartamentos: quando passávamos na burocracia do financiamento, não conseguíamos pagar a prestação, se conseguíamos pagar a prestação, não passávamos na burocracia do financiamento. Pois bem, em relação ao teatro, quando consigo pagar a mensalidade, não consigo chegar na hora em que as aulas começam, se o horário é flexível, os preços são impraticáveis. Afinal, não é um curso como o jornalismo, em que sempre chegamos atrasados mas convencemos o professor de que não conseguimos sair na hora das redações e assessorias. É uma pena que só tenha descoberto o teatro quando o jornalismo já me sustentava, o que impediu a troca de um pelo outro... E ainda por cima admito que como atriz sou uma ótima jornalista: nas minhas últimas apresentações feitas em oficinas livres, quando tomei essa consciência, tinha meia dúzia de falas em cena e páginas e mais páginas de textos meus.
Outra paixão, essa mais recente, é fazer um curso técnico ou livre de naturopatia. Quando me decepcionava mil vezes ao dia com a profissão e pensava que tinha que ter uma atividade mais humana, logo imaginava que seria uma boa médica ou enfermeira de tanto que adorava genética e anatomia. Mas se a apendicite serviu para alguma coisa, foi para mostrar que não poderia atuar na área da saúde: teria dó de aplicar injeções, furar veias para por o soro e provavelmente choraria junto com a dor do paciente, que paralisaria meu trabalho por completo. Me apaixonei pela acupuntura e seus efeitos, mas me decepcionei quando meu médico disse que teria que fazer medicina para trabalhar com isso. A perspectiva de "me formar" no cursinho primeiro e depois encarar uma faculdade interminável para na melhor das hipóteses começar a ter retorno do investimento em 10 anos já cortou meu barato logo de cara. Mas foi esse médico que me indicou o curso de naturopatia, que abrange massagem, reflexologia, auricurologia, acupuntura, florais de Bach... Trabalharia com terapias alternativas e prevenção. O problema é que, como no jornalismo, não me aprofundaria em nada. E nesse caso há dois cursos: um impagável e outro que dá para encarar... Só preciso descobrir se o que não é uma facada, é um curso cobaia ou do tipo talibã...
A última possibilidade que me deixa nessa indecisão é dar um tiro de misericórdia no jornalismo e fazer mestrado em comunicação comunitária, partindo para a carreira acadêmica. Já dei aula de inglês, de incentivo à leitura e ainda dou voluntariamente de redação. Amo dar aula! O que queria mesmo era fazer educação artística e rolar no chão com a criançada. Mas comparando os salários dos professores e dos jornalistas, sou obrigada a ficar do lado de cá. Já fiz entrevistas em duas faculdades, que se interessaram pela minha experiência mas reclamaram que o MEC engessou as faculdades de comunicação exigindo mestrado ou doutorado. E os melhores professores que tive não passavam nem perto de serem mestres ou doutores. Mas enfim, se conseguir fazer minha tese sobre a Rádio Heliópolis (o Super Pé tem razão: devia ser antropóloga/ socióloga - adoro entrar em contato e entender mais sobre a pobreza)... Isso sim seria a glória! A pedra no caminho é que se for me tornar mestre em faculdades/ universidades particulares vou à falência. Não dá para viver de bolsa de estudos depois que a gente casa e uma avalanche de contas toma o poder do nosso saldo bancário. Poderia fazer na USP mas dizem que só tem em horário de desocupado: à tarde, de manhã... E como na última vez em que pedi flexibilidade de horário para fazer uma pós de graça nas manhãs nessa universidade pública me mandaram embora, imagine o trauma em pedir para estudar no horário comercial que tenho agora... Viro atriz de vez, terapeuta natural ou mestre em comunicação? Infelizmente desconfio que a decisão acabará sendo tomada quando avaliar o que caberá no meu bolso... É como digo: quem pode mais sempre se F menos!